Um comercial de uma seguradora tailandesa que tem emocionado o mundo destaca a essência verdadeira de um herói.
Um comercial, produzido pela Ogilvy and Mather, de Bangkok, Tailândia, para a empresa de seguros Thai Life Insurance, do mesmo país, tem chamado a atenção com sua produção delicada e mensagem simples. Aparentemente intitulado Unsung Hero (embora tenha visto algumas notícias que colocam o vídeo com o título “Acredite no Bem”), o video mostra o dia-a-dia de um rapaz que faz questão de praticar boas ações cotidianamente, pouco importando se as mesmas beneficiarão crianças ou idosos, plantas ou animais. Tudo isso intercalado com imagens de sua vida sem luxo.
Antes de mais nada, vamos ao vídeo:
A mensagem principal do comercial é a de que as recompensas para os bons atos são, via de regra, imateriais. O narrador deixa claro que o rapaz não ficará mais rico nem se tornará mais conhecido. Ele “apenas” adquirirá uma compreensão mais profunda da vida e seu verdadeiro sentido. Como bônus, ele começará a ver um mundo mais bonito.
Uma das coisas que me chama a atenção no comercial é a reação das pessoas que assistem o bondoso: elas exibem claros sinais de reprovação, como se ele fosse um maluquinho ou um ingênuo. Mas nem essas criaturas conseguem ficar imunes ao empenho abnegado do cara. As próprias pessoas que ele ajuda são contagiadas pelas suas atitudes. Mais que isso: o próprio ambiente vai se tranformando ao redor dele, não do dia pra noite, mas ao longo do tempo e como fruto de sua perseverança.
A força desta pequena história está nos traços simples que realmente fazem um herói. A grande fraqueza nas produções cinematográficas, televisivas e quadrinhísticas que trabalham com super-heróis hoje em dia está na ênfase que tem se dado ao super em detrimento do herói. Na maior parte do tempo, temos personagens egocêntricos, mentalmente perturbados, exagerada e desnecessariamente violentos e completamente babacas. O pior é que, quando se apela para mostrar alguma mudança interior, ela normalmente é motivada por um relacionamento, um trauma ou uma busca pessoal. São heróis que não inspiram. E se não inspiram uma pessoa a fazer o bem, não são heróis verdadeiros.
Há algo de especial em uma pessoa que usa seus recursos, sejam eles parcos ou extensos, ou suas habilidades, sejam elas quais forem, não para auferir nenhuma espécie de lucro direto ou indireto, mas para ajudar outras pessoas ou o mundo, sem esperar absolutamente nada em troca.
Ser herói, mas herói de verdade, envolve sacrifício. É dar algo de si, além do normalmente exigível, para ajudar pessoas que, em sua maioria, só se importam com elas mesmas. É trilhar o caminho mais correto, ainda que o mesmo seja o mais difícil. É, muitas vezes, ser incompreendido ou até mesmo perseguido. É claro que um sujeito pra se vestir de morcego não pode ter o juízo no lugar certo, mas o Batman era – e ainda deveria ser – muito mais que isso. Ele é um bilionário que empenhou toda a sua vida e fortuna em uma forma de trabalhar seus traumas para que gerassem benefícios para outras pessoas. Superman, com a mais extraordinária gama de poderes que já foi imaginada em uma revista em quadrinhos, se recusava a se colocar a parte ou, principalmente, acima da Humanidade. Homem-Aranha era o nerd que tinha tido o maior desejo de seus pares atendido e, de forma dura, aprendeu que os poderes sempre trazem consigo responsabilidades proporcionais aos mesmos.
As pessoas que hoje trabalham com os super-heróis, principalmente os roteiristas, perderam o caminho, esqueceram o que faz a essência de um herói. Abraçando a premissa básica do lucro rápido e fácil, o personagem tem que ter ações impactantes, motivações mal ajambradas e um ou outro diálogo inexplicavelmente jocoso. Como disse acima, não inspiram nada de bom nas pessoas de hoje. E, se não inspiram, não são heróis.
O vídeo destaque neste post mostra que a Humanidade ainda está sensível aos grandes-pequenos exemplos. Não queremos ver o Superman quebrando pescoços ou o Batman dando tiros no Darkseid. Não precisamos do Tony Stark salvando o mundo com ar de desdém ou uma versão do Aranha que acredita que fins justificam os meios. Queremos heróis que, mais uma vez, nos influenciem postivamente com seus exemplos. Apenas isso.
Em tempo: deixo claro que sou fã de personagens como Wolverine e Justiceiro. Me divirto muito com suas histórias. Mas eles estão dentro de um contexto completamente diverso. Eles não são heróis. São meio que soldados recebendo ordens, meio que “assassinos por natureza” focando sua fúria em alvos localizados. Não existem para servir de exemplo, mas para serem roteirizados pelo Garth Ennis. Apenas isso.
Parabéns Xota Xota, mais um ótimo post… É de chorar saber que uma geração inteira que gosta de quadrinhos/filmes vai crescer sem o Homem-Aranha fodido e Super escoteirão…
Este, pra mim, é um grande problema. É lamentável o que chamam de “atualizações dos heróis pras novas gerações”.
Pois é, Jota… É sempre bom relembrar aos deslumbrados de plantão que quebrar pescoços não faz de ninguém modelo a ser seguido. E é sempre bom entender que as perversões atuais estão fazendo uma geração inteira começar a conhecer os super-heróis através de uma ótima totalmente perversa e invertida. Parabéns pelo excelente post.
Ótima? não seria ótica?
E é ótica mesmo… Foi erro de digitação. hahha
Belo texto mas infelizmente as partes que dizem respeito ao Batman são carregadas de Fanboylismo. primeiro o Batman do Miller é fascista sim! ele é um louco obcecado por ordem excessivamente violento quase sociopata e ainda tem os mutantes que são a representação do que o Miller (e grande parte da sociedade) acha que são Punks e Anarquistas uma massa desgovernada de delinquentes juvenis psicóticos (muitos ficaram surpresos com a opinião do Miller sobre o Occupy wall street eu porem não fiquei nem um pouco surpreso é só ler a obra dele pra perceber seu posicionamento) que são “colocados no caminho certo” por um velho violento e draconiano.
quanto ao Batman do Nolan sempre o considerei um egoista sobretudo por causa de TDKR onde ele foge pra Florença com Selina e desistiu de ser o Batman por 8 anos, mas ainda em TDK ele já se mostrava egoista querendo que o Harvey Dent assumisse o fardo pra ele se aposentar e ficar com a Rachel (mesmo que o harvey acabasse com a mafia o Batman sempre seria necessario)
Como apontei em um post que fiz sobre o Frank Miller, acho que sua obra máxima sofre muito com críticas e reservas que são dirigidas ao autor nos dias atuais. Como apontei ali, o Batman do Miller em nenhum momento tenta tomar o poder, derrubar as autoridades constituídas ou cassar as leis. Como ele mesmo diz em uma determinada passagem, o próprio se considera um criminoso pela forma que age. Quando resolve atuar de forma mais declarada, ele visa única e exclusivamente reagir a uma situação de caos, mas – repito – sem tomar o poder das autoridades constituídas. Batman e a Gangue Mutante visam única e exclusivamente manter a segurança de Gotham em um momento em que os EUA estão mergulhados em caos e desordem provocados pela fobia de uma guerra nuclear com a Rússia. E nenhum dos mutantes está ali “obrigado” como faria um fascista. Até pelo contrário, diferente de tantos “democratas” por aí, o Morcego ali está oferecendo uma oportunidade para que pessoas possam se redimir de seus erros de uma forma bem mais construtiva do que ficar mofando dentro de uma cela.
Dizer que Miller generalizou os punks também é equivocado: a Gangue Mutante é um reflexo da decadência moral e falência das instituições, com um grande número de jovens abrindo mão de suas individualidades para adotar um visual padronizado e uma vida de violência. Só lembrando: é um “punk” que ajuda o padre quando do incêndio em Gotham, como descrito no quarto volume. O “rapaz do rádio”.
Quanto ao Batman dos filmes do Nolan, em primeiro lugar eu desconsidero totalmente o terceiro filme, que, pra mim, sequer “encaixa” com os dois anteriores, parecendo um filme completamente diferente. Quanto a vontade dele de deixar de ser o Batman, já no fim de Begins ele afirma isso para Rachal, falando de um tempo em que “o Batman são será mais necessário”. Vejo isso como um traço de humanidade de personagem. Mesmo nos quadrinhos, levou um bom tempo até que Bruce Wayne percebesse que sua guerra contra o crime seria pro resto da vida e que o Batman nunca deixaria de existir. É bem o final de TDK, com ele assumindo a culpa pelos crimes de Harvey e fugindo da polícia. Pena que vem o terceiro filme e acaba com tudo…
Nunca gostei do homem-aranha (mas reconheço a parte boa que ele representa), mas sempre fui fanboy do Demolidor (que pra mim, junto com o Capitas, são os maiores herois da Marvel), ao qual sempre superou suas adversidades, não por si só, mas sempre por todos ao seu redor e PRINCIPALMENTE pelo seu pai, o maior herói de todos. Que em um mundo frio, escuro e de merda, mostrou a seu maior fã, e que nunca devemos desistir, não importa o que aconteça e que nunca se deve desistir do que é certo e nem das pessoas que se ama.
Demolidor tem um traço destacado: seus poderes lhe custaram muito caro. Por mais que se diga que não, ficar cego é algo que impacta a vida de uma pessoa. Órfão de pai, abandonado pela mãe, cego por um ato de heroísmo nível ômega, ele tinha tudo pra se tornar amargurado e mais do que disposto a ser individualista, até cruel com o mundo que o cerca. Acontecimentos posteriores que poderiam reforçar essa condição (como os mostrados em A Queda de Murdock, onde – frise-se – ele foi praticamente abandonado por todas as pessoas em que confiava) o fizeram, espantosamente, se tornar ainda mais forte na crença de sua missão. É uma das coisas que me faz um crítico da Fase Bendis: não sinto essa força naquelas histórias. Vejo obsessão, o que até cai bem em alguns personagens como o Batman, mas não no Matt. Já a Fase Waid para mim, como fã do personagem, é frustrante. Nada a reclamar das qualidades do roteirista: ele domina muito bem o ritmo, sabe fugir do tédio arrastado tão característico em Brian Bendis e constrói diálogos críveis e interessantes. Repetindo uma análise perfeita que li por aí, é como se o Waid estivesse “gastando” no Demolidor as ideias que ele tinha guardado para o Homem-Aranha e que ficaram impossíveis de serem aplicadas diante do vergonhoso sucesso de Slott a frente do principal título do Aracnídeo. Como o Homem-Aranha, acho que sempre há uma tendência a f#$%¨a vida do Murdock demasiadamente, tirando um pouco a força destes acontecimentos e desvitalizando o seu heroísmo.