Falo incansavelmente da falta de justiça e punição em terras tupiniquins, do quanto nossos direitos humanos foram mais do que minados, foram massacrados ultimamente. Mas aparentemente nós não somos exclusividade no assunto.

Não faz muito tempo que saiu na mídia ao redor do mundo a história da turista suíça que foi estuprada e roubada por cerca de seis homens na índia; também não faz tanto tempo assim a história daquela estudante indiana que foi brutalmente estuprada em Nova Déli e acabou falecendo aos 23 anos.

Em ambas as situações, lembro-me claramente de ter elogiado a mídia norte-americana, principalmente a rede CNN, pela cobertura dos fatos e, principalmente, pela pressão que fazia em cima das autoridades indianas para a resolução dos casos e punição dos envolvidos.

Enquanto isso, Savannah Dietrich (foto), uma garota de dezessete anos, natural de Kentucky, região sudeste dos Estados Unidos, foi vítima de (e por motivos legais eu preciso usar este termo) agressão sexual cometida por dois rapazes da mesma idade, Will Frey e Austin Zehnder.

Eles estavam numa festa e a garota, inconsciente por causa da bebida, foi agredida por estes rapazes. Porém a agressão não foi considerada estupro, porque a penetração feita na guria não foi com órgãos genitais, mas com os dedos das mãos dos dois rapazes.

Como se não pudesse ficar mais absurdo, a menina é proibida por lei de falar sobre o assunto e eles só precisaram cumprir 50 horas de trabalho comunitário.

Ainda nos Estados Unidos, mas desta vez em Ohio, região centro-oeste do país, surgiu o mais absurdo dos casos. Em Steubenville, dois garotos, Trent Mays (17, esquerda) e Ma’lik Richmond (16, direita), foram condenados por estuprar (neste caso eu posso usar o termo correto) uma garota após ela desmaiar por causa de bebida. Estes dois rapazes são estrelas do time juvenil de futebol americano da cidade em questão.

Apesar de serem estupradores confessos e Ma’lik ter distribuído o vídeo da agressão pela Internet (que aliás é nojento e eu não tive estômago para assistir até o fim), a mídia norte-americana parece ter ignorado o fato e demonstrado mais compaixão aos estupradores do que a própria vítima.

A situação foi tão surreal que uma repórter da CNN, aquela mesma rede que eu tanto elogiei nos casos na Índia, lamentou que os jovens com carreiras tão promissoras no futebol americano foram impedidos de continuar com suas vidas que foram destroçadas depois do julgamento. Ok, mas e a vítima?

A CNN não está sozinha, a cobertura da CBS News e Fox News (é lógico, né) também foi nojenta e machista, não demonstrando um terço da compaixão pela vítima que demonstrou pelos estupradores.

Aparentemente, parece que agora nós mulheres teremos que ser educadas para não sermos vítimas de estupro, e não educar nossos filhos para que eles não sejam os estupradores.

Não importa se a vítima está acordada, se está desacordada, se está bêbada, se está sóbria, NÃO É NÃO, ESTUPRO É ESTUPRO e pronto.

O pior de tudo é que, em todos estes casos, não importa quanto tempo os condenados fiquem presos ou, no caso de Kentucky, paguem sua dívida fazendo trabalhos para sociedade, quem vai ter uma sentença perpétua ainda é a vítima.

(Aliás, se vocês estão se perguntando qual foi a tão horrorosa punição dos garotos de Ohio, os dois foram condenados a um ano de prisão por estuprar e expor uma menina que estava desacordada. Para mais informações sobre o caso, recomendo o vídeo feito pelo Sex+)