Iluminamos: Besouro – um blockbuster à moda da casa

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O texto a seguir se trata de uma resenha escrita em 2009 quando ainda era repórter/colaborador/crítico do site Cinetotal. Como a página saiu do ar, e com ela o arquivo dos três ou quatro anos de críticas, decidi publicar por aqui algumas delas que considero ainda relevantes. Esta é uma delas.

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Nessa Retomada do cinema nacional, os filmes brasileiros tem se dividido majoritariamente em dois grupos [isso em 2009]. Aqueles de caráter documental/etnográfico – preocupados em expor as inúmeras mazelas da sociedade brasileira – e os que repetem os padrões estéticos e narrativos da televisão, principalmente o das novelas. Os dois gêneros são muito importantes para a produção do País, pois cada um a sua maneira representa a população que efetivamente frequenta às salas de exibição. Contudo, pode se dizer que ainda faltava algo, o grande salto que diferenciaria um cinema “caminhante” das grandes indústrias cinematográficas, os blockbusters. E “Besouro” chega com essa pretensão de atrair as massas.

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Blockbusters não necessariamente são os líderes de bilheteria, embora esse seja o objetivo final. São filmes construídos para chamar a atenção e isso não é necessariamente algo negativo. No Brasil, embora haja longas que sejam sucesso de público como “Tropa de Elite”, “Se Eu Fosse Você”, “2 Filhos de Francisco” etc. Eles tiveram uma “ajudinha” de fatores “extracampo” que influenciaram seus bons resultados. No caso, a polêmica sobre a pirataria, o selo Globo e a fama dos cantores Zezé e Luciano. Em “Besouro” a situação muda, é um filme e ponto. Sem celebridades, sem os velhos rostos conhecidos da TV, sem polêmica.

No longa, um lutador de capoeira usa suas habilidades para combater a tirania do coronelismo no Recôncavo Baiano da década de 1920. Mesmo tendo passado 32 anos da Abolição da Escravatura, as condições de trabalho nas lavouras é praticamente a mesma. E é nesse ponto que entra o herói que por meio de sua “dança marcial” pretende trazer igualdade para seu povo. Neste quesito, o filme segue a risca o roteiro das produções orientais, como as que revelaram Bruce Lee, que tanto fizeram sucesso no Brasil. Estão lá o mestre, seus dois discípulos que brigam por sua preferência, a jovem objeto de desejo de ambos, e claro, o caráter messiânico que um deles está prestes a assumir. Tudo igual, porém com um tempero brasileiro e baiano que faz toda a diferença.

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“Besouro” não conta com grandes atuações, no entanto é rico visualmente. Cada tomada é de um cuidado sem igual e de uma beleza esplendorosa, fruto do trabalho do diretor João Daniel Tikhomiroff e do fotógrafo de cena Enrique Chediak. Ícone na área dos filmes publicitários, Tikhomiroff traz para o cinema “convencional” toda a sua experiência que inclui mais de 40 prêmios de Publicidade em Cannes. Ele também assina o roteiro que sem dúvida difere bastante do que é feito com frequência por aqui. “Besouro” entretém sem alienar, como fazem os “filmes-novela”, e trata do “Brasil de fato” só que sem aquela carga excessivamente dramática dos relatos semidocumentais. O sucesso ou fracasso dessa receita só o publico dirá.

https://www.youtube.com/watch?v=BLettyTrWfU ————

Como a gente pode observar, passados cinco anos, projetos como Besouro não se proliferaram. Com exceção de Dois Coelhos (2012) e talvez Quando Eu Era Vivo (2014), pode se dizer que tentativas como esta de diversificar a produção comercial, em termos de temática (e não de qualidade técnica e/ou artística), não vingaram. O padrão “Globo” de fazer cinema não só impera, como ganhou uma sobrevida com esse filão das comédias. Nada contra, elas tem um importante papel na produção nacional e algumas delas são até muito boas, mas há espaço para ousar mais.

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Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem um comentário

  1. JJota

    Acho que o problema do Besouro foi mais a falta de bons atores mesmo. Claro que há outros pequenos percalços, como o título – por demais simplório para um subtítulo pretensioso – e os já notórios problemas para desenvolver bons roteiros no cinema brasileiro (as ideias sempre são boas, mas a condução termina se perdendo em vários momentos, muitas vezes por tentar fugir do simples). Mas uma melhor garimpagem do elenco teria ajudado.

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