Iluminamos: Thor – Walt Simonson – Vol. 2

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 Enquanto alguns consomem hidrocodona, outros ouvem Iron Maiden, ou atuam na máfia brasileira… Eu, por outro lado, me encarrego de falar da mais brilhante fase que o Poderoso Thor já teve… E continuando de onde parei, falarei agora do segundo volume do épico do Deus do Trovão por Walt Simonson.

Quase desde o início de sua passagem por Thor, Simonson estava arquitetando esta batalha épica que resultou na união de Thor, Loki e Odin, que puseram de lado suas diferenças para derrotar um inimigo comum – o poderoso demônio Surtur.

A história se inicia após o Malekith liberar o conteúdo da Caixa dos Invernos Antigos e uma nova era glacial começar a tomar conta do mundo. Assim, seria mais fácil para Surtur atravessar a ponte Bifrost, que une a Terra a Asgard, e incandescer sua espada Crepúsculo na Chama Eterna.

Para evitar a destruição completa dos Nove Reinos e a extinção de toda a vida do universo, Thor e as forças asgardianas enfrentam os filhos de Muspell em Nova York, enquanto Odin permanece no Reino Eterno.

Desde o início, os leitores já estavam plenamente conscientes que Surtur seria um enorme desafio para Thor. E ele foi. Grandes momentos de Simonson à frente do título estão aqui. Posso citar como exemplo, o primeiro encontro entre Odin e seus irmãos Vili e Ve com Surtur; o épico combate entre o exército de demônios do Elemental do Fogo contra as forças unidas de Asgard e Midgard (Terra), além da luta final entre Odin e o demônio do Fogo, sob as ruínas do Reino Eterno.

Contudo, antes de nos aprofundarmos mais na história, é necessário conhecer Surtur e sua origem. Há muitas eras, uma entidade de poder virtualmente ilimitado forjou uma espada e deu a ela o nome de Crepúsculo. E, em uma pira mística, essa mesma entidade cultivou a chama amaldiçoada que, juntamente com a espada, deveria levar a aniquilação total ao Universo.

Já na aurora da raça humana, a Terra e todos os outros planetas desta galáxia teriam sido devastados se não fosse a intervenção de Odin e seus dois irmãos, Vili e Ve, que enfrentaram e aprisionaram a maligna criatura em um reino de fogo.

O ato heroico desses três valorosos guerreiros resgatou a paz e a tranquilidade para o Universo. Agora, passados milhares de anos, a terrível ameaça retorna para destruir o planeta Terra e o Reino de Asgard… O impetuoso governante de Muspelheim cobriu toda a Terra com um rigoroso e incessante inverno.

Com o empenho e a fluência com que as coisas ocorrem, não é difícil notar que há mais do que texto e arte competentes em cada página. Há uma sensação de entrega, algo passional, que se entremeia através de cada diálogo e de cada ilustração. E é este o ponto determinante que fez com que nenhum outro artista que assumiu a revista do Deus asgardiano do Trovão posteriormente tenha alcançado tamanha magnificência e qualidade.

Se tem algo em que o Simonson é realmente um mestre é na criação da tensão e o acúmulo de expectativas. Tramas são tecidas por páginas e mais páginas, e se configuram com uma naturalidade incrível, sem parecer rápido ou precoce demais. Ele consegue desenrolar a história com aparente facilidade, criando algo que ilude e prende o leitor desde o início, trabalhando um enorme elenco de personagens centradas em torno, não apenas do Thor, mas de todos os seus coadjuvantes.

Como guerreiro e como herói, Thor provou seu valor diversas vezes. Durante este tempo, ele aprendeu muitas lições de heroísmo, humildade e nobreza, como queria Odin quando o exilou na Terra. E Simonson, ao longo das edições que escreveu em Thor, provocou um admirável amadurecimento do personagem, fazendo dele um nobre herói asgardiano.

Já Surtur teve o seu visual ligeiramente modificado por Simonson, que deu ao personagem uma dimensão aterradora. Um monstro gigante com uma longa cauda vermelha e chifres. E o mais legal: uma cabeça flamejante. Gosto muito mais do Surtur idealizado pelo Simonson do que o demônio genérico vermelho do Jack Kirby.

Retornando à história, vemos agora Nova Iorque sob uma forte nevasca de origem mística, e, depois de um intenso combate, as forças asgardianas conseguem finalmente rechaçar os demônios de Muspell, fazendo-os voltar ao portal de onde emergiram. Entretanto, no Reino Eterno, Surtur está prestes a sagrar-se vitorioso, incendiando a espada da destruição, a arma que pode levar ao fim definitivo da vida de todas as galáxias. Logo, as esperanças de deter o seu avanço vão sendo extinguidas à medida que o Elemental do Fogo se aproxima do coração de Asgard.

Thor e Heimdall são neutralizados, e Odin, o único deus capaz de fazer frente ao demônio, também começa a fraquejar… A situação se agrava quando Surtur invade Asgard e envia os seus demônios para atacar os lares nórdicos. O gigantesco monstro caminha em direção à Chama da Destruição para inflamar a espada Crepúsculo, e com ela desintegrar todas as galáxias do universo.

Em seguida, Odin une-se a seus filhos, Thor e Loki, e encurralam o invasor, empurrando-o de volta à fenda de acesso a Muspelheim. O demônio finalmente foi derrotado, mas há um problema. A guerra que abalou o Universo deixou uma baixa: o Pai de Todos havia sucumbido em batalha.

Os céus de Asgard tornaram-se cinzentos depois da luta contra Surtur. Apesar de terminada a guerra contra o demônio, a mesma deixou sobre o ombro dos asgardianos uma grande perda: a morte de Odin.

Além disso, a derrota do Elemental do Fogo não amenizou totalmente os reflexos do exaustivo confronto. Os soldados comandados por Bill Raio Beta estão impedidos de retornar a seu lar, pois a ponte do Arco-Íris foi destruída, e Thor entrou em profunda tristeza após o falecimento de seu pai. Mas há alguém que mostrará ao Deus do Trovão o caminho a ser seguido em tempos tão mórbidos…

Então, isto foi a incrível Saga de Surtur. Simplesmente, uma batalha de proporções épicas em Nova Iorque que envolveu os Vingadores e o Quarteto Fantástico e um ser que teve sua origem no início dos tempos e matou poderosos deuses. Nesse período, o Poderoso Thor viveu uma fase inesquecível que marcou a história da Marvel Comics. Escrita e desenhada pelo grande Walter Simonson, a Saga de Surtur foi um dos grandes destaques entre o material publicado pela editora na década de 1980.

Logo depois do extremo embate entre Odin e Surtur, Sal Buscema assume com muita propriedade os desenhos da edição # 355. Posteriormente, o artista cobriria os desenhos do Simonson até se estabelecer, enquanto Simonson ficaria cuidando apenas dos roteiros.

Esta edição reúne The Mighty Thor # 349 a # 359, com exceção da edição#356, que mostrava um encontro do Thor com Hércules roteirizado por Bob Harris e desenhado por Jackson Guice.

O único ponto negativo deste volume são os vários erros de digitação, de português e a tradução questionável em vários trechos feita pela Panini. Fora isso, não há nada para se reclamar. Digo apenas que a Panini fez um bom trabalho, publicando uma das fases mais gloriosas do Deus do Trovão. E não percam no próximo post: Beyonder, Quarteto Fantástico e o fabuloso sapo Thor!

Ficha Técnica:

Título: OS MAIORES CLÁSSICOS DO PODEROSO THOR Volume 2 (Panini Comics) – Edição especial

Autores: Walt Simonson (roteiro e arte) e Sal Buscema (arte).

Preço: R$ 26,90

Número de páginas: 240

Data de lançamento: Abril de 2007.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 18 comentários

  1. Pastor Luc Luc

    ótimo texto rosinha ! vivo procurando esse encadernado mais não acho , creio que vou ter que apelar pra importadora mesmo

    1. Rosinha

      Obrigado, Luc. Cara, se você não achar, eu posso te passar uns links de partes dessa fase do Simonson depois.

  2. $9217641

    E tudo isso numa mensal! Pra você ver como as coisas ficaram simplórias. Essa saga escrita hoje seria uma Fear Itself.

    1. JJota

      Os Anos 80, tão execrados em algumas áreas, foi a época de ouro para as revistas mensais de super-heróis. Pena que hoje tudo se resuma a mega-sagas, herói x herói, mortes sem sentido, ressurreições absurdas, reboots…

  3. JJota

    Essa fase do Thor é de um tempo em grandes artistas contavam boas histórias em revistas mensais! Tempos que hoje estão cada vez mais distantes, principalmente com esses Novos 52 e Marvel Now.

    Engraçado que vende até hoje, enquanto eu teria dúvida em juntar do lixo um encadernado com as porcarias que vem sendo publicadas nos últimos anos.

    1. Rosinha

      De fato, JJota. Nestes tempos de Novos 52 e Marvel NOW fica realmente difícil encontrar material de qualidade nas mensais. E mesmo que você encontre, será uma coisa que infelizmente não vai durar ou não durou muito tempo, por pressão editorial ou por baixa nas vendas. O problema é que hoje os editores são fãs que envelheceram, tomando decisões completamente equivocadas, coisa que está acontecendo num nível inédito e absurdo nas HQs americanas.

      E eu, assim como você, hesitaria em comprar o material que saí atualmente. Iria priorizar sempre um encadernado de algo feito há 20 anos, mas que fosse de qualidade inquestionável.

  4. Churrumino

    Li os dois posts agora e só digo isso: quero ler essa desgraça agora. Obrigado, Rosinha, por me fazer gastar mais dinheiro.

    1. Rosinha

      Hahahaha… Sempre que quiser dicas para gastar seu dinheiro com (boas) HQs, conte comigo.

  5. Don Vittor

    Os dois posts são ótimos e, por uma graça do destino, trouxeram-me algo que sempre reclamei das história do Thor. Nessa saga ele percebeu o quão fraco e mortal poderia ser diante de seu adversário. Além disso, voltar as obras antigas, nos traz a profundida tão questionada nos roteiros atuais, onde apenas Wolverines vendem as capas… Parabéns Rosinha, ótimo post!

    1. Rosinha

      Obrigado, Vítor.

      Sobre os roteiros dessa fase do Simonson, é algo incomparável com qualquer outra fase. Creio ainda vai demorar (se isso algum dia acontecer, tendo em vista a atual situação das HQs de super heróis) um bom tempo para algum outro autor atingir um patamar de excelência com o Thor, como o Simonson atingiu.

  6. cgui

    Excelente post, brotha!
    o/

    Thor está no meu top 3 personagens, xD
    E essa fase é muito foda!

  7. Valmir

    Gosto é assim mesmo… não se discute!

    Pra mim essa fase foi bem criativa, e apesar de reconhecer
    algumas qualidades nela, as palhaçadas que foram feitas com o Thor (meu
    personagem favorito) foram tantas que me causaram trauma até hoje….rs

    Evito reler os gibis dessa fase… Thor Sapo; Thor ossos de
    isopor; Thor rosto multilado; Thor surrado pelo Bill raio beta (personagem mais
    jegue e que até hoje insiste em sobreviver) imagino que se o Thor não tivesse o
    Bill raio beta como seu (derivado ou variação) talvez tivéssemos outro variante como, sei lá, o trovejante, ou outro com uma aparência menos cavalesca…..

    Mas não a mal que dure para sempre… E graças a Deus a nova
    revista do Thor Marvel now ta excelente… Vida longa ao deus do trovão!

  8. Victor Vaughan

    Pode ser que o Surtur do “mestre” seja um demônio genérico e o do Simonson seja mais fashion, mas eu não desvalorizaria a importância dos genéricos…. Valeu pela matéria, Rosa!

    1. Rosinha

      Tinha quase certeza que você ia chiar sobre isso… Mas eu concordo com você, Victor. O fato do Surtur do Kirby ser um demônio genérico não é demérito, é apenas uma questão estética, e ele compensou isso com outras centenas de criações incríveis e surreais.

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