Anima Mundi e hipnose

Você está visualizando atualmente Anima Mundi e hipnose

Acho que vocês perceberam uma outra matéria que tinha Anima Mundi no título há alguns dias. Que dizia que esse festival de animação reúne todo ano milhares de espectadores. Todavia, porém, entretanto, é na verdade, mais que isso. O Anima Mundi reúne visitantes!

Não queira ser um adulto chato, ou pior, pré ou pós-adolescente que desdenha de massinha, zootrópio e tudo quanto é técnica capaz de dar vida a sonhos e pesadelos sem precisar de varinha de condão.

2013-634441665-2013080359691.jpg_20130803

Repito, não queira, porque você estará perdendo uma chance daquelas de rir um bocado, de se emocionar, e de se divertir pra valer, pra ficarmos só nos chavões que exprimem sentimentos fofinhos. Há tantas oficinas gratuitas de animação sendo graciosamente oferecidas, e ainda assim tantas pessoas interessadas em modelar areia, em fazer poses sucessivas para a câmera e em desenhar na película.

Animei você? Então partiu Anima Mundi! Do ano que vem, oras, que o deste ano já acabou. Digo, fisicamente. Afinal, minha intenção, se você ainda não se tocou, é simplesmente a de te levar para passear, através dessas parcas linhas, pela Fundição Progresso, onde rolou a desse ano, após 20 anos ocupando o Centro Cultural Banco do Brasil.

Vou te dizer, o CCBB era a casa do festival, mas a Fundição tem um jeitão de Fantástica Fábrica de Chocolate, com todo aquele metal colorido, aspecto fabril e gigantismo. E a decoração ajudou muito a criar um clima divertido. Nota mil para a iluminação, que até na principal sala de exibição mostrou a que veio, com um azul estroboscópico delirante.

24102

Na tal sala curti sem eira nem feicebuque a sessão Curtas  4, da qual destaco três pérolas:

A primeira = Panade Sur le Green, ou Problemas no Verde, uma acelerada e ágil produção francesa na qual um torneio anual de minigolfe é atrapalhado nada mais nada menos pelo fim do mundo. É irresistível e imperdível, e não digo isso pra te torturar. Você inclusive pode conferir o apurado visual dele no You Tube:

A segunda = Fibonaccijev Kruh, isto é, o Pão de Fibonacci, uma animação simples na forma, em que desenhos se sucedem (lógico, é uma animação), porém o movimento não está neles, mas na passagem entre eles, que se dá como num contínuo rascunhar de um ilustrador, sobrepondo os traços belíssimos e rebuscados de Danijel Zezelj. O trabalho do cara é virtuoso, e você consegue babar em várias obras dele aqui:

A terceira = Last, but not least, temos mais um France no top 3: In-between, ou Entre, no qual uma moça é perseguida por um crocodilo azul que representa sua timidez, a qual tentará se livrar para conhecer seu belo vizinho.

Bah!, esqueça isso de timidez, embora realmente faça sentido! Concentre-se no anfíbio que só vocês dois veem, no crocodilo mais fofo da última semana, igualmente bravo e inofensivo, quase um Stitch com a língua cortada, e sorria-sorria-e-sorria em

A sala principal era paga, mas havia outras gratuitas, e numa delas assisti à sessão Olho Neles!, de novas produções que contribuem para a diversidade de técnicas e propostas na animação nacional.

355709776_640

Porém, foi uma instalação envolvendo – adivinha? – animação que chamou mais a minha atenção, e eventualmente a de todo mundo, entretanto, não o tempo todo. Explico: a instalação era composta de uma TV enorme, na qual você poderia desconfiar estar passando uma animação 3D. Desconfiando, sim, pois parecia que nada acontecia no cenário de um condomínio de casas no qual diferentes animais conviviam em harmonia.

Prestando atenção, seria possível notar que os animais, em suas casas ou fora delas, tocavam suas vidas, lendo, fumando, varrendo etc, tudo como se estivesse sendo registrado por uma única câmera estática, sem cortes. Daí, uma tempestade irrompe, e os bichos não parecem surpresos pela inundação iminente: Alguns deixam o local de carro, outros continuam brincando enquanto a água sobe, e uns sobem no barco estrategicamente estacionado no quintal da casa dos patos.

Os ponteiros dos segundos dão algumas voltas e a chuva pára, a inundação cede, e tudo volta ao normal, embora o próximo alagamento seja apenas questão de tempo, estando mais próximo do que  poderíamos imaginar. Confira:

O autor dessa pequena peça de arte é Maarten Isaak de Heer, que chama o que faz de pintura animada. Paciência é uma virtude que se pede de quem contempla sua obra, que, na verdade, por ser cíclica, pode ser apreciada por quem a observa por apenas um momento, e depois volta para fazer isso novamente, ao passar pelo local. A obra dura 17 minutos, e repete-se em loop. É isso aí, os bichos estão presos com Bill Murray no Dia da Marmota.

Gostou da experiência? Então reserve um neurônio, podendo ser o Tico ou o Teco e faça-o recordar que o festival acontece por volta das férias escolares do meio do ano, ou use um daqueles aplicativos que te fazem lembrar de compromissos, algo que analogicamente conhecíamos no século passado como agenda, feito para gastar canetas esferográficas, do tipo que você já utilizou para fazer bonecos de palitinho em diversas posições em algum caderno velho, só pra ver o raio do bonequinho correndo.

Pronto. Agora seu neurônio está programado. A gente se vê no Anima Mundi do ano que vem. Por favor, não leve isso ao pé da letra se você for um stalker.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

Deixe um comentário