Classicools: Overture

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Todos fazem suas resoluções de Ano Novo: emagrecer, guardar dinheiro na poupança, mudar de emprego, pedir aquela pessoa especial em casamento… Vale tudo desde que esteja presente o ideal de mudança, de transformação e busca por algo melhor. No caso deste que lhes fala, a famosa “promessa de Réveillon” foi um pouco diferente. Ao invés de desejar algo novo, resolvi tirar da prancheta um desejo antigo, escrever sobre música clássica aqui pro Iluminerds.

Beijinho no ombro das mandadas
Beijinho no ombro das mandadas

O problema, como já foi explicitado em meus diversos textos e resenhas musicais, era a total falta de conhecimento rítmico deste honorável cronista. Afinal, como escrever sobre música, especialmente música de concerto, sem conseguir reconhecer uma oitava, uma harmonia ou um dozinho sequer?! Acontece que música não são só arranjos ou uma sequência de notas numa partitura, também é o que se sente, as primeiras impressões, o contexto das obras. E isso já rende um bom papo! Dessa forma surgiu o Classicools, um espaço pra mostrar o que há de interessante, maneiro, legal e divertido para se mostrar na música ~~erudita~~. No decorrer deste ano, pretendo trazer fatos, curiosidades e impressões das mais variadas sobre o universo clássico. Prometo me esforçar ao máximo pra não cair no pedantismo que o tema muitas vezes suscita, me mantendo o mais cool possível, mas disso vocês serão os juízes.

Para começar, nada mais apropriado do que falar de Overtures (aberturas) que, em música de concerto, são a forma de se chamar o “abre-alas” da composição clássica, geralmente, de uma ópera, mas também utilizada em outros estilos. O que diferencia as aberturas de outros trechos famosos de música clássica, como árias, rapsódias e movimentos de concerto, é que elas são instrumentais e relativamente curtas, dessa forma não é incomum ouvirmos esses mesmos trechos em comerciais, filmes, programas de televisão, desenhos animados, entre outros.

Os desenhos animados, em particular, são um ótimo exemplo de reutilização de temas musicais clássicos. E, para quem tem filhos, primos, sobrinhos, afilhados ou mesmo vizinhos e deseja que eles escapem das garras da música pop atual com seus Lady Gaga, Rihanna, Luan Santanna, Anitta, entre outros, apresentá-los a esses desenhos pode ser uma ótima ideia. As animações Disney, Tom & Jerry, Pernalonga e demais obras de Hanna-Barbera e Looney Tunes, podem despertar interesses dos mais variados em seus espectadores.

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Sem mais delongas, separei algumas aberturas famosas que vocês certamente ouviram de algum lugar, mesmo que não saibam exatamente de onde. Aproveitem!

Para começar, como falei tanto de desenho animado, vou começar com um de meus favoritos em que Leôncio rege uma orquestra. Aqui eles usam um trecho da abertura da ópera Guilherme Tell (ou William Tell, em inglês), do italiano Gioachino Rossini, mais conhecido por outra ópera que vocês verão em seguida.

Outra versão é a de Silly Symphony, dos estúdios Disney

https://youtu.be/G9tFdA_t2Kc

E essa é a abertura completa, que recomendo bastante.

https://youtu.be/qOofwWT3Edc

 

Como falei, o trabalho mais famoso de Rossini, no entanto, é outro. Imortalizado neste desenho do Pernalonga.

A versão completa

E, para finalizar com os cartoons, Tom & Jerry. Pelo fato dos protagonistas não falarem, a trilha sonora se apresenta como um elemento fundamental na composição e compreensão do desenho. Deste modo, não eram incomuns os episódios com alguma referência ou mesmo totalmente dedicados à música clássica. Neste caso, é utilizada a abertura da ópera/opereta Die Fledermauss, do austríaco Johann Strauss. Não confundir, no entanto, com o alemão Richard Strauss, sem parentesco, ou com o pai e sobrinho de Johann que também tinham o mesmo nome, sendo ele o Jr. ou Johann Strauss II (que confusão!). Para aumentar a confusão, embora tenha sido usada como pano de fundo de um desenho de um gato e um rato, em alemão fledermauss significa “morcego”.

Aqui, o original com regência de Herbert Von Karajan, um dos grandes maestros de todos os tempos.

https://youtu.be/

https://youtu.be/

Essa tecnicamente não é uma abertura, é uma “introdução”, mas como Assim falou Zaratustra não é uma ópera e sim um poema sinfônico e mencionei o alemão Richard Strauss anteriormente, creio que vocês vão me perdoar por essa licença poética. Além do mais, o maestro desta execução é nosso companheiro venezuelano Gustavo Dudamel (de quem vocês ainda vão ouvir falar muito nessa coluna) regendo a Filarmônica de Berlin. Nem preciso exibir a referência desse, não é?

Não podia faltar uma referência brasuca, não é? Por isso, apresento o tema por trás de nossa tão “querida” A Voz do Brasil, a abertura de Il Guarany, de Carlos Gomes. Outro fato interessante é que, embora a ópera seja baseada no livro homônimo de José de Alencar, seu libreto, ou seja, o idioma em que ela é cantada, está em italiano. Além disso, sua estreia ocorreu simplesmente no La Scala de Milão, creio que o maior templo da música clássica até hoje. Carlos Gomes não era pouca merda, não!

Outro que não podia ficar de fora dessa seleção é compositor, virtuose e doido varrido (como são todos os gênios) Wolfgang Amadeus Mozart. Para representar a vasta obra de Mozart, escolhi a abertura de As Bodas de Figaro. Não é uma de suas composições mais famosas, mas acho que pelo menos no top 10 ela entra. Não me preocupei em catar algum exemplo de uso (porque não me lembrei de nenhum), mas ela é uma peça tão vibrante que certamente vocês irão se lembrar de onde a conhecem.

Seguindo a mesma lógica, não poderia deixar de colocar um balezinho sequer. Obviamente escolhi o Lago dos Cisnes de Tchaikovsky. Primeiro, por sua introdução ser realmente bastante famosa e, segundo, por causa de sua utilização naquele filme que todos nós adoramos. Com uma das mais belas cenas da história do cinema com Mila Kunis e Natalie Portman. #fappersgonnafap

https://youtu.be/hz6S04h6JnM

Aqui uma versão completa do balé numa apresentação do Kirov da Rússia (inclusive é essa que tenho em casa, então podem confiar). Claro, o vídeo tem 1h50 de duração, mas isso é apenas um detalhe.

Antes do fim, precisava fazer essa homenagem ao antissemita mais genial da composição clássica. Ele podia ser um belo de um filho da p…, mas Wagner tinha uma criatividade e um intelecto de outra categoria. Essa abertura pode não ser assim tão conhecida, certamente sendo eclipsada pelo início do terceiro ato, a famosa Cavalgada, mas nem por isso devemos deixar de mencioná-la aqui. Regida pelo hermano argentino-israelense Daniel Barenboim no La Scala, é possível apreciar toda a maestria do compositor nesse breve trecho que introduz certamente o ápice da tetralogia operística do Anel do Nibelugo.

Paradoxalmente, para encerrar esse papo sobre aberturas, acho que nada mais propício do que usar a de Carmen, do francês Georges Bizet. Quem assiste F1 na TV Globo certamente vai lembrar dessa música, que lá também serve de encerramento. Um pouco depois dessa abertura já rola a Habanera, aquela ária que todo mundo conhece também, mas que vou deixar para um próximo texto.

 

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 7 comentários

  1. toddy

    Na verdade, essas músicas sempre dão dor de cabeça, acho que nao sou cult nao!!!

    1. José Messias

      Qual foi toddynho, dê uma chance ao amor! dê uma chance a cultura, dê uma chance a haute culture

  2. Vilipendiador Unperucked

    Porra! Nada supera o Pica-Pau e seu Barbeiro de Sevilla. NADA!

    1. José Messias

      Eu gosto dessa versão Pica-Pau, é bem divertida e é um dos meus episódios favoritos dele, mas realmente acho que a do Pernalonga é melhor. Contudo, não foi por isso que ela não entrou. Pelo que me lembro nesse ep. o Pica-pau usa ária do Figaro e como o texto era sobre aberturas não deu pra entrar, mas entra num próximo, certamente.

  3. Belo post, Messias. Me faz lembrar da época (que eu peguei, claro) em que os desenhos não dependiam tanto do diálogo pra se fazer entender.

    Antigamente, mais precisamente até o final da década de 1950, os estúdios de animação acreditavam nos desenhos animados como ingredientes formadores do jovem individuo dentro dos padrões “cultos” da sociedade (esta formação incluía, até, certas mensagens fascistas subliminares…). Uma parte de implantação destes padrões “cultos” seria a de educar ou apresentar a música erudita às novas gerações, e isso se fazia quase como que uma necessidade.

    Além disso, os desenhos até o final da década de 1950 ainda tinham muito da influência do humor físico do Carlitos, Três Patetas e Gordo e Magro, ao mesmo tempo em que tentavam dar uma infantilizada no humor verbal dos Irmãos Marx (mais precisamente, o Groucho). Tudo isso levava os desenhos de antigamente a dependerem menos dos diálogos e mais de sons e imagens, sendo, por isso, mais dinâmicos.

    Hoje em dia, até os desenhos mais criativos (Bob Esponja, por exemplo) têm uma quantidade abusiva de diálogos e discursos. Não sei se vocês repararam, mas é incrível a quantidade de tempo em que os protagonistas permanecem simplesmente em pé, falando, diante da câmera. A diferença dessa abordagem, em comparação aos desenhos da primeira metade do século XX é gritante…

    Parabéns pelo Post. Me deu até uma ideia pra um post futuro fazendo uma análise dessa diferença de enfoque…

    Abraço!

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