Iluminamos: No Bra – meu gender bender favorito

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Tenho gostos estranhos, isso é inegável. No meu caso, a curiosidade como pesquisador de quadrinhos (fiz mestrado sobre isso, sério, isso é possível!!!) se junta às minhas próprias bizarrices enquanto consumidor de material relacionado à cultura japonesa, como pode ser visto nos posts iniciais. E é justamente esta oportuna reunião de peculiaridades que me leva a mangás como No Bra, meu grande achado de 2010.

Prometi a mim mesmo que faria este post quando já tivesse consolidado esta seção como espaço de crítica e discussão das produções editoriais japonesas. O que deveria acontecer através da resenha de pelo menos uma dezena de grandes clássicos e shounen de sucesso. Obviamente, duas postagens não configuram uma consolidação, mas minha verdadeira paixão por este mangá (sou dramático desse jeito) me compeliu a publicar esta resenha antes.

Se as outras “críticas” poderiam dar a entender que sou um gordinho pervertido, com essa, vocês, provavelmente, terão certeza… E, ainda, vão me achar meio viadinho…rsrs Enfim, leia o texto, mergulhe no mundo de “No Bra” e tire suas próprias conclusões.

Como o título desta postagem já entrega, No Bra (“Sem Sutiã”, em português) pertence a um dos gêneros mais curiosos da cultura japonesa, o Gender Bender (mistura de gênero). Presente em vários segmentos do entretenimento japonês, desde os tradicionalíssimos teatros Nô e Kabuki até manifestações mais populares como o cosplay, essa “confusão de gênero” em que homens se vestem de mulher e vice-versa não tem obrigatoriamente uma relação com a homossexualidade, mas, é apenas mais uma forma de se expressar tanto artística quanto psicologicamente. E, claro, não é algo só do Japão. O grande mestre-cartunista Laerte ou os diversos blocos das piranhas espalhados pelo Brasil estão aí pra provar isso.

Nos mangás, a androgenia se faz bastante presente, geralmente sendo representada de forma leve (cômica) e até natural, embora muitas vezes essas histórias adquiram tons mais sombrios, sendo usadas para discutir temas como preconceito, bullying, traumas de infância, entre outros. Embora não seja exclusivo ao Oriente, um dos exemplos mais comuns de gender bender são as princesas que se disfarçam de homens para poder se envolver em aventuras, algo que seria considerado intrinsecamente masculino. Lembrando sempre de A Princesa e o Cavaleiro (Ribon no Kishi) de Osamu Tezuka.

Em No Bra, o adolescente Masato Kataoka está prestes a ingressar no (equivalente japonês ao) Ensino Médio. Ele foi aceito numa escola de elite e, por isso, passará a morar sozinho num apartamento alugado pelos pais. Para reduzir as despesas, sua mãe lhe arranja um colega de quarto, Yuki Nomura, melhor amigo de Masato na infância que também ingressaria no mesmo colégio.

Acontece que o rapaz não faz a mínima ideia de quem seja Yuki, uma vez que ele esqueceu (!!!) da amizade que os dois tinham. Por isso, quando seu novo colega de quarto, um crossdresser, chega ao prédio vestido de mulher (uma garota muito bonita por sinal! Até para o leitor que sabe que é um menino), o tarado Masato acredita que seus pais se confundiram e agradece aos céus pela “benção” de morar sozinho com uma garota.

Lembrando que Yuki significa neve e, de fato, é um nome ambíguo, talvez até com uma conotação mais feminina do que masculina (como não lembrar do Yukito de Sakura Card Captor…ai, ai, ai Yukito!). É só um telefonema da sra. Nomura que confirma a identidade de Yuki. Curiosamente, mesmo sabendo da verdade, Masato se surpreende ao continuar atraído pelo amigo de infância (o cara é mó gatinha, fazer o quê?!).

É interessante notar que o próprio Yuki não se considera homossexual. Ele tem um “carinho” não nomeado por Masato e busca mais retribuir essa atração do garoto, do que satisfazer algum desejo seu. Sua afeição é puramente inocente e seu amor pelo colega passa mais por uma admiração ainda dos tempos de infância, pois Masato o protegia dos ataques das crianças.

O autor Kenjiro Kawatsu brinca o tempo todo com essa dinâmica entre os dois e sempre com muito bom humor os coloca em situações constrangedoras que são hilárias, para o leitor. Por outro lado, a arte de Kawatsu não chega a ser das mais elaboradas e seu traço não pode ser considerado “gracioso”, porém sua técnica é boa o suficiente para fazer com que o leitor se perca na caracterização de Yuki, às vezes mostrado como uma menina e outras retratado como um menino que se veste de mulher.

No Bra poderia ser uma típica comédia de harém – um tema autoexplicativo que falaremos numa próxima oportunidade –, pois, além de Yuki, a professora Mariko Mizutani passa a viver com os dois (para não pagar aluguel). Uma aproveitadora de carteirinha, ela constantemente bebe na casa e muitas vezes se oferece para Masato quando ele ameaça mandá-la embora. Além disso, Masato também passa a despertar o interesse da garota mais popular da escola, Kaoru Oozora.

Yuki na capa da eletrizante edição final (com várias revelações e a decisão do protagonista). Ao lado (direita), os personagens principais. A frente, o triângulo amoroso e, no fundo, a professora, o amigo Hidepon e a prima de Yuki.

O fato de Yuki ser um homem e, ainda assim, fazer com que Masato fique dividido só faz com que a história fique mais interessante. Embora tecnicamente não possa ser considerado um yaoi (mangá de temática assumidamente homoafetiva), No Bra claramente emprega muitos elementos do gênero e de forma muito inteligente faz com que o leitor esqueça seus próprios preceitos e se pegue torcendo por Yuki (ou será que foi só eu?!). Mostrando assim que garotas fofinhas são garotas fofinhas (na ficção), independente de sua sexualidade. Ou, como naquele episódio de House, a mulher perfeita, em última análise, é um homem! Hauahauaha (risada nervosa)

SERVIÇO:

Kawatsu-sensei desenhava hentai no começo da carreira. Alguém surpreso?

O mangá foi publicado entre 2002 e 2004 na Weekly Shounen Champion e possui cinco volumes ao todo. Diferente de K-On! e Fairy Tail, este mangá ainda não foi lançado no Brasil (e pode nunca ser, uma pena!) e creio que seja até bem desconhecido mesmo dentro do público otaku (nem teve anime!), por este motivo disponibilizarei informações de como encontrar o mesmo (em inglês). Pode-se dizer também que por trás de iniciativas como esta, está a tentativa de ver um mangá tão querido como No Bra despertar interesse e ser lido por outras pessoas.

Você pode encontrá-lo em:

http://www.mangareader.net/217/no-bra.html (inglês)

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 4 comentários

  1. Victor Vaughan

    Outra ótima dica de leitura, Messias! Um dos grandes baratos de seu texto é conseguir imaginar com nitidez as situações e expressões dos personagens, como no caso aqui o jovem Masato , ao passar mau por causa de uma colega de quarto (homem!), mas que o deixa suando frio mesmo assim! Parabéns pelos achados! Eu quero ler também.

  2. Pollyana Escalante

    Adorei! Já estou no 3 livro! É viciante! A/O Yuki é tão fofa(o)! Que confuso! rsrs

    @pollyescalante:twitter 

  3. Cristian Filipe

    poxa alguma scan podia traduzir /; pq e foda le em ingles sahusaush

  4. Cosplace

    Desde moleque adoro tudo sobre mangá, cosplay e
    animes. Sou doido para ir na ccxp, mas estou ainda sem
    condições financeiras. O meu último cosplay foi do naruto.

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