Ao ser escalado para assistir e resenhar GODZILLA, confesso ter imaginado que seria algum tipo de sacrifício. Não sou fã nem profundo conhecedor do personagem, apesar de reconhecer que o personagem é icônico e já protagonizou várias produções (cheguei a assistir aquele desenho, produzido pelos estúdios Hanna-Barbera). Além disso, a péssima repercussão daquele longa de 1998 (com Matthew Broderick , que, apesar de ter sido considerada um fiasco, curiosamente faturou bem) ainda ecoava na minha mente.
Mas e aí? Valeu?
Pra começar, ESQUEÇA os trailers, se você viu algum. Apesar de tentar transmitir um clima catastrófico (o que realmente acontece), os trailers indicam uma batalha entre a humanidade e o monstro do título, o que não é verdade. Os vilões são outros, chamados de MOTU, enquanto Gojira, seu nome no original (mistura de gorila – “gorira” em japonês – e baleia – “kujira” em japonês), é tratado aqui como uma força de equilíbrio da natureza. Por causa disso, o filme, por vezes, lembra Círculo de Fogo (Pacific Rim) nas batalhas de gigantes, só que com diferenças bem significativas. Pacific Rim é mais aventuresco, com ênfases nas batalhas, enquanto Godzilla foca mais nas consequências desses monstros caminhando pela Terra. Ou seja, o tal clima de catástrofe e dramas humanos no meio da destruição.
E é aí que o filme peca.
É preciso ressaltar que Gojira está muito bem retratado e fiel às suas origens nipônicas. Tanto na história quanto na caracterização: gigante, movimentação arrastada (como são os monstros gigantes de seriados japoneses), rugido assustador e com sua destruidora “baforada atômica”. Mas o personagem título só dá as caras mesmo depois de UMA HORA DE filme. Mesmo na batalha final, Gojira tem sua atenção dividida com o protagonista humano. É honesto que um monstro “pré-historico” que urra não tenha destaque de mais de meia hora de atenção initerrupta nas telas, mas um pouquinho mais de destaque não faria mal.
Como o filme foca nos humanos, falemos dos atores: Juliette Binoche (Sandra Brody) foi desperdiçada, mas faz parte. Bryan Cranston (Joe Brody) foi a maior pegadinha do filme. Poderia contribuir muito com a trama ao ponto de fazer acreditar que a história vai focar nele, mas engana o espectador. Aaron Taylor-Johnson (Ford Brody) não tem uma boa atuação, passando quase no automático durante o filme. Contudo, como a destruição chama mais atenção, ele acaba passando “na moita”. Elizabeth Olsen (Elle Brody), com menos tempo de tela, demonstra mais carga dramática que Aaron. Curiosamente os dois serão Mercúrio e Feiticeira Escarlate no próximo filme dos Vingadores. Ken Watanabe tem algumas falas marcantes, como a que discorre sobre a relação entre humanos e natureza, mas também não tem grande destaque.
Entre as falhas do filme, o que mais me incomodou foi o fator “coincidência”: principalmente no que diz respeito ao personagem de Aaron, que sempre estava ou era levado ao local da ação. A destruição das cidades é bem crível e impressionante. A versão 3D, assim como no enredo, trabalha com os humanos, em vez de causar o efeito de “aproximação” nos monstros. Pode parecer frustrante no início, mas é uma decisão interessante, pois faz o publico se sentir no meio de toda a bagunça. Ainda assim, se optar pelo 2D, não estará perdendo nada pois nem sempre o efeito pode ser percebido, uma vez que boa parte do filme tem cenas escuras.
Com tudo isso, GODZILLA é um pouco maçante, tenta ser bem dramático, mas é apenas “assistível”. Pode agradar homens (com a destruição em massa) e mulheres (com a história do casal). Gojira, o rei dos monstros, se não tem mais tempo de tela, pelo menos é mostrado de forma digna. O maior erro parece mesmo ter começado lá no início, quando os trailers “venderam” outro filme.
Ótima resenha!