Ilumimiminerd: o traço marcante de um herói

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Um comercial de uma seguradora tailandesa que tem emocionado o mundo destaca a essência verdadeira de um herói.

Um comercial, produzido pela Ogilvy and Mather, de Bangkok, Tailândia, para a empresa de seguros Thai Life Insurance, do mesmo país, tem chamado a atenção com sua produção delicada e mensagem simples. Aparentemente intitulado Unsung Hero (embora tenha visto algumas notícias que colocam o vídeo com o título “Acredite no Bem”),  o video mostra o dia-a-dia de um rapaz que faz questão de praticar boas ações cotidianamente, pouco importando se as mesmas beneficiarão crianças ou idosos, plantas ou animais. Tudo isso intercalado com imagens de sua vida sem luxo.

Antes de mais nada, vamos ao vídeo:

A mensagem principal do comercial é a de que as recompensas para os bons atos são, via de regra, imateriais. O narrador deixa claro que o rapaz não ficará mais rico nem se tornará mais conhecido. Ele “apenas” adquirirá uma compreensão mais profunda da vida e seu verdadeiro sentido. Como bônus, ele começará a ver um mundo mais bonito.

Uma agente secreta, um imortal (correção: um sujeito que vive bem mais que um ser humano normal), um soldado, outro agente, um cientista que adquiriu uma doença por causa de radiação gama e um bilionário inventor egocêntrico. Nenhum dos membros d'Os Vingadores seria um herói na verdadeira acepção da palavra.
Uma agente secreta, um imortal (correção: um sujeito que vive bem mais que um ser humano normal) que veio a Terra capturar o próprio irmão, um soldado, outro agente secreto, um cientista preocupado em descobrir uma cura para o seu envenenamento por rediação gama e um bilionário inventor egocêntrico. Nenhum dos membros d’Os Vingadores seria um herói na verdadeira acepção da palavra.

Uma das coisas que me chama a atenção no comercial é a reação das pessoas que assistem o bondoso: elas exibem claros sinais de reprovação, como se ele fosse um maluquinho ou um ingênuo. Mas nem essas criaturas conseguem ficar imunes ao empenho abnegado do cara. As próprias pessoas que ele ajuda são contagiadas pelas suas atitudes. Mais que isso: o próprio ambiente vai se tranformando ao redor dele, não do dia pra noite, mas ao longo do tempo e como fruto de sua perseverança.

Um dos pontos mais baixos da carreira do Homem-Aranha nos últimos tempos foi vê-lo revelando sua identidade verdadeira diante das câmeras de tv na mini Guerra Civil. Da forma como foi trabalhado o evento, não vi o Peter se colocando a frente como um exemplo para que outros super-heróis revelassem seus verdadeiros nomes. Vi um sujeito descuidado, expondo desnecessariamente ao perigo pessoas que há anos vinham sofrendo ao seu lado (Tia May e Mary Jane) apenas para obter um pouco de reconhecimento público pelo seu "trabalho".
Um dos pontos mais baixos da carreira do Homem-Aranha nos últimos tempos foi vê-lo revelando sua identidade verdadeira diante das câmeras de tv na mini Guerra Civil. Da forma como foi trabalhado o evento, não vi o Peter se colocando a frente como um exemplo para que outros super-heróis revelassem seus verdadeiros nomes. Vi um sujeito descuidado, expondo desnecessariamente ao perigo pessoas que há anos vinham sofrendo ao seu lado (Tia May e Mary Jane) apenas para obter um pouco de reconhecimento público pelo seu “trabalho”. Ver o Homem-Aranha agindo apesar de ser incompreendido, achincalhado e perseguido era algo que valorizava demais a sua figura aos meus olhos. Nem precisava viver transformando a vida particular do Peter numa sucessão de erros, como uma série de roteiristas sem imaginação fizeram ao longo de… décadas.

A força desta pequena história está nos traços simples que realmente fazem um herói. A grande fraqueza nas produções cinematográficas, televisivas e quadrinhísticas que trabalham com super-heróis hoje em dia está na ênfase que tem se dado ao super em detrimento do herói. Na maior parte do tempo, temos personagens egocêntricos, mentalmente perturbados, exagerada e desnecessariamente violentos e completamente babacas. O pior é que, quando se apela para mostrar alguma mudança interior, ela normalmente é motivada por um relacionamento, um trauma ou uma busca pessoal. São heróis que não inspiram. E se não inspiram uma pessoa a fazer o bem, não são heróis verdadeiros.

Uma das coisas que realmente valoriza o filme O Cavaleiro das Trevas é o momento em que vemos o Batman fugindo da polícia, ferido, assumindo para si o fardo das mortes provocadas pelo Duas-Caras. Como Gordon bem diz, ele já não está mais sendo um simples herói, está sendo algo maior. Batman, naquele momento, além de não conseguir nenhuma recompensa indireta, se torna aos olhos de todos aqueles que ajudou a proteger um vilão, aceitando este fardo em prol de um bem maior, mesmo sabendo que tal ato ir´pa dificultar ainda mais sua missão daí pra frente. Por isso considero que The Dark Knights Rises é um equívoco desde o começo, pois simplesmente destrói esta imagem belamente construída logo no seu começo, quando informa, para completa frustração do fã, que naquela mesma noite Bruce Wayne voltou pra caverna, tirou o uniforme e, simplesmente, se aposentou, sem realmente ter enfrentado a situação.
Uma das coisas que valoriza o filme O Cavaleiro das Trevas é o momento em que vemos o Batman fugindo da polícia, ferido, assumindo a autoria das mortes provocadas pelo Duas-Caras. Como Gordon bem diz, ele já não está mais sendo um simples herói, está sendo algo maior. Batman, naquele momento, além de não conseguir nenhuma recompensa sequer indireta, se torna aos olhos de todos aqueles que ajudou a proteger um vilão, aceitando este fardo em prol de um bem maior, mesmo sabendo que tal ato irá dificultar ainda mais sua missão daí pra frente. Por isso considero que The Dark Knights Rises é um equívoco desde o começo, pois simplesmente destrói esta imagem belamente construída logo no seu início, quando informa, para completa frustração dos fãs, que naquela mesma noite Bruce Wayne voltou pra caverna, tirou o uniforme e, simplesmente, se aposentou, sem realmente ter enfrentado a situação. Fala sério…

Há algo de especial em uma pessoa que usa seus recursos, sejam eles parcos ou extensos, ou suas habilidades, sejam elas quais forem, não para auferir nenhuma espécie de lucro direto ou indireto, mas para ajudar outras pessoas ou o mundo, sem esperar absolutamente nada em troca.

Sempre achei ridículo ver um super-herói recebendo uma medalha ou qualquer outro tipo de homenagem, principalmente por parte dos poderes públicos. Ridículo não apenas por "alinhar" ou "militarizar" o super-herói como também por
Sempre achei ridículo ver um super-herói recebendo uma medalha ou qualquer outro tipo de homenagem, principalmente por parte dos poderes públicos. Ridículo não apenas por “alinhar” ou “militarizar” o super-herói como também por vê-lo sendo recompensado pelos seus atos, o que diminui o valor dos mesmos.

Ser herói, mas herói de verdade, envolve sacrifício. É dar algo de si, além do normalmente exigível, para ajudar pessoas que, em sua maioria, só se importam com elas mesmas. É trilhar o caminho mais correto, ainda que o mesmo seja o mais difícil. É, muitas vezes, ser incompreendido ou até mesmo perseguido. É claro que um sujeito pra se vestir de morcego não pode ter o juízo no lugar certo, mas o Batman era – e ainda deveria ser – muito mais que isso. Ele é um bilionário que empenhou toda a sua vida e fortuna em uma forma de trabalhar seus traumas para que gerassem benefícios para outras pessoas. Superman, com a mais extraordinária gama de poderes que já foi imaginada em uma revista em quadrinhos, se recusava a se colocar a parte ou, principalmente, acima da Humanidade. Homem-Aranha era o nerd que tinha tido o maior desejo de seus pares atendido e, de forma dura, aprendeu que os poderes sempre trazem consigo responsabilidades proporcionais aos mesmos.

As pessoas que hoje trabalham com os super-heróis, principalmente os roteiristas, perderam o caminho, esqueceram o que faz a essência de um herói. Abraçando a premissa básica do lucro rápido e fácil, o personagem tem que ter ações impactantes, motivações mal ajambradas e um ou outro diálogo inexplicavelmente jocoso. Como disse acima, não inspiram nada de bom nas pessoas de hoje. E, se não inspiram, não são heróis.

Mesmo a tão hoje injustamente chamada "versão facista" do Batman tem seu momento "herói demais". Depois que há uma queda em toda a força em Gotham City devido a um pulso eletromagnético, Batman, que havia acabado de passar por uma cirurgia de emergãncia por conta de uma série de ferimentos do seu confronto com o Coringa, se ergue, coloca seu uniforme e usando muito mais a sua imagem e um discurso forte, arregimenta um grupo de ex-delinquentes que o ajudam a controlar uma situação que parecia estar pronta pra explodir em um violento confronto civil.
Mesmo a tão hoje injustamente chamada “versão facista” do Batman tem seu momento “herói demais”. Na HQ O Cavaleiro das Trevas, depois que há uma queda em toda a força elétrica em Gotham City devido a um pulso eletromagnético, Batman, que havia acabado de passar por uma cirurgia de emergãncia por conta de uma série de ferimentos do seu confronto com o Coringa, se ergue, coloca seu uniforme e usando muito mais a sua imagem e um discurso forte, arregimenta um grupo de ex-delinquentes que o ajudam a controlar uma situação que parecia estar pronta pra explodir em um violento confronto civil. O leitor atento percebe que ele faz isso sem reunir a condição física mínima para qualquer confronto. E que não só traz segurança para as ruas de Gotham em um momento de emergência como faz isso desviando do caminho errado uma série de adolescentes impressionáveis que estavam muito perto de iniciar uma orgia de crimes violentos. Um herói, sim senhores.

O vídeo destaque neste post mostra que a Humanidade ainda está sensível aos grandes-pequenos exemplos. Não queremos ver o Superman quebrando pescoços ou o Batman dando tiros no Darkseid. Não precisamos do Tony Stark salvando o mundo com ar de desdém ou uma versão do Aranha que acredita que fins justificam os meios. Queremos heróis que, mais uma vez, nos influenciem postivamente com seus exemplos. Apenas isso.

Em tempo: deixo claro que sou fã de personagens como Wolverine e Justiceiro. Me divirto muito com suas histórias. Mas eles estão dentro de um contexto completamente diverso. Eles não são heróis. São meio que soldados recebendo ordens, meio que “assassinos por natureza” focando sua fúria em alvos localizados. Não existem para servir de exemplo, mas para serem roteirizados pelo Garth Ennis. Apenas isso.

xx6

 

 

 

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 9 comentários

  1. charlene_a_empregada

    Parabéns Xota Xota, mais um ótimo post… É de chorar saber que uma geração inteira que gosta de quadrinhos/filmes vai crescer sem o Homem-Aranha fodido e Super escoteirão…

    1. JJota

      Este, pra mim, é um grande problema. É lamentável o que chamam de “atualizações dos heróis pras novas gerações”.

  2. Pois é, Jota… É sempre bom relembrar aos deslumbrados de plantão que quebrar pescoços não faz de ninguém modelo a ser seguido. E é sempre bom entender que as perversões atuais estão fazendo uma geração inteira começar a conhecer os super-heróis através de uma ótima totalmente perversa e invertida. Parabéns pelo excelente post.

  3. Night Raven

    Belo texto mas infelizmente as partes que dizem respeito ao Batman são carregadas de Fanboylismo. primeiro o Batman do Miller é fascista sim! ele é um louco obcecado por ordem excessivamente violento quase sociopata e ainda tem os mutantes que são a representação do que o Miller (e grande parte da sociedade) acha que são Punks e Anarquistas uma massa desgovernada de delinquentes juvenis psicóticos (muitos ficaram surpresos com a opinião do Miller sobre o Occupy wall street eu porem não fiquei nem um pouco surpreso é só ler a obra dele pra perceber seu posicionamento) que são “colocados no caminho certo” por um velho violento e draconiano.
    quanto ao Batman do Nolan sempre o considerei um egoista sobretudo por causa de TDKR onde ele foge pra Florença com Selina e desistiu de ser o Batman por 8 anos, mas ainda em TDK ele já se mostrava egoista querendo que o Harvey Dent assumisse o fardo pra ele se aposentar e ficar com a Rachel (mesmo que o harvey acabasse com a mafia o Batman sempre seria necessario)

    1. JJota

      Como apontei em um post que fiz sobre o Frank Miller, acho que sua obra máxima sofre muito com críticas e reservas que são dirigidas ao autor nos dias atuais. Como apontei ali, o Batman do Miller em nenhum momento tenta tomar o poder, derrubar as autoridades constituídas ou cassar as leis. Como ele mesmo diz em uma determinada passagem, o próprio se considera um criminoso pela forma que age. Quando resolve atuar de forma mais declarada, ele visa única e exclusivamente reagir a uma situação de caos, mas – repito – sem tomar o poder das autoridades constituídas. Batman e a Gangue Mutante visam única e exclusivamente manter a segurança de Gotham em um momento em que os EUA estão mergulhados em caos e desordem provocados pela fobia de uma guerra nuclear com a Rússia. E nenhum dos mutantes está ali “obrigado” como faria um fascista. Até pelo contrário, diferente de tantos “democratas” por aí, o Morcego ali está oferecendo uma oportunidade para que pessoas possam se redimir de seus erros de uma forma bem mais construtiva do que ficar mofando dentro de uma cela.

      Dizer que Miller generalizou os punks também é equivocado: a Gangue Mutante é um reflexo da decadência moral e falência das instituições, com um grande número de jovens abrindo mão de suas individualidades para adotar um visual padronizado e uma vida de violência. Só lembrando: é um “punk” que ajuda o padre quando do incêndio em Gotham, como descrito no quarto volume. O “rapaz do rádio”.

      Quanto ao Batman dos filmes do Nolan, em primeiro lugar eu desconsidero totalmente o terceiro filme, que, pra mim, sequer “encaixa” com os dois anteriores, parecendo um filme completamente diferente. Quanto a vontade dele de deixar de ser o Batman, já no fim de Begins ele afirma isso para Rachal, falando de um tempo em que “o Batman são será mais necessário”. Vejo isso como um traço de humanidade de personagem. Mesmo nos quadrinhos, levou um bom tempo até que Bruce Wayne percebesse que sua guerra contra o crime seria pro resto da vida e que o Batman nunca deixaria de existir. É bem o final de TDK, com ele assumindo a culpa pelos crimes de Harvey e fugindo da polícia. Pena que vem o terceiro filme e acaba com tudo…

  4. Bizarro

    Nunca gostei do homem-aranha (mas reconheço a parte boa que ele representa), mas sempre fui fanboy do Demolidor (que pra mim, junto com o Capitas, são os maiores herois da Marvel), ao qual sempre superou suas adversidades, não por si só, mas sempre por todos ao seu redor e PRINCIPALMENTE pelo seu pai, o maior herói de todos. Que em um mundo frio, escuro e de merda, mostrou a seu maior fã, e que nunca devemos desistir, não importa o que aconteça e que nunca se deve desistir do que é certo e nem das pessoas que se ama.

    1. JJota

      Demolidor tem um traço destacado: seus poderes lhe custaram muito caro. Por mais que se diga que não, ficar cego é algo que impacta a vida de uma pessoa. Órfão de pai, abandonado pela mãe, cego por um ato de heroísmo nível ômega, ele tinha tudo pra se tornar amargurado e mais do que disposto a ser individualista, até cruel com o mundo que o cerca. Acontecimentos posteriores que poderiam reforçar essa condição (como os mostrados em A Queda de Murdock, onde – frise-se – ele foi praticamente abandonado por todas as pessoas em que confiava) o fizeram, espantosamente, se tornar ainda mais forte na crença de sua missão. É uma das coisas que me faz um crítico da Fase Bendis: não sinto essa força naquelas histórias. Vejo obsessão, o que até cai bem em alguns personagens como o Batman, mas não no Matt. Já a Fase Waid para mim, como fã do personagem, é frustrante. Nada a reclamar das qualidades do roteirista: ele domina muito bem o ritmo, sabe fugir do tédio arrastado tão característico em Brian Bendis e constrói diálogos críveis e interessantes. Repetindo uma análise perfeita que li por aí, é como se o Waid estivesse “gastando” no Demolidor as ideias que ele tinha guardado para o Homem-Aranha e que ficaram impossíveis de serem aplicadas diante do vergonhoso sucesso de Slott a frente do principal título do Aracnídeo. Como o Homem-Aranha, acho que sempre há uma tendência a f#$%¨a vida do Murdock demasiadamente, tirando um pouco a força destes acontecimentos e desvitalizando o seu heroísmo.

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