” Quando certa manhã Gregor Samsa acordou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado num inseto monstruoso ”
O adjetivo kafkiano não recebe o significado de ‘incompreensível’ atoa. As obras de Kafka tem por essência transformar cenas banais em uma verdadeira mistura de sensações, que podem facilmente dar um nó em qualquer leitor imaturo em questões mundanas.

Em ‘A metamorfose’, Kafka (3 de julho de 1883 – 3 de junho de 1924) nos conta, em pouquíssimas páginas, a curiosa história de Gregor Samsa, um trabalhador totalmente ordinário que, em um não tão belo dia, acorda metamorfoseado em uma barata de quase dois metros.

Talvez, para aqueles que não conhecem a fama de Kafka ou nunca ouviram falar da obra, uma história onde um homem se transforma em uma barata gigante tem grandes chances de parecer cômica. Mas em uma questão de linhas o leitor percebe que o livro em suas mãos não tem nada de engraçado (A não ser que você tenha um senso de humor bem negro).

Contada sob a visão de Gregor, a história nos leva a acompanhar dúvidas, medos e até as vãs esperanças que rondam a cabeça do personagem, principalmente em relação as pessoas ao seu redor e a forma como estas se adaptam (ou não se adaptam) a nova condição do protagonista. E é nesse ponto que a vitamina de emoções kafkianas tomam conta do leitor.

Em algumas análises da obra, acredita-se que Gregor não se torna realmente um inseto: Trataria-se de uma metáfora criada por Kafka para retratar as dificuldades enfrentadas por aqueles que eram vistos tal como baratas pela sociedade da época (e em parâmetros realistas, pela atual também). Nessa lista entram desde vítimas de doenças mentais até indivíduos portadores de alguma deformidade física, como também aqueles que, por algum erro cometido no passado ou por meio de especulações, eram (ou são) consideradas, aos olhos de muitos, ‘uma praga’. Não há como uma pessoa que já foi ou é parte de um grupo marginalizado socialmente deixar de identificar-se com Gregor, mesmo que só um pouco.

Uma coisa em ‘A metamorfose’ é certa:

Você nunca mais olhará para uma barata do mesmo jeito .

Natasha Yeva