Considerações sobre a série do Demolidor (Netflix) – parte 3

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E vamos para a última parte sobre a primeira temporada  do Demolidor (Netflix), na empolgação da estreia da segunda temporada nesta sexta (18/03).

Antes de mais nada, lembrem-se que a ideia aqui é mais especular sobre o que pode vir e comentar alguns detalhes da primeira temporada, do que propriamente fazer uma crítica sobre esta.

Os outros posts você pode ler aqui: PARTE 1 e PARTE 2.

12 – Esquecido…mas homenageado?

Muita gente abomina o filme de 2003 – Demolidor: O Homem Sem Medo (Daredevil) -, onde Ben Affleck encarnou o herói cego. Eu não faço parte desse grupo. Apesar de concordar que o filme pecou em vários aspectos, acho que acertou em outros. Resumindo, é bem “assistível”.
Provavelmente o produtor executivo da série, Steven DeKnight, é mais um tolerante com o longa. Diria até que deve ser fã. Isto porque existem na primeira temporada algumas singelas referências à versão das telonas. Um delas acontece no fim do último episódio, no confronto entre Wilson Fisk (Vincent D’Onofrio) e o Demolidor, quando o Rei levanta o herói e o arremessa (assim como Michael Clarke Duncan faz, em 2003). Outra  citação é quando o Demolidor diz ao policial “Eu já te disse sargento, eu não sou bandido”, algo que a versão de Affleck faz mais de uma vez (para uma criança e depois lamentando em um telhado).
Independente de você gostar ou não, ponto pro roteiro que lembrou outras versões da personagem. Seria legal ver mais homenagens como estas futuramente. Creio que ainda teremos algo do tipo na season 2.

13 – Munição, adagas e um capeta em forma de guri cego

Na segunda temporada temos Elektra – interpretada por Elodie Yung, de G.I Joe: Retaliação (G.I. Joe: Retaliation, 2013) – que, pelos trailers que a Netflix liberou, não parece ser a versão “menina desiludida” do longa de 2003 (e do próprio filme solo), o que já é lucro. Também veremos o Justiceiro (Jon Bernthal, o Shane de The Walking Dead).

A Netflix liberou um trailer em duas partes (em dias diferentes), que me deixou com a impressão de que duas tramas paralelas acontecerão durante a nova temporada (o que não impede de haver outras e destas se cruzarem em alguns episódios). A primeira parte foca no Justiceiro e no lado filosófico que deverá ser abordado sobre a legalidade e os limites do vigilantismo. A segunda foca em Elektra, a relação entre ela e o protagonista e os motivos de seu reaparecimento. Eu suspeito que a trama do anti-herói seja resolvida ainda na season 2, enquanto que a relação com ninja será levada para uma possível terceira temporada, por motivos óbvios para quem leu a primeira passagem de Frank Miller pelas hqs do Demolidor.

The 19th Annual Critics' Choice Awards at The Barker Hangar Featuring: Jon Bernthal Where: Santa Monica, California, United States When: 16 Jan 2014 Credit: FayesVision/WENN.com
Jon Bernthal, Eloide Yung e o pôster com os atores já caracterizados. E que os jogos comec…ops!

14 – Aquela estudante grega…

Sobre Elektra, pelo que vimos, parece que ela já será uma guerreira ousada. O motivo da sua volta à vida de Matt (lembram que ela foi citada na primeira temporada?), como ela mesmo alega, é pedir ajuda para enfrentar um aparente braço da Yakuza que não foi expulso de Hell’s Kitchen após Wilson Fisk ser desmascarado e preso. A máfia Japonesa seria uma das que se aliaram ao Rei para controlar a região (outras, citadas diretamente na série, são as máfias Russa e a Chinesa, esta comandada por Madame Gao, interpretada por Wai Shing Ho).

No entanto, vale lembrar que NÃO ERA bem a Yakuza que operava em Hell’s Kitchen. Esse detalhe foi até citado em um dos episódios da primeira temporada, durante uma conversa entre os chefões do crime. O representante dessa facção era o ninja vermelho Nobu (Peter Shinkoda), que quase matou o protetor da Cozinha do Inferno. Na época isso pareceu indicar a inserção do Clã Mão  – que nos quadrinhos brasileiros é chamado de Tentáculo, mas no original é Hand, cuja tradução literal a dublagem brasileira parece ter adotado – na trama. O mesmo trailer da season 2  parece confirmar isso, com cenas de Stick (Scott Glenn), o velho mestre cego de Matt, parecendo prever uma guerra. Provavelmente entre o Clã Mão e o dos Virtuosos (Chaste), os ninjas “mocinhos”. Pelo jeito, os problemas do Demolidor ficarão bem maiores.

Outro ponto a levantar é que, nos quadrinhos, foi o Tentáculo o maior responsável pela “vilanização” de Elektra. Eu cogito duas hipóteses: ou ela irá se revelar uma adversária/traidora ou será convertida. Já se sabe que ela agirá em parceria com o Demolidor, mas desde quando ela sabe das habilidades de Matt Murdock é algo que a série certamente vai revelar. Então preparem-se para pelo menos um episódio tratando sobre o passado romântico do casal e o motivo da separação.

15 – O caveira chegou

Talvez alguns não tenham gostado inicialmente da escolha do Justiceiro para confrontar o Demolidor, já que muita gente torcia pela inserção do Mercenário – que foi só especulado até agora, mas não está descartado. Porém, pensando melhor, a escolha foi sensata e até natural. Se na primeira temporada o Demolidor foi atormentado por suas escolhas e julgado – pela mídia e pelo povo – por sua jornada como justiceiro mascarado, agora ele enfrentará outro vigilante, adepto de métodos mais drásticos. Como matar, por exemplo. A primeira parte do trailer da season 2  já levanta questões morais. Inclusive existem partes deste – além de uma imagem de divulgação – que remetem a um acontecimento nas hqs onde, acorrentado e com uma arma presa à sua mão, o Demolidor precisa decidir se atira no Justiceito para impedir que o mesmo mate um bandido. É bom lembrar que em alguns momentos da primeira temporada Matt ficou tentado a passar deste limite. Um conflito de ideais assim deverá acrescentar bem mais à trama, tanto filosófica quanto legalmente, do que apenas um vilão louco, que mata sem nenhuma motivação especial. Além disso (se bem executado) pode finalmente consolidar o Justiceiro fora dos quadrinhos, até mesmo para um spin-off, já que o personagem não emplacou até agora em suas versões de “carne e osso”, mesmo depois de três (!) filmes. Esta possibilidade ganha mais força cada vez que Joe Bernthal aparece como o cara da caveira no peito.

daredevil 2
Mais do que ação e referências, esta temporada tem como atrativo questões legais e morais que serão confrontadas de forma ainda mais intensa que na season 1. Esta versão do Justiceiro parece que vai deixar espectadores na dúvida entre defendê-lo ou condená-lo. E isso será sensacional!

16 – Céu nublado  e o “Método Marvel”

A “piadinha” no título deste tópico tem sentido. Afinal, de todos os enigmas lançados na temporada, a criança chamada de Céu Negro é o mais misterioso e sem resposta. Em uma pesquisa rápida pela internet é possível achar as mais loucas e criativas teorias sobre o assunto, de irmão da mutante Karma (dos Novos Mutantes) – o que não faz muito sentido, visto que os direitos televisivos dos mutantes aparentemente pertencem à Fox, não à Marvel – a encarnação de algum demônio japonês. Porém, a maioria supõe que seja algo místico relacionado à mitologia do Punho de Ferro (Finn Jones), o quarto personagem marvete que terá série própria pelo Netflix.

Talvez estejam errados, mas faz sentido. Afinal, isso seria parte do que eu chamaria de “Método Marvel”, ou seja, a forma que a empresa tem feito para mostrar a diversidade do seu “universo” conectando personagens, entrelaçando tramas e plantando diversas referências (das mais descaradas às mais obscuras) entre séries e filmes. Foi assim com a trama de Capitão América 2 (Capitain America: The Winter Soldier, 2014) se relacionando com a season 1 de Agents of S.H.I.E.L.D., Coulson e Fury fazendo a ligação entre os filmes  e as diversas citações em Demolidor a acontecimentos dos longas, principalmente Os Vingadores (The Avengers, 2012) . Além disso, de todos os quatros heróis com séries pela Netflix, o Punho de Ferro é o único com esse viés místico. Espero que voltem ao assunto, que aparenta ter potencial.

17 – O audacioso

Para finalizar, o ator Charlie Cox leva muito bem tanto Matt Murdock quanto o Demolidor. Visualmente semelhante a sua contraparte das revistas (mas não idêntico), o ator conseguiu segurar tanto o ritmo de aventuras quanto a carga dramática. Os conflitos com o Justiceiro só devem consolidar Cox como um dos melhores intérpretes de super-heróis até aqui.

Achei a “versão Matt Murdock” um pouco mais intensa do que nos gibis, onde o advogado parece um cara mais sereno e fechado. No entanto, além de não comprometer, é justificável pois uma atuação tendendo mais para este lado contido poderia sofrer críticas e comparações  com o trabalho de Ben Affleck, beirando o “canastrão”. O uniforme do longa de 2003 me agradou mais do que o da série, mas é possível se acostumar. Alguma possível contestação do traje parecer uma armadura e limitar a agilidade do herói perde força desde que Matt pediu para Melvin Potter confeccionar um uniforme “especial”, ao mesmo tempo leve e resistente.

daredevil 3
Charlie Cox não é uma cópia fiel do Murdock nos quadrinhos (como J.K. Simmons e seu J.J. Jameson na trilogia do Homem-Aranha de Sam Raimi). E isso é mais perceptível na TV do que em fotos. Mesmo assim é aceitável porque, além de também não ser tão diferente, segurou muito bem o papel. Pelo jeito estará ainda mais à vontade a ponto de possivelmente reproduzir a cena do Demolidor acorrentado e tendo de decidir uma questão moral imposta pelo Justiceiro.

E depois dessas considerações, o que você acha? Agora é debulhar os novos episódios na Netflix, nesta sexta, 18 de março, para saber o que a Marvel/Netfix aprontou para os fãs. Deixe sua opinião aí nos comentários.

Vilipendiador Unperucked

Sempre se metendo em novos projetos e lutando contra pré-conceitos interiores. Já teve pilhas de HQ's, videogames e cartuchos. Hoje somente bons encadernados e um emulador. Ainda assim, sempre tenta colecionar algo. Pensou em escrever sobre a procrastinação mas achou melhor deixar pra semana que vem.

Este post tem 2 comentários

  1. JJota

    Acho que, nesta temporada, mais uma vez vão fazer dois “arcos”: o do Justiceiro e o da Elektra, assim como foi na anterior (primeiro, os russos, depois o Rei). E é acertado, pois acho que pisaram na bola quando não fizeram a mesma coisa em Jessica Jones. 13 episódios só com o arco do Homem Púrpura foi meio enfadonho…

    1. Vilipendiador Unperucked

      Eu sempre considerei que o risco de uma série da Jessica Jones seria um risco de não ter material suficiente para desenvolver o universo dela. E dê graças a Deus de terem conseguido um “arquinimigo” pois não fosse aquele arco nas Hqsnem isso ela teria direito. Em breve postarei as considerações sobre a série dela.

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