COMBARTE! NOVA SERIE – Episódio 2 –

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Bem, depois da aventura do saco de gargalhadas, e do posterior susto com a ideia de se escrever um artigo inteiro num celular dentro de um ônibus (eu pessoalmente não, nem pensar!), fiquei refletindo sobre isso: o tecnosusto diminuiu muito de tamanho! Claro, à sombra de Alberto Breccia, Solano Lopez e gente mais moderna – como Leinil Francis Wu, como veremos!

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Sim, sem falar dos muito brasileiros: Fabio Moon e Gabriel Bá!! Passando, assim como quem não quer nada, por um gigante de nome Julio Shimamoto… Muitos anos depois de passar por aventuras como a do saco de gargalhadas com meu primo, por fim tive acesso a alguns excelentes profissionais de hqs, e o primeiro destes, e de cuja amizade pude desfrutar durante mais tempo, foi o uruguaio, cuja vida transcorrera principalmente na Argentina, Francisco Solano Lopez. Sim, estou falando do homem que desenhou o texto máximo de Hector Oesterheld, El Eternauta, a FC que antecipou, atribuindo aos alienígenas, as principais características sinistras da ditadura de Jorge Videla, o carrasco que fuzilou multidões dentro de estádios de futebol! Solano manteve, durante dez anos, seu discreto, mas fértil estúdio de hq de aventura, aqui no Rio de Janeiro. Nessa época, um pouco antes do Plano Real, costumava dizer que não queria voltar para a Argentina, que decerto não era mais o pais que conhecera! Bem, o generoso Solano, com quem produzi um seriado longo para a revista italiana Lanciostory (a maioria dos colaboradores desta, como da Skorpio da mesma editora, era de latino-americanos que ganhavam bem melhor do que seria possível nos seus países de origem), aqui chamada de Sangue Bom, e, lá, de Bloods, sobre favelas cariocas.

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Nossa série, quando saiu no Brasil, me valeu um HQ Mix!! O estúdio de Solano ficava aqui no Largo dos Leões, vizinhança que fica na “fronteira” entre os bairros de Botafogo e Humaitá, charmosa pracinha em formato de salsicha. O apartamento tinha uma sala e dois quartos, sem qualquer computador. Na sala, um auxiliar trabalhava em duas enormes pranchetas, sob a supervisão do mestre, como todos os outros. Produzia-se historias coloridas sobre futebol, que saiam numa revista semanal inglesa e cobria o esporte bretão, publicando duas seções de hq dedicadas ao assunto. Uma delas inteiramente entregue a Solano, que produzia seis paginas sobre o ramo, com um astral humorístico e sobrenatural, na qual comentava aspectos inusitados dos embates da semana, e onde Sobrenatural de Almeida, o fantasma peladeiro criado por Nelson Rodrigues, teria feito boa figura!

 

Era o que dominava a produção da casa…Não era nem de longe, todavia, tudo o que se produzia lá! Num dos quartos, rolava, sob as mãos de outro auxiliar, a caudalosa produção de hqs eróticas que aquele “velhinho safado” fazia para uma revista francesa, que também tinha edição espanhola, da Jacques Glenat!! Infelizmente esqueci o nome das ditas, mais tarde republicadas em inglês pela Eros Comics, selo da Fantagraphics que durante bom tempo essa prestigiosa editora manteve, pela qual saiu tambem “Birdland”, dos irmãos Hernandez – os mesmos de “Love and Rockets”. Para fechar o festival, no segundo quarto ficava o departamento Euro, para o qual Solano produzia hqs de aventura para as revistas Skorpio e  Lanciostory. Revistas semanais, de 120 paginas, vale dizer: seriados de aventura! Nesse terceiro ambiente, o ajudante instalado era o grande Allan Alex, que de imediato, e sem problemas, se integrou ao time do mestre. Os amigos acham que um ambiente como esse teria resistido à acachapante entrada que os computadores fizeram no ramo? Hoje, um computador e um auxiliar, se tanto, decerto dariam conta desse serviço todo, porque a parte burra do serviço, como a distribuição de áreas negras por quadro, hoje em dia fica todinha a cargo da maquina.

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