Birdman – Ou a esperada arrogância dos cinéfilos

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Desde que me lembro capaz de argumentar, eu sou um hater. E falo isso pelo que me falam. Eu basicamente odeio tudo que é feito, segundo quem me conhece. Essa afirmação é contestada por mim ao afirmar apenas que eu sou muito crítico e argumento quando não gosto de algo, já que a figura de um hater se constitui por odiar cegamente sem fundamento algum.

Não me excluo aqui de ser um hater. Odeio muita coisa apenas pelo esporte de odiar. Coisas como lars Von Trier (apesar de achar os filmes dele um bom motivo pra odiá-lo), gente que posta textão no facebook e a hashtag #partiu.

Tendo isso em mente #partiu mais um texto longo sobre cinema.

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Eu gostei de Birdman, juro que gostei, não se deixem enganar pelas minhas reclamações que virão, é um bom filme e você deveria ir ver assim que tiver a oportunidade. O que me incomoda, como em quase tudo na vida, é a reação exacerbada, os regozijos e o orgasmo na calça de todos que adoram a “arte”.

Para compreender melhor isso é bom analisar o filme do homem pássaro e ver que a obra é tão boa a ponto de criticar quem a defende. Temos um ator outrora famoso por papéis de super-herói, inteligentemente interpretado por Michael Keaton, que agora busca a glória no teatro da Broadway. Contestado pelos “entendedores” da arte, o personagem segue em uma luta por aceitação em um meio ao qual nunca pertenceu, o das críticas de teatro e da “verdadeira arte”.

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Ao mesmo tempo em que critica pesadamente os filmes de super-herói (que viraram o saco de pancada da crítica especializada ou dos que sentem falta dos “filmes de verdade” em Hollywood), Birdman também bate no mundo em que está envolvido. A crítica de jornal que promete não elogiá-lo por ser um ator de blockbuster é a mesma que cai nos encantos pelo personagem de Edward Norton apenas por ele ser um ator verdadeiro de teatro.

A tão falada verdadeira arte é um mundo hermeticamente lacrado onde o sucesso financeiro e o fato de agradar as massas não são permitidos. Popularidade é um câncer nesse mundo regado à diálogos sobre grandes autores ou sobre a última exposição que passou pelo Moma.

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Ao vencer o Oscar, o filme de Alejandro González Iñárritu se tornou o favorito da academia, a mesma que erra ao nunca ter dado prêmio aos “artistas de verdade” como Kubrick, e que erra também ao presentear o popular, como foi o caso da premiação na edição de 1999, quando até Roberto Benigni, o Didi Mocó da Itália, ganhou prêmio pelo chatíssimo a Vida é Bela.

Birdman ganhar o prêmio principal da noite não é algo injusto, como foi Shakespeare Apaixonado (maldito seja 1999!), mas os motivos pelo qual ganhou são tão supérfluos e mesquinhos que tiram o merecimento da boa obra que é.

Ganhou o filme que falou sobre a arte, pois a arte é tão insegura que precisa de cada vez mais pessoas enaltecendo-a para que ela se sinta bem. Ganhou o filme que “não teve cortes”, já que sabemos que aquilo foi apenas um truque muito inteligente. Ganhou o filme que falou do teatro, que criticou redes sociais, que falou mal dos iphones e flashes de celular. Ganhou o filme que massageou o ego de toda uma alcateia de críticos ansiosos por falar que a indústria ainda pode ter salvação apesar de todos os blockbusters que lança. Ganhou o filme que criticou quem o exaltou e foi burro demais pra perceber isso.

Eu gostei pra caralho de Birdman…

Este post tem um comentário

  1. Rodrigo Sava

    “Eu gostei de Birdman, juro que gostei, não se deixem enganar pelas minhas reclamações que virão, é um bom filme e você deveria ir ver assim que tiver a oportunidade”. Entendi, Roberto! Suas reclamações foram contra as reações ao filme, não ao mesmo! Whatever, também me amarrei em Birdman e curti à beça sua opinião sobre a arte.

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