A Humanidade é tão consciente de sua própria falta de merecimento, que sempre desconfia quando chega a salvação.
Rising Stars é a visão de J. Michael Straczynski para o batido tema “e se os super-heróis existissem no mundo real?”. Em outras palavras, poderíamos chamar de “seu Watchmen“. A diferença é que ele traz para a “realidade” os super-poderes, quando crianças de uma mesma cidade – Pederson, EUA – começam a manifestar uma variedade de habilidades extraordinárias. As autoridades públicas intervêm e descobrem que todas nasceram mais ou menos na mesma época e que estariam “incubadas” quando do Clarão, um fenômeno que ocorreu sem explicação no céu durante uma noite e que parecia não ter trazido maiores consequências. Sendo assim, eles recolhem todas as crianças na mesma situação – 113, no total, embora várias delas ainda não tivessem manifestado nenhuma habilidade – e as coloca juntas, para acompanhar seu desenvolvimento.
No “primeiro ato” (Nascidos na Chama Estelar), os Especiais – como são chamados pelas outras pessoas – já adultos e, aparentemente, livres do Governo, voltam a entrar em contato uns com os outros quando descobrem que alguns deles estão sendo eliminados. Quem toma à frente das investigações é John Simon, poeta (?!) que possui “sensibilidade elétrica” e é, das mais diversas formas, o mais poderoso de todos. Quando descobre que a energia de cada um que morre termina sendo dividida entre os outros, coloca seus ex-colegas na lista de suspeitos.
Na segunda parte (Guerra de Titãs), os Especiais enfrentam as consequências dos acontecimentos finais da “primeira temporada”, descobrem o verdadeiro culpado pelas mortes e, finalmente, percebem qual o seu objetivo, o porquê deles terem sido agraciados com as mais diversas habilidades: mudar o mundo, fazendo o que está ao alcance de seus poderes para torná-lo um lugar melhor.
No último ato, vemos o desenvolvimento da missão dos Especiais e a reação das forças conservadoras a essas mudanças.
E é aqui que Rising Stars fica realmente interessante.
Até ali, Straczynski seguiu bem o padrão “super-heróis num mundo de verdade”, cometendo aquilo que, na minha opinião, é o erro da maioria dos autores quando se empenham neste tipo de projeto: se deixam levar demais pelo lado mais vergonhoso da coisa. Ok, podemos até aceitar que a invulnerabilidade não seja um passaporte para o sucesso no mundo dos negócios, mas é forçado acreditar que um sujeito incapaz de se ferir não encontraria uma carreira de sucesso monetário pelo menos mediano. Ou que o mundo em geral – e os Especiais em particular – assistiriam a ocupação e isolamento de uma grande cidade dos EUA por dez anos.
O que destaca o terceiro ato – intitulado apropriadamente de Deuses e Monstros – é que é exatamente assim que eu imagino a reação de uma parcela ínfima da Sociedade a mudanças que tragam benefícios a todos. As pessoas se acostumaram a uma relação de poder e esta só pode existir em uma situação de dependência. A minoria explora a maioria, retira a quase totalidade dos recursos para si e atira migalhas para a imensa multidão. Exemplificando, a seca do Nordeste do Brasil é um problema que já foi provado ser solucionável com um mínimo de boa vontade política. O fim da seca, no entanto, representaria o fim de um ciclo de miséria e dependência naquilo que é básico. O “servidor público” atua como se fosse uma alma benevolente: faz muito menos do que aquilo que deveria, mas se comporta como se fizesse um favor a população, que, normalmente imersa em ignorância, acha que realmente tem que ser grata pelo serviço malfeito que, às vezes, recebe.
Em Rising Stars, é a elite política e militar que se incomoda de sobremaneira com a intervenção dos Especiais nas relações de poder nos EUA. Eles não estão sendo prejudicados, apenas não aceitam a sua perda de importância e de influência, principalmente depois de uma ousada jogada política de um dos mais proeminentes Especiais.
Straczynski disse diversas vezes que começou Rising Stars sabendo como ela iria terminar e tendo uma noção de como ia começar, mas completamente confuso entre o que preencheria o espaço entre um e outro. Seu texto, como quase sempre, é agradável de ler, mesmo quando as passagens não são muito interessantes. Seu forte, como sempre, está na construção de diálogos críveis e na criação de personagens que chamam a atenção, ainda que algumas vezes ele peque por torná-los um tanto quanto caricatos. Particularmente, acho que a mensagem seria melhor assimilada se a história fosse em 12 edições em vez de 24, como foi, mas ainda assim acho que ela não se perde. Mas devo escrever que, embora a mensagem seja boa, achei o final anticlimático, piegas e frustrante. Mas aí até que ficou dentro do padrão do roteirista.
Sobre a arte, Keu Cha e Christian Zanier ficaram dentro de um padrão que não empolga e um traço que varia do mais ou menos até um fala sério, mas também não chega a fazer os olhos sangrarem. Nota-se a vontade de ser mais anos 90 na composição das páginas e um certo descaso aqui e acolá com a narrativa, deixando algumas passagens mais difíceis de ser melhor compreendidas. Stuart Immonem, que desenhou uma única parte, ficou dentro do estilo que adotou nos últimos anos e que não me agrada, de sobremaneira na construções de expressões: acho que todo mundo fica parecendo boneco de cera no seu traço. Quanto a Brent Anderson, mantenho minha opinião dele desde quando vi seu trabalho em Deus Ama, O Homem Mata, graphic novel que fez em parceria com Chris Claremont: é um traço que parece não se adequar ao mundo dos super-heróis. Além disso, a colorização não casa bem com seu desenho cheio de sombras. Por curiosidade, vi algumas páginas dele em preto e branco e achei que ficou bem melhor.
Enfim, uma boa leitura, mas que, infelizmente, ficou pouco acessível por causa do preço.
Não entendi uma coisa. A edição da “Saga Completa” tem apenas a “segunda temporada” ou tudo?
Tudo. São três “temporadas”.
É impressão minha, ou a “explicação” sobre a criação desses Especiais é muitíssimo parecida à causa do surgimento dos superseres do Novo Universo da Marvel, na década de 1980?
Tb notei isso.
Hehehehehe…
A proposta parece ser boa mas o preço…
Tô procurando o valor.
Pô, tá no post.
Caray! É a ULTIMA INFORMAÇÃO de todo o post.
hauheuhauhuha
Se eu colocar o preço no começo, temo que as pessoas nem leiam o resto.
Olha, só aconselho comprar com usando bônus ou pegando um bom desconto. Se, pelo menos, tivesse a arte de um sujeito como o Gary Frank, por exemplo…