Iluminamos: Depois da Terra.

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Depois da Terra, segundo filme em que Will Smith faz dobradinha com o filho (o primeiro foi o bom À Procura da Felicidade), estreou agora em junho, nos cinemas brasileiros. Predominantemente um drama ensaboado em ficção científica, o filme foca em dois elementos principais: relacionamentos familiares e a superação de obstáculos através do autoconhecimento.

Dando uma de Don Vitto, pra cortar assunto, aqui vai a sinopse do filme, extraída do site Adorocinema.com:

“Há 1000 anos, um cataclismo tornou a Terra um lugar hostil e forçou os humanos a se abrigarem no planeta Nova Prime, morando em naves espaciais. Depois de uma missão, o general Cypher Raige (Will Smith) retorna à sua família e ao filho de treze anos de idade (Jaden Smith). Mas pouco tempo após seu retorno, uma chuva de asteroides faz com que a nave onde viajavam caia na Terra. Com o pai correndo risco de morte, o jovem adolescente deverá aprender sozinho a domar este planeta, encontrando água, comida e cuidando de seu pai.”

Depois de uma curta narração introdutória em off, situando a narrativa no tempo e no espaço, o filme nos apresenta Will Smith, no papel do General Cypher Raige. Ele nos explica a situação do planeta Nova Prime, e, principalmente, nos apresenta às criaturas alienígenas que habitavam o planeta antes da chegada dos humanos, e que seriam seus grandes inimigos. Cypher Raige seria um general fantasma. “Mas o que é um fantasma, tio?”. O filme nos dirá que fantasma seria um homem que não sente medo, por isso, não emite feromônios, única forma possível de ser “visto” pelos monstros alienígenas, tornando-se, assim, invisível pra eles e uma arma letal.

confronto

Em seguida, nos apresentará o filho do general, Kitai Raige (interpretado pelo filho do Will, Jaden Smith), um típico adolescente, cheio de inseguranças, medos e dificuldades em lidar com o pai, um militar sisudo e rígido. Poderíamos dizer que o filme basicamente acaba aí. M. Night Shyamalan, diretor de filmes ótimos como Sexto Sentido, Corpo Fechado e Sinais parece ter perdido a mão há bastante tempo. O filme não estabelece conexão com o expectador: os personagens são estereotipados, e as atuações engessadas de Will e Jaden não ajudam a criar vínculo emocional. Will exagera na expressividade necessária ao personagem, e se mostra como uma estátua emburrada e em constante estado de prisão de ventre.  Jaden, por outro lado, pega pesado na caracterização emocional, transformando o filho do general num bebê chorão em constante estado de diarreia. O general Cypher é redundantemente rígido, e eu não consigo entender por que o filho teria tanta necessidade de se aproximar mais de um pai com o qual raramente tenha travado contato.

will e jaden

Os elementos de ficção científica presentes no filme não convencem. A principal arma dos protagonistas é um bastão que, dependendo da configuração, pode expelir inúmeros tipos de lâminas. Difícil acreditar que seja preciso esperar 1000 anos pra termos acesso a esse tipo de tecnologia samurai. O sinalizador da nave (que garantiria a chegada da equipe de resgate ao local do acidente) mais parece um celular da Tim ou da Claro: o rapaz passa o filme inteiro correndo atrás do breguetinho, e, quando finalmente consegue resgatá-lo, tem que subir até o topo de uma montanha pra conseguir pegar o sinal.

O traje do jovem Kitai seria sensível às emoções e ao perigo externo, mudando de cor de acordo com a situação. Na prática, este traje em nada acrescenta, nem ao drama, nem à narrativa, transformando-se em um mero escoadouro de efeitos especiais.

O design das naves não apresenta nada de realmente novo, apelando pra formas facilmente identificáveis pelo espectador imediato, como raias ou lanças. Nada que realmente conote a presença de 1000 anos de cultura e cause estranhamento. Os equipamentos médicos que o general Cypher usa para tentar se tratar serão completamente possíveis em algumas décadas e nada impressionantes.

raio x

Do ponto de vista técnico, o filme tem péssimas escolhas de filmagem. Um exemplo claro se dá mais ou menos no meio do filme. O filho sai da nave, sempre monitorado e auxiliado pelo pai, em busca do sinalizador que está na cauda da nave, a qual foi parar a uma distância de 100 quilômetros da área da queda. No meio do caminho, encontra-se num ponto crítico: precisa transpor um precipício colossal, repleto de quedas d’água e árvores. O computador de bordo da nave caída informa ao general Cypher que só há duas alternativas para o filho, ou desce pelas pedras, ou faz um salto de fé. De qualquer maneira, as chances estatísticas de sobrevivência do garoto seriam ínfimas.

penhasco

Teoricamente, seria uma cena interessante, na qual o pai deveria escolher entre arriscar tudo, seu filho, o relacionamento que começaram a construir durante todo esse problema, a salvação de ambos. Cypher escolhe não arriscar o filho, manda que ele volte, aborte a missão. Inicia-se uma discussão cujo tema principal é confiança. Poderia ser uma cena tensa, não fosse a escolha do diretor, de ambientá-la em um cenário fantasticamente lindo, intensamente colorido e vivo. Tal cenário dispersa completamente a tensão entre os personagens, não só pelo excesso de informações e cores como pela opção por planos abertos, panorâmicos, que em nada favorecem o intimismo que tal cena necessitaria.

afterearth

Na prática, nossa dupla de protagonistas tem dois grandes inimigos: o ambiente hostil do planeta em que caíram (que se traduz em mudanças brutais de temperatura, sanguessugas infecciosas, macacos, pumas e águias gigantes); e uma das criaturas alienígenas que a nave transportava e se liberta com o acidente, perseguindo o jovem Kitai ao longo do caminho. Ou seja, falta real motivação, pois o perigo imposto aos personagens em nada surpreende ou apresenta dificuldades, tornando a ação passável e raramente excitante. O ponto alto do filme se dá logo no começo, quando Kitai está prestes a deixar a nave, e seu pai, em tom de conselho, faz um pequeno discurso a respeito da natureza do medo. Um raro momento de sangue, num filme quase que totalmente anêmico.

Respira, meu fiho! O filme tá sem oxigênio mesmo! Depois a gente vai ali nos fundos e mata aquele diretorzinho indiano!

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 4 comentários

  1. JJota

    Outro samba do crioulo doido, mostrando uma mistura de Avatar com Alien e toda aquela baboseira de filho-que-ama-pai-ausente-que-também-ama-filho-mas-não-sabe?

    1. E acaba que o filme não é nenhuma das coisas direito. Bem fraquinho. Mas o discurso sobre o medo do Cypher é bastante bacana. Vale a pena ver.

  2. toddy

    Ah, putamerda wil smith e o filho? não dá né? Apesar que a procura da felicidade, eu chorei igual a um ninja silencioso! hehehe

    1. À Procura da Felicidade é um filme muito bonito, comovente sem ser piegas, e que dá a mensagem muito bonita (e estranha a muitos brasileiros) de que o esforço compensa. Nesse filme, o Will Smith tá muito bem, convence como cara sofrido (emagreceu pacas pro personagem) e a relação dele com o filho é autêntica, convincente. Coisa que não aconteceram nesse filme aí que eu cobri.

      Abração!

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