Iluminamos: Wanted – O Procurado

Você está visualizando atualmente Iluminamos: Wanted – O Procurado

Lembra de todas aquelas obras em quadrinhos que partem da premissa “e se os super-heróis realmente existissem”? Pois bem, Mark Millar (autor de, entre outras coisas, Entre a Foice e o Martelo, Chosen – O Escolhido do Senhor e Superior) foi um pouco além: e se os super-vilões realmente existissem… e tivessem dado cabo dos super-heróis?

Bom, antes de mais nada somos apresentados a Wesley Gibson, talvez o mais completo perdedor que se possa imaginar. Só pra citar algumas “proezas” do sujeito, ele mora com uma namorada feia e chata que dá pra todo mundo (até, embora com freqüência baixa e empolgação zero, pra ele), o seu melhor amigo é o principal amante dela (e ele sabe!), a sua chefe – em um emprego horroroso – tem o prazer sádico de esculachá-lo sempre que possível, não pode pisar na rua sem ser insultado por uma gangue de desocupados e é hipocondríaco, do tipo que acessa a internet todas as manhãs só pra saber qual é a doença do dia.

E o desenhista ainda usou como referência visual pro cara o Eminem. É SÓ DERROTA!
E o desenhista ainda usou como referência visual pro cara o Eminem. É SÓ DERROTA!

Até que um dia Wesley é abordado por uma gata com cara de Halle Berry – no auge da boa forma – que sutilmente o convence a comparecer a uma reunião onde é informado de que: a) seu pai foi morto; b) ele era talvez o maior de todos os assassinos que já existiu e, c) Wesley é herdeiro não apenas da fortuna do coroa, como do lugar dele em uma mega-organização, desde que se prove apto a assumir suas funções.

Tendo como treinadora a Hall… digo, a Raposa, Gibson é moído fisicamente e mentalmente até eliminar do seu sistema as suas limitações morais que, segundo sua mentora, só serviam para aumentar os seus níveis de “bichice”. Enquanto aprende a apanhar e treina o corpo para melhor poder fazer jus às habilidades que vieram em seu DNA, Wesley segue uma chocante escalada lógica, atirando em cadáveres, trabalhando em um matadouro de animais (logo ele, um ex-vegetariano), matando alvos aleatórios e, finalmente, assassinando todas as pessoas que, de uma forma ou de outra, haviam atormentado a sua vida. Sim, isso inclui ex-participantes do Big Brother!

Opa, quem foi que disse opa? Onde estão as autoridades constituídas? Bom, aí é que está. A tal organização a qual o pai de Wesley – e o próprio, posteriormente – está ligado não é uma liga de bandidos comuns. Eles são os super-vilões de verdade, do tipo que usavam uniformes em cores berrantes e possuem todo tipo de poder bizarro e traquitana mágica que se possa imaginar. Neste mundo, eles aposentaram as roupas coloridas (guardadas apenas para ocasiões especiais) depois de se unirem e, em uma mega-operação que custou a vida de dois milhões de pessoas, derrotarem todos os super-heróis.

Alguns dos supervilões
Alguns dos supervilões, com suas “roupas de festa”

É isso aí! Os super-heróis existiram, mas não foram apenas derrotados, até a lembrança dos mesmos foram apagadas da memória da população em geral, que acredita que os super-seres, tanto do bem como do mal, só existem no mundo fantasioso das HQs. Sem ter quem possa fazer-lhes oposição e gozando do anonimato absoluto, os vilões mantiveram sua organização e dividiram o mundo entre eles, contentado-se em ficarem cada vez mais ricos. Mas há quem sinta falta dos tempos em que citar o nome de alguns deles fazia as pessoas chorarem de medo,como um certo Mr. Rictus.

Wesley trabalhando
Wesley trabalhando

Várias críticas à história reclamam da violência desenfreada que toma conta de praticamente todas as páginas. Sinceramente, eu não vejo a coisa assim de forma tão radical. Há uma crítica ali, sim. Millar, num primeiro momento, deixa claro o quanto a moral é necessária para um indivíduo: sem ela, Gibson não se torna apenas um assassino, mas parece ter uma secreta predileção pelo estupro. A vítima, uma vez dotada das habilidades – e da isenção legal – para se vingar, foi além e se tornou um agressor ainda pior, do tipo que invade uma delegacia e assassina todos os policiais no local por… tédio. Debochadamente, o próprio Wesley afirma em determinado momento:  ser um canalha é tão ruim quanto ser um cuzão.

A outra é direcionada ao próprio leitor, que se diverte com o que acha ser uma literatura escapista e se considera além das críticas que são tecidas de forma bem humorada ao longo da história. Não vou adiantar nada, mas as duas últimas páginas deixaram mais de um conhecido bastante fulos da vida.

J. G. Jones
J. G. Jones, que tem como destaques no currículo seus trabalhos ao lado de Grant Morrison em Marvel Boy e Crise Final

J. G. Jones acompanha Millar na sua empreitada, criando algumas versões simplesmente incrivelmente ofensivas de heróis e vilões mais ou menos conhecidos, tanto da Marvel como da DC (que tal um Cara-de-Barro feito de fezes?). Com uma boa mão para pegar referência fotográficas e criar excelentes cenas de impacto, não figura entre meus preferidos porque acho seu desenho, no geral, “estático”, até sonolento às vezes.

Enfim, é uma boa história, embora acho que careça de um melhor desenvolvimento para poder passar melhor a mensagem que eu acho que ela contém. Infelizmente, assim como a molecada que esgotava edições da Image nos anos 90, Millar parece ter ficado muito empolgado com a violência enquanto escrevia a série. The Boys – que não fica a dever em nada em matéria de violência gráfica e linguagem chula – é muito mais eficiente nas referências e críticas.

Em 2008 chegou aos cinemas a adaptação da HQ, que alterou muito o roteiro original, praticamente aproveitando apenas a premissa básica, apesar de ter conseguido ser um bom filme de ação. Destaque para o elenco, com Jams McAvoy, Morgan Freeman, Terence Stamp e, principalmente, Angelina Jolie.
Em 2008 chegou aos cinemas a adaptação da HQ, que alterou muito o roteiro original, praticamente aproveitando apenas a premissa básica, apesar de ter conseguido ser um bom filme de ação. Destaque para o elenco, com James McAvoy, Morgan Freeman, Terence Stamp e, principalmente, Angelina Jolie.

Lançada pela Top Cow entre 2003 e 2004, foi publicada pela Mythos no Brasil, primeiro em mini-série, depois em encaderndo de luxo, em 2012. Uma republicação vem sendo prometida para o fim deste ano ou começo do próximo.

Wanted - O Pocurado. Roteiro de Mark Millar. Arte de J. G. Jones. Editora original Top Cow Productions Inc. Editora no Brasil Mythos. 156 páginas. 2012. R$ 66,00.
Wanted – O Pocurado. Roteiro de Mark Millar. Arte de J. G. Jones. Editora original Top Cow Productions Inc. Editora no Brasil Mythos. 156 páginas. 2012. R$ 66,00.

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Deixe um comentário