E quando você pensa que a coisa já estava ruim…
Bom, continuando a publicação do projeto Antes de Watchmen, a Panini, depois dos encadernados do Coruja e da Espectral, lançou aquele que, provavelmente, era um dos mais esperados pelos aficionados no universo criado por Alan Moore e Dave Gibbons. Afinal, o perturbado, violento e rebelde Rorschach é um dos personagens mais interessantes da série original, na qual recebeu uma origem sólida e teve sua assustadora psiquê muito bem explorada.
Tão bem explorada que só se podia esperar que os autores incumbidos de fazer um prequel para o sujeito se empenhassem em contar uma boa história de ação, sem mexer nos pontos que ficaram – extremamente, diga-se de passagem – bem expostos na obra master.
E tal impressão foi reforçada quando se tomou conhecimento de que o roteiro ficaria a cargo de Brian Azzarello, que parece transitar com desenvoltura em universos violentos e mais realistas. Dessa forma, e sabendo que ele seria auxiliado pela arte quase fotográfica de Lee Bermejo, foi realmente decepcionante o resultado final.
Temporalmente, a história parece se fixar nos primeiros meses após a Lei Keene (que proibiu que heróis atuassem sem registro). Nela, encontramos um Rorschach novamente sozinho – visto que sua parceria com o Coruja estava agora desfeita pela desistência deste – caçando o Bardo, um serial killer que ataca mulheres e abandona os cadáveres despidos e com textos escritos na pele deles.
Sua investigações o levam a atacar o tráfico de drogas que assola a zona de baixo meretrício de New York e a confrontar o Carne Viva, sujeito que controla ambas as atividades na área – prostituição e tráfico. E é mais ou menos por aí que a paciência do fã de Watchmen vai pro espaço.
É um plot simples. Poderia dar uma história muito legal. Mesmo assim, Azzarello mete os pés pelas mãos.
Erra de cara ao retratar Rorschach como um principiante. Relendo Watchmen – principalmente o capítulo VI, “O Abismo Também Contempla” – descobrimos que Kovacs começou a atuar como justiceiro em 1964. A Lei Keene foi promulgada em 1977. Ou seja, ele está na ativa há pelo menos 13 anos. Assim, fica difícil engolir as bobagens que parece cometer a cada página (só surras homéricas ele leva duas!) ou aceitar seus momentos de hesitação. O “romance” que surge na trama é completamente equivocado, o tipo de coisa que até poderia acontecer da parte da mulher, mas nunca da parte de Walter.
Analisando outras resenhas, observei que algumas pessoas defenderam a obra alegando que Azzarello estava fixando a raiz da transformação de Walter Kovacs em Rorschach. Ok, mas aqui temos um grave porém: Moore e Gibbons já trataram disso. Na já citada sexta parte da obra original, Alan e Dave apontam o momento em que Kovacs sucumbiu definitivamente diante da personalidade de Rorschach: foi em 1975. Ou seja, já há dois anos que ele havia deixado de ser um vigilante apenas violento para se tornar um obsessivo disposto a ir até as últimas consequências no combate aos criminosos. Antes disso, nas palavras dele, era “Gentil com a ralé. Jovem demais pra entender. Mimava os pulhas. Deixava-os vivos.”
Esquecendo esses erros óbvios, nem assim a história se sustenta. O vilão é ridículo, raso como um pires. Todo o elenco coadjuvante é péssimo (e aqui incluo a cidade, que o roteirista força a barra pra que o leitor encare como mais um personagem). As situações construídas são constrangedoras (a cena em que o Rorschach é atraído para uma armadilha enquanto o Carne Viva dança discoteca a la John Travolta é simplesmente ridícula!) e o desfecho é daqueles de dar vontade de escrever pra DC e pedir o dinheiro de volta, se sentindo ludibriado.
As citações a obra original limitam-se a ambientes, como o Gunga Diner. Mas isso é compreensível, já que, como apontei acima, a história se passa após a promulgação da Lei Keene, quando os heróis mascarados foram praticamente banidos.
A tentativa de mostrar o que seria a “verdadeira face da humanidade” durante um blecaute também não faz efeito. Ficou, como quase todo o resto, sem graça, sem força.
Só posso chegar a conclusão que Brian ou não gosta de Watchmen ou faz muitos anos que a leu pela última vez. Poxa, até na mini do Coruja, o Rorschach está muito melhor retratado do que aqui. Lee Bermejo se empenha, com um bom uso de sombras e até melhora bastante a dinâmica da sua narrativa (que, em outros trabalhos, achei muito parada). Mas não consegue salvar. Não salva mesmo.
Enfim, talvez venha coisa pior por aí. Mas eu, sinceramente, duvido.
Comprando este encadernado, além de ter que ver uma história ruim, você deve lembrar que
Que merda, hein Jota? Desatenção a elementos de verossimilhança básica da Cronologia original do Watchmen é o cúmulo do descaso e de um trabalho feito às pressas, sem o mínimo de cuidado… Sinto pena por você tá jogando seu dinheiro fora….
É de lascar mesmo. O trabalho do Azzarello foi tosco e, finalmente, ofensivo ao material original (os dois anteriores eu achei ruins, porém sem ferir Watchmen). Parece uma coisa feita sem vontade, sei lá…
Eles estão “melhorando a obra” como declararam nas entrevistas preliminares.
Ainda insiste com essas coisas né Jota e o da Espectral ainda tinha uma gostosa no final do post!!!
Cara, foi como eu te expliquei: tem um pessoal que me pede isso.
Mas na próxima a resenha é sobre a do Dr. Manhattan, com desenhos do Adam Hughes, especialista em rabiscar mulheres.
ai sim, e tenho certeza que o pessoal que vosmicê diz ai é o Neo, é sempre esse viadu! hehehe
Pelo Amanhã é legal para caralho
Eu também adoro Pelo Amanhã!!!!
Caramba nem essa história do Roshark se salvou…
Respeito a opinião de vocês, pessoal, mas mantenho a minha: Pelo Amanhã é ruim de doer os olhos…
A movimentação tá boa…pros padrões do Jim Lee…
Ele desenhou uma Lois Lane deliciosa
As lutas são boas
O capítulo 9 que ele reeencontra a Lois me pegou numa época que eu andava meio apaixonado, ainda ouvido Rough Boy do ZZ Top de fundo.
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O final é corrido e estranho, eu entendo sua ojeriza
Diferente de outras pessoas, não tenho ojeriza ao traço do Jim Lee. Claro que acho ele limitado em muitos aspectos, mas dentro do que sabe fazer, ele até que manda bem. Bom, pleo menos fica difícil criticá-lo muito em um mundo que tem o Humberto Ramos desenhando o Homem-Aranha e até o Will Rosado já desenhou algumas edições do Batman.
Acho que o principal problema ali está na forma como foi estendido – tanto no tempo real (se você leu Cidade Castigada, deve ter imaginado como Pelo Amanhã talvez tivesse ficado bem melhor se fosse em apenas seis edições também) como no tempo “dos quadrinhos” – e nas subtramas e soluções apontadas. Achei aquele lance todo do Padre muito ruim, por exemplo. O que era pra ser filosófico, terminava sendo arrastado e despropositado.