Logo que você perde alguém que ama, vem o luto. Mas se esse alguém que vive contigo possui uma família de origem que reprova essa relação, o luto não é respeitado.
Trata-se apenas de uma história de amor, mas talvez uma que o cinema não esteja tão acostumado a contar.
Uma Mulher Fantástica debruça-se sobre o que acontece quando uma relação amorosa é interrompida pela morte. Há um luto a ser vivido pela protagonista Marina, que se torna uma luta, vez que a família de origem de Orlando, especialmente sua ex-esposa e filho, reprovam sobremaneira a relação deles.
A família não aceita o fato dela ser uma mulher trans. Eles a enxergam como um “maricón”, como xingou o filho de Orlando, ou como uma “quimera”, como disse a ex-esposa.
Marina possui uma jovial elegância, equilibrando suavidade e intensidade. É sua feminilidade, segurança, força e caráter que conduz suas ações e o filme.
Acompanhamos sua jornada e sua dor, grande demais, e os sentimentos aflorados que ninguém parece entender direito, traduzidos em belas alegorias, em cenas musicais inebriantes e hipnóticas que engrandecem o espetáculo.
E que espetáculo é seguir Marina pelas calles da moderna e fantasmagórica Santiago chilena. Tons esmaecidos e brilhos que remetem ao onipresente néon que recheou de colorido a década de 1980 estão em toda parte, e dão um ar onírico que poderia muito bem levar a assinatura de David Lynch.
O mistério e a trilha sonora (com direito a Alan Parsons Project) que pontuam a película acentuam essa atmosfera e garantem uma experiência rica e apaixonante, que recentemente conquistou o primeiro Oscar de filme estrangeiro para o Chile.
Afinal, é a luta de Marina por dignidade que a torna uma mulher fantástica.