Iluminamos: “Alem da escuridão – Star Trek” – A Ira de John Harrison

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No Olimpo hollywoodiano, algumas figuras conquistam seu espaço – podendo ascender ao status de divindade (ou, no nosso caso, de celebridade) –, através do trabalho duro e de suas ideias inovadoras. Não que as velhas máximas do rostinho bonito, “testes do sofá” e sobrenomes importantes/conhecidos sejam totalmente mentirosas, mas se provou há muito tempo que, numa indústria altamente competitiva e globalizada de bilhões de dólares, não é possível ir muito longe apenas com isso.

Filho do produtor de TV, Gerald Abrams, o roteirista transformado em diretor, Jeffrey Jacob Abrams (que responde pelo apelido J. J.), dificilmente poderia ser incluído no rol dos herdeiros com “berço de ouro” do entretenimento estadunidense. Embora ele seja de fato uma “Cria de Hollywood” em todos os sentidos – seu primeiro trabalho no ramo foi aos 16 anos – J. J. Abrams precisou “mostrar serviço” antes de chegar onde está hoje, sentado ao lado de “deuses” como Spielberg, Lucas, Cameron, Scott, entre outros.

JJ Abrams

Ao falar de sua mais recente incursão como diretor, Além da escuridão – Star Trek (Star Trek into the Darkness), fica difícil não comentar o sucesso alcançado por esse típico geek americano, tendo sido escolhido para dirigir o que promete ser uma nova trilogia da franquia rival, Guerra nas Estrelas (Star Wars). Após ter estourado na TV como criador de três seriados de sucesso, Felicity (pasmem os senhores!), Alias: Codinome Perigo e Lost, Abrams emplacou logo em seguida sua transição para a telona, convidado para dirigir e escrever (ao lado de seus inseparáveis “parças”) o filme Missão Impossível III. A partir daí, sua carreira continuou num crescendo, aliando a expansão de seu domínio no campo do audiovisual (Fringe, Alcatraz e Person of Interest) e a continuação de sua carreira de diretor – incluindo alguns projetos “quase autobiográficos” como o recomendadíssimo Super 8. Se o produtor Jerry Bruckheimer, até o início da década de 2000, era considerado o Midas de Hollywood (por sua participação nas franquias cinematográficas mais rentáveis do momento), pode se dizer que Abrams está, no mínimo, querendo entrar no páreo.

Em sua aparente despedida da direção de Star Trek (ele deve continuar ‘apenas’ como produtor), criou-se uma expectativa a respeito do que seria apresentado ao público nesse que prometia ser um filme maior e mais impactante do que o primeiro. O fato é que, independente dos rumores que viriam a se confirmar posteriormente sobre Abrams assumir Star Wars – e realizar o sonho de nove em cada dez nerds espinhentos –, já há (ou havia) certa comoção geral em torno da produção, uma vez que se especulava desde o início que ele seria ao menos “baseado” em Jornada nas Estrelas – A Ira de Khan – o mais aclamado longa com os personagens da série original.

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Dessa forma, tal qual numa das missões da Enterprise, JJ e sua equipe precisavam enfrentar um desafio no mínimo complicado: como fazer um roteiro interessante (e, se possível, até surpreendente) baseado num filme já feito que se tornou um verdadeiro clássico cult? Lembrando sempre que refilmagens são sempre perigosas, pois as comparações são inevitáveis e, quando a história principal já é conhecida, há muito pouco que pode atrair o interesse do espectador.

A solução encontrada pela equipe criativa do longa, Abrams e os roteiristas Damon Lindelof (co-criador de Lost), Roberto Orci e Alex Kurtzman – os parças habituais do diretor – foi distanciar o máximo possível as duas produções, criando uma atmosfera de segredo ao redor tanto dos personagens como do enredo principal que só poderia ser desfeita na sessão de cinema (depois de comprado o ingresso, obviamente!).

Uma série de atentados terroristas provocados por uma espécie de “agente secreto” da Federação chamado John Harrison (Benedict Cumberbatch) faz com que Kirk e sua tripulação viajem até um planeta no limite do sistema Klingon para capturá-lo. Este é um período de hostilidades intensas entre os dois lados (Federação e Império Klingon) em que qualquer ato pode iniciar uma guerra declarada, sendo esse, provavelmente, o plot do terceiro filme – programado para 2016. Ou seja, comparando as duas produções: ainda há uma nave em melhores condições que a Enterprise com armamento pesado, um dos tripulantes também precisa fazer um grande sacrifício e o vilão tem uma personalidade dúbia na mesma medida em que ama seus companheiros, não deixa de ser um louco e tirano.

Star-Trek-Into-Darkness-Enterprise-Dreadnaught

Entende-se, após experimentar o resultado final na sala de projeção, o motivo de todo o suspense a respeito da identidade do personagem de Benedict Cumberbatch. Ao retirar o elemento de tensão que teoricamente seria a grande revelação do filme, não sobra muito do roteiro para fazer jus às expectativas dos fãs. O enredo é batido, senão na própria franquia, mas em diversos filmes do gênero. Ele gira em torno da noção de que a maior ameaça são sempre os próprios humanos, o que é reforçado pela descoberta de que Harrison é apenas a ponta do iceberg numa operação para militarizar a Federação – que, para quem não conhece o seriado, é uma organização pacífica (embora eles tenham patentes, não são propriamente um exército e os phasers geralmente são o máximo de armamento que eles carregam porque tem força não-letal e modulável).

Após um excelente primeiro longa, no qual o desafio narrativo era consideravelmente menor – afinal, se tratava do “filme-introdução” e boa parte da história obrigatoriamente deveria envolver a origem dos personagens, suas motivações e o ponto em que tudo isso converge na caçada a Nero (Eric Bana) – sobrava pouco espaço para arroubos criativos em meio ao novo roteiro. Não que a originalidade seja realmente uma marca da série e que, como foi dito, o primeiro filme também não tenha (e não precisava ter) um roteiro arrojado. Ao pensar que todos os envolvidos começaram na indústria escrevendo, as soluções encontradas por eles para resolver os “pepinos” da trama, no entanto, foram, no mínimo, menos do que satisfatórias – mesmo levando em conta que eles não poderiam fazer um arco de três histórias só com as implicações dos eventos de Além da Escuridão (A Ira de Khan é complementado por Jornada nas Estrelas III: À procura de Spock e Jornada nas Estrelas IV: A volta para Casa).

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Sei que não é justo sentenciar uma obra pelo que ela promete ser, nem me considero particularmente um trekkie (tendo assistido episódios esporádicos da série original e alguns filmes soltos), mas fica claro que, em termos puramente narrativos, o filme deixa um pouco a desejar. E, embora nada possa ser comprovado sem dar muitos spoilers, esse talvez seja o motivo da relativamente “fria” recepção ao longa nos EUA. Por outro lado, o filme continua muito bonito visualmente, sendo bem representado pela fotografia de Daniel Mindel, o trabalho dos efeitos de computação gráfica na reprodução das naves, principalmente nas batalhas entre elas, nos mundos ficcionais e no quartel-general em meio a uma São Francisco futurista ficou bastante crível e, pra dizer a verdade, até “embasbacante” – ainda mais na projeção nas salas Imax.

O elenco, por sua vez, não faz feio, é sempre um deleite assistir a uma perfomance de Cumberbatch que, sim, é o mais novo “queridinho” de Hollywood, mas, nem por isso, o espectador precisa curtir menos sua interpretação do vilão. Não à toa, ele possui bastante tempo de tela ofuscando em vários pontos a relação dos protagonistas Kirk (Chris Pine) e Spock (Zachary Quinto) que era o centro dramático da primeira película.

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Impossível também não deixar de fazer uma menção à adição de Alice Eve ao grupo, sua Carol Marcus (num contexto totalmente diferente de A Ira de Khan) aparentemente veio para ficar (inexplicavelmente, eu diria, afinal ela é uma oficial de ciências como Spock e a nave não precisa de dois, como o próprio personagem diz no filme. Mas quem se importa?! Ela é gostosa e fica claro, óbvio e ululante que Kirk a coloca na nave só para poder “dar uns perdidos” com ela mais tarde). Zoe Saldanha continua estonteante como sempre, mas agora temos duas beldades para agradar o gosto de todos os fregueses. E essa, sem dúvidas, foi a maior contribuição de Abrams e Cia para a franquia.

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 5 comentários

  1. Renver

    Eu achei o lance do Khan confuso… Por que colocar a familia dele em mísseis pra se disparar contra o próprio Khan? Se eram tão perigosos por que não deram um fim neles antes?

  2. Vintersorg

    cara, tua resenha foi maneira até essa parte:
    agora temos duas beldades para agradar o gosto de todos os fregueses. E essa, sem dúvidas, foi a maior contribuição de Abrams e Cia para a franquia.

    Tua de interessante que escreveste acima se perdeu com essa conclusão patética.

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