Finalmente me desincumbi da missão de assistir aquelas que foram as três maiores apostas dos Estúdios no quesito “adaptação de HQs” do ano. Acho que isso nem está em discussão, já que o próprio investimento dos estúdios mostra a veracidade desta afirmação. Mas… E aí? Valeram a pena?
Devo antecipar que estas análises são feitas na ótica de um fã do material original, os quadrinhos. Entendo que filmes são adaptações e não transposições, mas tenho uma ideia de até que ponto a coisa pode funcionar. Para evitar que minhas opiniões aqui expressadas fossem toldadas por empolgações momentâneas ou antipatias imediatas, tive o cuidado de assistir e re-assistir, calmamente, cada um dos filmes.
OBJETIVOS
As três obras são os principais lançamentos de seus estúdios este ano (e acho que não apenas no nicho “filme de quadrinhos”), todas com objetivos bem traçados. Homem de Ferro 3 (Iron Man 3) é o início da Fase 2 da Marvel nos cinemas, com todo o peso e o bônus do sucesso da primeira volta, que culminou com a estrondosa bilheteria de Os Vingadores (The Avengers – 2012). O novo filme do Latinha inicia assim um projeto que inclui novos filmes de Thor e Capitão América (Hulk, infelizmente, dançou no processo), além de um inesperado filme d’Os Guardiões da Galáxia e o mais que previsível segundo filme d’Os Vingadores.
Já a Fox parece empenhada mesmo em retomar o caminho que vinha traçando em X-Men (X-Men – 2000) e X-Men 2 (X2 – 2003), buscando corrigir os erros de X-Men – O Confronto Final (X-Men, The Last Stand – 2006) e, principalmente, X-Men Origens: Wolverine (X-Men Origins: Wolverine – 2009). Apesar destes dois últimos terem ido muito bem nas bilheterias, foram espancados sem dó pela crítica profissional e amadora, especialmente pelo abandono da abordagem mais científica utilizada nos filmes de Singer, das crises existenciais e do bom-mocismo de Wolverine e o fato de, em quatro filmes, o estúdio ter conseguido estabelecer uma cronologia mutante tão confusa quanto a que a Marvel levou mais de quarenta anos pra “construir” nos quadrinhos. Diga-se de passagem, X-Men – Primeira Classe (X-Men First Class – 2011) não ajudou muito neste quesito, embora tenha mostrado uma sensível melhora no tocante a roteiro.
Enquanto Marvel e Fox buscam consolidar seus universos cinematográficos, a Warner tenta, mais uma vez, criar um! Depois da bisonha tentativa no equivocadíssimo Lanterna Verde (Green Lantern – 2011), o estúdio apostou todas as suas fichas no seu mais poderoso personagem. Diferente de todas as produções anteriores (não vou MESMO levar em consideração o péssimo filme de Hal Jordan), neste o estúdio inseriu os personagens dentro de um universo mais amplo, onde outros heróis e vilões conhecidos podem existir (ou vir a).
ASPECTOS TÉCNICOS
Nada a se condenar aqui. As três obras tem boa fotografia (destaque para a do filme da Warner), efeitos especiais bem feitos e bem dosados e, mesmo que não se possa dizer que foram trabalhos primorosos, os diretores executaram suas funções dentro daquilo que foi pedido a eles. Mesmo uma cena que achei simplesmente ridícula em Homem de Ferro 3 acho que foi feita propositalmente ruim por conta do “clima” da produção.
Na verdade, não gostei apenas da edição de Homem de Aço. Fiquei, nas três vezes que assisti ao filme, com a sensação de que, como em The Dark Knight Rises, se filmou demais e algumas coisas muito importantes terminaram no chão da sala de edição (algo sem explicação, pois, se era pela metragem do filme, porque se manteve tantas cenas sem sentido algum para a história, por exemplo, todas com Perry White). É como se algumas cenas deixassem claro que ficou faltando algo entre elas. Mas isso só saberemos quando a Warner disponibilizar uma versão do diretor (ou do produtor). Além disso, achei o uso do flashback exagerado, cansativo. Menos “quebras” na história a deixaria menos cansativa.
PROTAGONISTAS
Pode-se dizer que todos os protagonistas tiveram uma estrada mais fácil com seus personagens. Mesmo sendo o primeiro filme de Henry Cavill como Superman, o ator há anos vem sendo cogitado para o papel. Na verdade, ele foi dado como certo em Superman – O Retorno (Superman Returns – 2006), mas Bryan Singer terminou optando por Brandon Routh (boatos na época afirmaram que o motivo teria sido que o diretor não queria que um não-americano interpretasse um personagem que considerava um ícone nacional). Problemas relativos a idade também foram resolvidos pelo roteiro, que optou por apresentar o herói com mais de trinta anos. Também não há nenhum trabalho em relação a Clark Kent: ele e Kal-El, neste filme, são rigorosamente a mesma pessoa (o que considerei um erro terrível). Somente na continuação, em que Superman adotará o disfarce de Kent, se poderá realmente avaliar a capacidade interpretativa do primeiro britânico a interpretar o kryptoniano nos cinemas.
Mais à vontade que Robert Downey Jr. é impossível. Algumas pessoas chiam, mas reafirmo minha convicção de que ele faz bem pouco trabalho interpretativo com Tony Stark desde Homem de Ferro 2. Como um novo Jack Nicholson, ele baseia seu trabalho nas telas muito mais em suas toneladas de carisma do que em esforço para criar uma personalidade para o alter-ego do Homem de Ferro. Para piorar, a cada produção o ator parece ter uma opinião pior sobre adaptações de quadrinhos.
Já Hugh Jackman deixou de lado suas opiniões emocionais sobre o Wolverine e voltou a acertar o tom com o personagem. Definitivamente, não sinto nem um pouco de inveja do ator que um dia o suceder neste trabalho. Mandou bem nas cenas de ação, conseguiu, quando necessário, ser engraçado sem ser debochado e, principalmente, trabalhou muito bem as emoções nas cenas que envolveram Mariko e Jean Grey. Hoje é, de longe, o ator que mais fielmente interpreta um personagem baseado em HQs.
ELENCO
O elenco de apoio de Homem de Ferro 3 segue a toada do seu astro. É difícil imaginar que alguém ali não veja o filme como uma comédia debochada com os super-heróis. Há momentos em que lamento profundamente o desperdício de atores da qualidade de Ben Kingsley e Guy Pearce. Gwyneth Paltrow, Don Cheadle e Jon Favreau mantém as atuações apagadas do filme anterior. Rebecca Hall agrega beleza e só. Pra piorar, desta vez não temos nenhuma participação de Samuel L. Jackson interpretando… Bom, ele mesmo de tapa-olho.
O filme da Fox, até por ter tido uma boa parte da sua produção no Japão, reúne o maior número de caras novas para o público ocidental. Apesar de estarem estreando, as modelos Tao Okamoto e Rila Fukushima não decepcionam. O resto de elenco quase todo faz um trabalho na medida. A exceção fica por conta da bela Svetlana Khodchenkova que, além de não ter acertado o tom, teve a desgraça de ver seu péssimo personagem, a Víbora, ganhar um espaço completamente desnecessário na trama.
No tocante a elenco, o show está mesmo em Homem de Aço, pelo menos em matéria de nomes. Do lado dos vilões, Michael Shannon aos poucos vai acertando o passo com seu Zod e Antje Traue respeita suas limitações na construção de Faora-Ul. Richard Schiff e Christopher Meloni esquecem a completa desnecessidade de seus personagens e atuam dignamente. O resto do elenco, mesmo diante de personagens mal construídos ou completamente sem sentido, entregam interpretações dentro dos padrões esperados por nomes de tal quilate.
HISTÓRIAS
Aquela que tinha tudo pra ser a história mais empolgante terminou sendo a mais chata.
Homem de Ferro 3 é baseada em Extremis uma boa história do Vingador Dourado escrita por Warren Ellis e que teve profundas consequências sobre a cronologia do personagem. No entanto, bem pouco além do conceito da tecnologia Extremis foi aproveitado. O filme parece ter problemas pra se aprofundar nas questões. Se Tony Stark tem crises de ansiedade provocadas por sua experiência contra os Chitauri em Os Vingadores, bom… Ele poderia parar de tentar fazer uma gracinha a cada vez que abre a boca, não é?
O pior é que o humor (que continua excessivo, como nos outros filmes da Marvel, frustrando aqueles que acreditaram nas primeiras notícias de um filme mais amadurecido) não parece ser para todos os públicos. Explico: várias piadas de Homem de Ferro 3 parecem ser dirigidas justamente contra os quadrinhos e seus fãs. É simplesmente patético ver Downey Jr. falar “Eu sou o Patriota de Ferro” como o Batman e depois sair para vestir a armadura que deixou “estacionada” na porta de um bar. Por sua vez, a invasão que Tony promove na mansão onde está o Mandarim é de chorar de tão simplória e mal executada. Downey a faz como uma dança, mas como agiria um dançarino amador.
E as forçadas de barra são muitas! As coincidências de tempo são demais: tudo parece estar sempre cronometrado para dar certo no último momento, visando a criação de uma tensão desnecessária. Claro que não é um filme de arte! Mas precisava forçar tanto a amizade a todo momento? E o garoto… Ah, nem vou perder meu tempo falando nisso.
Se o filme da Marvel peca por levar na galhofa os quadrinhos, Homem de Aço erra ao se levar a sério demais em alguns momentos. Parece haver uma excessiva reverência em alguns momentos. Como já citei antes, há personagens desnecessários atuando em cenas desnecessárias e um uso excessivo de flashbacks (diferente de Batman Begins, de 2005). É como se a todo momento o ritmo da história fosse quebrado pra mostrar algo desnecessário no passado de Clark.
O completo desinteresse em relação a identidade secreta de Kal-El é um tremendo erro. É difícil crer que se construiu um personagem com intenções tão sem sentido como Jonathan Kent (que, pela manutenção do segredo, não só declara que Clark deveria ter deixado dezenas de crianças morrerem afogadas como se sacrifica de maneira patética e desnecessária para manter o mistério) para, no fim das contas, Kal-El ser flagrado por Lois Lane (!), de carona em um carro da polícia (!!), uniformizado (!!!) diante da casa dos Kent (!!!!) conversando com Martha (!!!!!!). Aliás, alguém em Smallville será que não sabia quem era aquele sujeito de capa vermelha ajudando aqueles alienígenas a destruir sua cidade? E, no fim, inexplicavelmente, ele deve construir este disfarce do nada? Será que alguém não poderia ter lido O Legado das Estrelas, de Mark Waid e Leinil Francis Yu?
O momento snap… Bom, pode até ser que naquele momento um ainda despreparado Kal-El não dispunha dos meios necessários pra saber como impedir Zod de executar aquela família (ah, mas Bruce Wayne saberia!). O problema, na verdade, é que o roteiro tenha se encaminhado para aquela situação. Era desnecessário. A falta de reação posterior ao ato cometido é até mais problemático do que o ato em si.
Wolverine – Imortal é o mais honesto dos três. Apesar de ser baseado em uma das duas mais famosas histórias feitas com o personagem (a outra é Arma X, de Barry Windsor-Smith), a história se desenvolve mais à vontade. Há muita ação? Sim, mas é uma quantidade justificada (afinal, ele está protegendo uma pessoa perseguida pela Yakuza). O humor é bem dosado e feito para todos rirem juntos, e não uns dos outros.
Uma grande ideia foi a localização temporal da história. Em vez de ser uma continuação do primeiro filme solo, Imortal se passa após os eventos de X-Men, O Confronto Final, com o canadense tentando superar o trauma de ter sido o instrumento da morte de Jean Grey, seu grande amor.
Uma falha, a meu ver, é colocar o Wolverine como um completo estranho ao Japão (apesar da cena inicial, que se passa na Segunda Guerra Mundial e parece retirada da história Logan, de Brian Vaughan e Eduardo Risso). Além de ir contra um pouco do personagem (que possui, nas HQs, grande admiração pela cultura japonesa), atrapalha um melhor andamento da história, com os problemas de idioma apresentados, além de, mais uma vez, colocar Logan como um sujeito excessivamente tosco.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Bom, acho que todos os filmes merecem ser assistidos. Homem de Aço, apesar de seus equívocos, aponta para um caminho diferente das “comédias de ação” marvetes. Wolverine – Imortal é certinho e agrada. Homem de Ferro 3… Ah, tem dias em que você quer ser feito de paspalho e ver as pessoas debochando da sua cara. Vá lá.
“O desenvolvimento do relacionamento amoroso entre Mariko e Logan é, de longe, o mais bem trabalhado se considerarmos os três filmes.”
Ela era noiva de um, apaixonada por outro e após um dia ela corneia os dois com o Logan.
Dois 3 wolverine foi o que eu achei pior.A primeira metade quando tinha a yakuza tinha umas forçadas de barra, mas era boa, já depois quando o Logan recupera o fator de cura o filme vai pro buraco de vez,
Sem dúvida, não é perfeito, Egon, mas eu comparo com os dos outros filmes. Mariko e Logan tem um relacionamento na tela melhor desenvolvido que Pepper-Tony (que em quatro filmes nunca me convenceu) ou Lois-Superman. Na minha visão, o relacionamento entre o Wolverine e a japonesa corre de forma mais crível. O noivado dela era forçado, o “amor” da vida dela era um relacionamento infantil e se nota a fascinação que vai tomando aos poucos conta dela ao perceber o esforço dele em protegê-la. Já Logan aos poucos vai deixando esvair uma tensão que o acompanha desde o início do filme, não sem ter – através de seus diálogos com Jean – sérias dúvidas sobre o envolvimento.
Como eu disse, são opiniões. Achei a última parte do filme mais ruim que o resto também. Mas vendo todo – e, repito, analisando também como um fã de quadrinhos – o filme do Carcaju ganhou dos outros.
“O noivado dela era forçado, o “amor” da vida dela era um relacionamento infantil ”
Sim era forçado, mas a Mariko da HQ era fiel as frescuras culturais japonesas(acho que no filme falam disso também, não lembro mais). A relação deles foi alah filme brucutu dos anos 80/90 ela viu o abdomen dele e ficou molhadinha.
A de Lois/Clark ficou forçada, mas pode se dizer que não foi uma relação que foi criada em apenas um dia, a Lois ficou obsecada após o primeiro encontro com ele e blá blá blá claro minha opinião.
No filme, ela fica noiva por obrigação familiar, um “dever de honra”, como ela diz. Vi o incio da atração de forma diferente: ela tenta afastá-lo de todas as formas e ele continua acompanhando-a, visando sua proteção. O primeiro momento em que ela se aproxima dele é quando, por conta dos ferimentos, ele termina desmaiando na sacada do motel. Depois, aos poucos, muito pela atitude respeitosa dele, ela vai se aproximando mais e depois relembra a história do avô, que dizia pra ela que o Wolverine a protegeria como um dia o protegeu. Ela vai aos poucos se sentindo protegida e eu, vendo o filme, reconheço o quanto isso deve ser importante pra ela, que não encontrou a mesma proteção no noivo ou no pai (que, na verdade, queriam que ela morresse) nem no antigo namorado, que parecia mais empenhado em cumprir a missão dada a ele pelo avô dela.
Já Lois buscou o Superman mais como uma história. Só quando ele conta a história do sacrifício do pai dele pelo segredo é que ela começa a mudar de ideia sobre revelar sua identidade, abandonando a matéria. O que o filme, pra mim, não explica é o motivo dele se sentir atraído por ela.
Ótimo post Jota, escreveu pra cacete, mas o superman é o pior filme desses três ai! valeu
Beleza, Toddy. Muita gente que conversou comigo concorda com você.
valeu
Todo mundo sabe o Thor vai chutar a bunda dessa cambada!
Thor conseguiu ser um filme pior que Capitão América. Expectativa zero para esta segunda parte.