Iluminamos: Rising Stars – Estrelas Ascendentes.

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A Humanidade é tão consciente de sua própria falta de merecimento, que sempre desconfia quando chega a salvação.

Rising Stars é a visão de J. Michael Straczynski para o batido tema “e se os super-heróis existissem no mundo real?”. Em outras palavras, poderíamos chamar de “seu Watchmen“. A diferença é que ele traz para a “realidade” os super-poderes, quando crianças de uma mesma cidade – Pederson, EUA – começam a manifestar uma variedade de habilidades extraordinárias. As autoridades públicas intervêm e descobrem que todas nasceram mais ou menos na mesma época e que estariam “incubadas” quando do Clarão, um fenômeno que ocorreu sem explicação no céu durante uma noite e que parecia não ter trazido maiores consequências. Sendo assim, eles recolhem todas as crianças na mesma situação – 113, no total, embora várias delas ainda não tivessem manifestado nenhuma habilidade – e as coloca juntas, para acompanhar seu desenvolvimento.

"Portanto, John, você terá de trilhar uma longa e solitária jornada... sabendo que só existe violência no fim dela. Nunca se permita desenvolver afinidade ou intimidade com qualquer deles. Nunca se permita gostar deles. Jamais acalente amor por qualquer um deles... ou deixe que algum deles ame você. Tudo porque, algum dia... e não o invejo por essa terrível responsbilidade... você pode ser obrigado a matá-los... pois talvez seja o único capaz disso."
“Portanto, John, você terá de trilhar uma longa e solitária jornada… sabendo que só existe violência no fim dela. Nunca se permita desenvolver afinidade ou intimidade com qualquer deles. Nunca se permita gostar deles. Jamais acalente amor por qualquer um deles… ou deixe que algum deles ame você. Tudo porque, algum dia… e não o invejo por essa terrível responsbilidade… você pode ser obrigado a matá-los… pois talvez seja o único capaz disso.”

No “primeiro ato” (Nascidos na Chama Estelar), os Especiais – como são chamados pelas outras pessoas –  já adultos e, aparentemente, livres do Governo, voltam a entrar em contato uns com os outros quando descobrem que alguns deles estão sendo eliminados. Quem toma à frente das investigações é John Simon, poeta (?!) que possui “sensibilidade elétrica” e é, das mais diversas formas, o mais poderoso de todos. Quando descobre que a energia de cada um que morre termina sendo dividida entre os outros, coloca seus ex-colegas na lista de suspeitos.

"Já não sinto mais nenhum medo. Nem do meu pai nem do que todos vão pensar... e nem mesmo disto. Aqui, em meus últimos momentos, enfim serei quem realmente sou... Hoje, eu me torno o que nunca tive coragem de ser. Um herói."
“Já não sinto mais nenhum medo. Nem do meu pai nem do que todos vão pensar… e nem mesmo disto. Aqui, em meus últimos momentos, enfim serei quem realmente sou… Hoje, eu me torno o que nunca tive coragem de ser. Um herói.”

Na segunda parte (Guerra de Titãs), os Especiais enfrentam as consequências dos acontecimentos finais da “primeira temporada”, descobrem o verdadeiro culpado pelas mortes e, finalmente, percebem qual o seu objetivo, o porquê deles terem sido agraciados com as mais diversas habilidades: mudar o mundo, fazendo o que está ao alcance de seus poderes para torná-lo um lugar melhor.

"Dá pra acreditar? Eu posso rachar uma montanha ao meio usando só as minhas mãos, e consigo voar mais rápido que um caça da Força Aérea... mas sou incapaz de alfabetizar uma criança. Não tenho como rformular guetos ou favelas, e se eu declarar guerra a traficantes de um bairro, eles se mudam pra outro. Não posso impedir que pessoas irresponsáveis encham a cara e saiam dirgindo, nem coibir casos de violência doméstica. Se um cometa entrar em rota de colisão com a Terra, e a humanidade precisar de alguém pra evitar a catástrofe... Aí, sim, eu sou o cara. Pena que a maioria dos problemas do mundo não possa ser resolvido na base da destruição. Nada é tão fácil assim."
“Dá pra acreditar? Eu posso rachar uma montanha ao meio usando só as minhas mãos, e consigo voar mais rápido que um caça da Força Aérea… mas sou incapaz de alfabetizar uma criança. Não tenho como reformular guetos ou favelas, e se eu declarar guerra a traficantes de um bairro, eles se mudam pra outro. Não posso impedir que pessoas irresponsáveis encham a cara e saiam dirigindo, nem coibir casos de violência doméstica. Se um cometa entrar em rota de colisão com a Terra, e a humanidade precisar de alguém pra evitar a catástrofe… Aí, sim, eu sou o cara. Pena que a maioria dos problemas do mundo não possa ser resolvido na base da destruição. Nada é tão fácil assim.”

No último ato, vemos o desenvolvimento da missão dos Especiais e a reação das forças conservadoras a essas mudanças.

E é aqui que Rising Stars fica realmente interessante.

Até ali, Straczynski seguiu bem o padrão “super-heróis num mundo de verdade”, cometendo aquilo que, na minha opinião, é o erro da maioria dos autores quando se empenham neste tipo de projeto: se deixam levar demais pelo lado mais vergonhoso da coisa. Ok, podemos até aceitar que a invulnerabilidade não seja um passaporte para o sucesso no mundo dos negócios, mas é forçado acreditar que um sujeito incapaz de se ferir não encontraria uma carreira de sucesso monetário pelo menos mediano. Ou que o mundo em geral – e os Especiais em particular – assistiriam a ocupação e isolamento de uma grande cidade dos EUA por dez anos.

O que destaca o terceiro ato – intitulado apropriadamente de Deuses e Monstros – é que é exatamente assim que eu imagino a reação de uma parcela ínfima da Sociedade a mudanças que tragam benefícios  a todos. As pessoas se acostumaram a uma relação de poder e esta só pode existir em uma situação de dependência. A minoria explora a maioria, retira a quase totalidade dos recursos para si e atira migalhas para a imensa multidão. Exemplificando, a seca do Nordeste do Brasil é um problema que já foi provado ser solucionável com um mínimo de boa vontade política. O fim da seca, no entanto, representaria o fim de um ciclo de miséria e dependência naquilo que é básico. O “servidor público” atua como se fosse uma alma benevolente: faz muito menos do que aquilo que deveria, mas se comporta como se fizesse um favor a população, que, normalmente imersa em ignorância, acha que realmente tem que ser grata pelo serviço malfeito que, às vezes, recebe.

"A pior coisa que a gente pode fazer com certas pessoas é tomar os seus brinquedos e rasgar seus milionários contratos federais. Anular sua capacidade de gritar 'façam o que nós mandamos sem jamais questionar nada'. Era só questão de tempo até que esse tipo de gente se mobilizasse em peso."
“A pior coisa que a gente pode fazer com certas pessoas é tomar os seus brinquedos e rasgar seus milionários contratos federais. Anular sua capacidade de gritar ‘façam o que nós mandamos sem jamais questionar nada’. Era só questão de tempo até que esse tipo de gente se mobilizasse em peso.”

Em Rising Stars, é a elite política e militar que se incomoda de sobremaneira com a intervenção dos Especiais nas relações de poder nos EUA. Eles não estão sendo prejudicados, apenas não aceitam a sua perda de importância e de influência, principalmente depois de uma ousada jogada política de um dos mais proeminentes Especiais.

Straczynski disse diversas vezes que começou Rising Stars sabendo como ela iria terminar e tendo uma noção de como ia começar, mas completamente confuso entre o que preencheria o espaço entre um e outro. Seu texto, como quase sempre, é agradável de ler, mesmo quando as passagens não são muito interessantes. Seu forte, como sempre, está na construção de diálogos críveis e na criação de personagens que chamam a atenção, ainda que algumas vezes ele peque por torná-los um tanto quanto caricatos. Particularmente, acho que a mensagem seria melhor assimilada  se a história fosse em 12 edições em vez de 24, como foi, mas ainda assim acho que ela não se perde.  Mas devo escrever que, embora a mensagem seja boa, achei o final anticlimático, piegas e frustrante. Mas aí até que ficou dentro do padrão do roteirista.

"Eles costumavam me chamar de poeta. Acho que nunca pararam pra pensar que epitáfios também são uma forma de poesia."
“Eles costumavam me chamar de poeta. Acho que nunca pararam pra pensar que epitáfios também são uma forma de poesia.”

Sobre a arte, Keu Cha e Christian Zanier ficaram dentro de um padrão que não empolga e um traço que varia do mais ou menos até um fala sério, mas também não chega a fazer os olhos sangrarem. Nota-se a vontade de ser mais anos 90 na composição das páginas e um certo descaso aqui e acolá com a narrativa, deixando algumas passagens mais difíceis de ser melhor compreendidas. Stuart Immonem, que desenhou uma única parte, ficou dentro do estilo que adotou nos últimos anos e que não me agrada, de sobremaneira na construções de expressões: acho que todo mundo fica parecendo boneco de cera no seu traço. Quanto a Brent Anderson, mantenho minha opinião dele desde quando vi seu trabalho em Deus Ama, O Homem Mata, graphic novel que fez em parceria com Chris Claremont: é um traço que parece não se adequar ao mundo dos super-heróis. Além disso, a colorização não casa bem com seu desenho cheio de sombras. Por curiosidade, vi algumas páginas dele em preto e branco e achei que ficou bem melhor.

Enfim, uma boa leitura, mas que, infelizmente, ficou pouco acessível por causa do preço.

Rising Stars, Estrelas Ascendentes - A Saga Completa. Roteiro de J. Michael Straczynski. Desenhos de Keu Cha (com Jason Gorder), Christian Zanier (com John Livesay, Marlo Alquiza, Victor Llamas, Steve Nelson, Alp Altiner, Danni Miki e Edwin Rosell, seguindo esboços de Ken Lashley), Stuart Immonem (com Marlo Alquiza) e Brent Anderson. Editora original Top Cow. Ediotra no Brasil Mythos. 616 páginas. R$ 134,90.
Rising Stars, Estrelas Ascendentes – A Saga Completa. Roteiro de J. Michael Straczynski. Desenhos de Keu Cha (com Jason Gorder), Christian Zanier (com John Livesay, Marlo Alquiza, Victor Llamas, Steve Nelson, Alp Altiner, Danni Miki e Edwin Rosell, seguindo esboços de Ken Lashley), Stuart Immonem (com Marlo Alquiza) e Brent Anderson. Editora original Top Cow. Editora no Brasil Mythos. 616 páginas. R$ 134,90.

 

 

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 11 comentários

  1. Vilipendiador Unperucked

    Não entendi uma coisa. A edição da “Saga Completa” tem apenas a “segunda temporada” ou tudo?

  2. É impressão minha, ou a “explicação” sobre a criação desses Especiais é muitíssimo parecida à causa do surgimento dos superseres do Novo Universo da Marvel, na década de 1980?

        1. Vilipendiador Unperucked

          Caray! É a ULTIMA INFORMAÇÃO de todo o post.
          hauheuhauhuha

          1. JJota

            Se eu colocar o preço no começo, temo que as pessoas nem leiam o resto.

    1. JJota

      Olha, só aconselho comprar com usando bônus ou pegando um bom desconto. Se, pelo menos, tivesse a arte de um sujeito como o Gary Frank, por exemplo…

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