Iluminamos: O estranho rock do Ogre You Asshole

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Aproveitando o ensejo do ótimo post da Gaby Molko, falarei um pouco de uma das minhas bandas japonesas favoritas.

Relativamente poucos músicos japoneses são conhecidos no Ocidente. Mesmo aqueles que fazem sucesso em trilhas sonoras de animês e tokusatsus não chegam perto da influência da música norte-americana e europeia – sobretudo britânica – em quantidade e intensidade (embora, ironicamente, esse quadro seja talvez melhor do que a penetração cultural da música latino-americana… não damos muita atenção a nossos hermanos). No caso nipônico, o que há de fato são uma dezena de bandas e cantores que atraem para si a maior parte dos fãs e assim muito da boa música japonesa (e oriental como um todo) fica à margem do público, como o Ogre You Asshole. Embora sejam ilustres desconhecidos do público brasileiro e nem façam tanto sucesso assim no Japão, sua sonoridade diferente – um rock mais leve e melódico com um quê de experimental – já foi reconhecida até por Johnny Marr, cofundador e ex-guitarrista do The Smiths.

Aliás, essa excentricidade do quarteto japonês não fica apenas no som. Eles realmente vestem a camisa no quesito “não convencionalidade”, levando os títulos rock alternativo e indie rock ao pé da letra. A começar pelo nome, Ogre You Asshole, que traduzido do inglês seria “Ogro, seu babaca” (ou algo pior!). Contudo, a forma como eles chegaram a esse nome consegue ser ainda mais curiosa. A frase foi escrita pelo baixista Eric Judy após um show de sua banda Modest Mouse – da qual Marr também participa e é, até hoje, uma das grandes influências do Ogre – no braço do antigo baterista Arata Nishi, em 2001. O Ogre ainda não existia, por assim dizer, e Nishi procurou seu ídolo após o show perguntando justamente por um nome para a banda que ele tinha acabado de formar com os amigos. Só bem mais tarde eles vieram a saber que a frase fora tirada do filme “A vingança dos nerds”, de 1984. E numa conversa posterior com Judy, dessa vez dividindo o palco, em 2008, o músico alegou estar tão o bêbado que não se lembrava de nada (!!!!).

Afastado da banda por problemas de saúde, Arata é o responsável pelas capas dos álbuns

Formado atualmente por Manabu Deto (guitarra, vocal), Kei Mabuchi (guitarra), Takashi Katsuura (bateria) e Takashi Shimizu (baixo) – o substituto de Norihito Hiraide, que saiu em 2011 –, o grupo acaba de lançar o quinto álbum 100-nengo (100 anos depois), em setembro do ano passado. Ele marca uma nova fase da banda, iniciada com Homely (Caseiro), de 2011, com trabalhos menos comerciais de acordes mais melódicos e uma profunda veia jazzística, criando uma musicalidade que se afasta um pouco do feijão com arroz rockeiro. Um exemplo seria o carro-chefe do novo trabalho, Yoru no Fune (Um navio na noite), cujo clipe pode ser conferido abaixo.

Sem dúvida, o som da banda é muito interessante e, confesso, um verdadeiro desafio auditivo para alguém acostumado com a barulheira costumeira do j-rock. Meus trabalhos favoritos do grupo por acaso são os miniálbuns “Shiranai Aizu Shiraseru Ko” (algo como “A criança que vai falar do sinal desconhecido”????) e de 2008. “Ukarete Iru Hito” (“pessoas exultantes” ou “pessoas felizes”), de 2011. Este é o terceiro da banda no formato que é muito popular no Japão, um disco com apenas cinco ou seis músicas. Nele, as letras introspectivas e auto-reflexivas do grupo contrastam com as melodias ora alegres e contagiantes ora leves e harmoniosas – uma verdadeira sessão de terapia auditiva e relaxamento. Um ótimo exemplo é a canção “Balance” (do inglês, equilíbrio), carro-chefe do álbum, cujo vídeo está disponível no Youtube.

Desse trabalho ainda se destacam as belíssimas “Race no Course” (Pista de corrida) e Mannaka de (No centro). Apesar do nome estranho, o “Shiranai…” é bonito até dizer chega e proporciona algumas das experiências auditivas mais prazerosas que um ouvinte poderia ter (mesmo sem saber japonês!). O miniálbum tá disponível no Grooveshark com exceção da faixa Nadaraka Nanda. Recomendo fortemente uma clicada, vale muito a pena!

Provando que, com o Ogre You Asshole, a regra é não ter regra. Apesar da pouca notoriedade o Ogre You Asshole realizou uma turnê pelos Estados Unidos e Canadá abrindo os últimos shows do Wolf Parade que, aliás, entrou numa espécie de recesso indefinido depois disso. Através do respaldo dessa e de outras bandas da cena alternativa internacional ao longo dos últimos anos, o Ogre foi ganhando espaço e, em 2009, deixou de ser uma banda independente, assinando com a gravadora VAP. Pode-se dizer que o marco dessa ascensão comercial foi  o lançamento do single “Pinhole” (Cabeça de alfinete) já através do novo selo. A faixa título, seu maior sucesso até hoje, foi incluída no repertório do Nano-Mugen Compilation 2009. Este CD reúne uma música de cada um dos conjuntos que se apresentou no festival de mesmo nome organizado pelo Asian Kung-fu Generation, um dos maiores nomes do indie rock japonês (j-indie) atualmente.

PS: Todos os nomes em japonês foram porcamente traduzidos de suas versões em inglês por este que vos fala. Para versões mais corretas dos nomes das músicas e seus significados, vá fazer um curso de japonês!

Fontes:

Site oficial – http://www.vap.co.jp/oya/ (inglês/menu – japonês/info)

Página do fã-clube –  http://www.oyafan.com/ (em inglês)

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem um comentário

  1. Jonathan zzz

    Vou ouvir. Nunca liguei muito pro j-rock japonês, a única banda que ouvi um pouquinho mais foi a the brilliant green que é meio pop alternativo, justamente por isso me interessei pelas caracteristicas dessa ogre you asshole.

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