Iluminamos – Black Mirror: S04E02 – Arkangel

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Segundo episódio desta quarta temporada, dirigido por Jodie Foster, que recentemente criticou o cenário hollywoodiano e seus filmes de super-herói. Agora sim! Esse foi um episódio com a cara de Black Mirror! O texto contém spoilers. Leia por sua conta e risco!

Apesar de o primeiro episódio —que já falamos dele aqui— ter seu lado “cabeça” e uma crítica interessante, ele se foca tanto na parte da sátira à Star Trek que me tirou um pouco do ambiente mais mundano de Black Mirror.

Aqui em Arkangel, você termina o episódio inquieto com a possibilidade da tecnologia apresentada na trama existir na vida real algum dia. Eu fiquei por uns bons minutos discutindo com minha namorada as vantagens e desvantagens deste aplicativo existir de fato. ISSO é Black Mirror! Eu quero assistir aos episódios e me sentir um lixo ou ficar desesperado com os rumos da tecnologia.

Arkangel

O episódio começa numa mesa de parto. A mãe dá a luz ao bebê e fica aflita com os médicos cercando a criança. Uma pequena amostra da personalidade superprotetora da personagem. Pulamos para a história com a bebê Sara, agora um pouco maior, talvez com uns 3 ou 4 anos. Outra vez sua mãe, Marie, tem um motivo para surtar: Sara desaparece durante um passeio no parque, mas tudo logo se resolve de forma positiva.

Pensando em evitar tais preocupações novamente, a mãe de Sara a leva para ser cobaia de um projeto tecnológico da empresa Arkangel. Eles desenvolveram um app que se conecta a um implante feito na cabeça da criança, possibilitando acompanhar vários aspectos da cobaia através de um tablet. É possível checar a localização atual da pessoa, quais nutrientes ela precisa ingerir, além de permitir a um terceiro enxergar através dos olhos da criança. Caso a cobaia veja alguma coisa que a assuste, e eleve os níveis de cortisol em seu sangue, ela enxerga a “ameaça” toda pixelizada. Uma medida extrema para evitar qualquer experiência estressante.

"Eu ficaria assim toda vez que pegasse num boleto"
“Eu ficaria assim toda vez que pegasse num boleto”

E é aí onde começam as reflexões do episódio. Até que ponto é bom “fingirmos” que ameaças não existem? Ignorar esses estímulos não nos tornaria mais vulneráveis? Afinal de contas, a liberação de cortisol em nossa corrente sanguínea como resposta à situações de risco é um mecanismo de defesa do ser humano. É como um “boost” natural para que tenhamos força e disposição extra para sobrepujar uma ameaça iminente. Abrir mão disso apenas para evitar o estresse seria deveras perigoso. Um tiro pela culatra.

Certo dia na escola, um amigo de Sara estava conversando com outros coleguinhas sobre um vídeo de violência explícita. Sara não consegue enxergar o vídeo por conta do bloqueio do Arkangel. Ela pede para que o amigo a descreva o que acontecia no vídeo. Essa cena é importante para justificar as atitudes da personagem daqui em diante, até o final do episódio.

Sara ficou inquieta com a descrição da violência, algo novo para ela, e decide se mutilar furando os dedos com a ponta afiada de um lápis, apenas para ver seu próprio sangue. A mãe intercepta a criança e no dia seguinte, a leva num psicólogo. O diagnóstico não mostra nada de anormal com a criança, mas o terapeuta sugere que a mãe se livre do app, pois ele já havia sido proibido na Europa e logo seria descontinuado no resto do mundo.

"Transformando a criação do seu filho num The Sims"
“Transformando a criação do seu filho num The Sims”

A mãe concorda em se livrar do aplicativo, mas e agora? Ambas mãe e filha já estavam acostumadas àquela superproteção. Como Sara iria para a escola sem que sua mãe acompanhasse todo o trajeto à distância? Quais os riscos de Sara finalmente enxergar ameaças sem que sua visão ficasse embaçada?

E é óbvio que a máxima “quanto mais você prende alguém, mais ela quer se soltar” se aplica aqui. A criança que como qualquer outra, já havia demonstrado curiosidade no novo –mesmo que o novo para ela fosse violência e coisas similares– agora estava livre para viver. Trick, seu amiguinho da escola, não perde tempo em dar um “intensivão de sociedade atual” para a garota. Ele a apresenta pornografia, vídeos de terroristas executando pessoas, etc.

Daí em diante a história se desenrola num romance adolescente entre Sara e Trick. Tudo começa a desandar quando Sara diz para sua mãe que iria sair com uma amiga, mas na verdade estava indo se encontrar com amigos da escola e seu crush. Quando dá o horário de Sara voltar para casa e ela não aparece, Marie tenta ligar para a filha, sem sucesso. Marie liga para pessoas que supostamente deveriam estar com Sara e nenhuma delas sabe do paradeiro da garota. Marie decide desenterrar o tablet para descobrir onde Sara estava. Quando ela consegue finalmente abrir o aplicativo e ativar a visão através dos olhos de Sara, ela tem uma surpresa não muito agradável: a filha transando com o namorado.

O hábito de espionar a vida da filha retorna. Outras descobertas surgem, como visualizar a filha se drogando com os amigos. Obviamente, agora a mãe está mais preocupada do que nunca. Ela aparece no trabalho do Trick e o convence a desaparecer da vida de Sara ou ela o denunciaria, além de espalhar o vídeo do casal.

A conclusão do episódio é trágica para mãe e filha. Arkangel facilmente divide opiniões e nos faz refletir: Quem errou no final das contas? A filha por ter feito tudo o que fez e chegar àquele extremo do final do episódio? Ou a mãe que era uma stalker doentia?

A criação de Sara foi prejudicada pelo aplicativo. Destruiu a vida de mãe e filha, quando o objetivo inicial era oferecer uma segurança infalível.

 

Até o episódio 03!

Pixel Carnificina

Eu sou o caos, senhor Kurtz, caos! E o resto do mundo não irá admitir que é exatamente como eu. "Listen all you fools. Don't you know that Carnage rules?"

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