Me chame pelo seu nome, que eu te chamarei pelo meu

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Me chame pelo seu nome (Call me by your name, 2017), estreou no Brasil em 18 de janeiro e também tem conquistado uma série de prêmios e indicações, completando a lista de uma excelente safra de filmes que concorrem ao Oscar este ano.

Mas, independentemente de ganhar Oscar, a belíssima película merece atenção especial e merece ser assistida por todos. Existe um engano difundido por alguns veículos de mídia especializada que se trata de um filme gay, pois a trama principal gira em torno do relacionamento de verão entre dois homens. É um pensamento equivocado e cheio de preconceitos, na verdade, além de ser uma indicação que pode levar ou deixar de levar pessoas ao cinema dependendo da relação que elas têm com seus conceitos e conviccções.

Baseado em um livro homônimo de André Aciman, dirigido por Luca Guadagnino e produzido pelo brasileiro Rodrigo Teixeira, o filme se passa nos anos 1980, no sul da Itália, quando um casal multicultural (cada um tem origem diferente) vai passar as férias de verão com os filhos, em uma contrução típica daquela região.

O foco da narrativa é apresentado por meio da perspectiva do filho do casal, Elio, interpretado por Thimothée Chalamet, um adolescente em vias de perder a virgindade e descobrir mais sobre sua sexualidade. Entre almoços ao ar livre, regados a vinho e conversas filosóficas, passeios de bicicleta e banhos de piscina, a tranquilidade de Elio é abalada pela chegada do estudante de doutorado, Oliver (Armiee Hammer). Oliver chega para trabalhar como assistente de seu pai em suas pesquisas acadêmicas e, como Elio fica encarregado de lhe mostrar a cidade e precisa ceder seu quarto ao novo hóspede, o adolescente desenvolve uma antipatia por Oliver.

No entanto, por meio da convivência e da aproximação, a implicância dá lugar a uma admiração por parte de Elio e curiosidade por parte de Oliver. Assim, a afeição entre os dois é construída ao longo da história de forma completamente natural, tão natural, que mesmo a pessoa mais preconceituosa é capaz de perceber a beleza e a sutileza de suas interações, que dizem respeito, sobretudo, sobre a forma que lidamos com nossas emoções.

Mesmo os conflitos, que surgem normalmente na cabeça dos jovens quando diante de suas descobertas, são tratados de maneira que não haja tensão entre os dois amigos. Sim, porque, acima de tudo, existe amizade entre eles e um interesse mútuo de compartilhar algumas experiências juntos.

De forma alguma o filme tenta naturalizar uma prática e qualquer um que o limite a isso, está deixando de observar que há muito mais ali do que um relacionamento homossexual. Até porque, em nenhum momento essas questões quanto à identificação dos dois como gays ou bissexuais, são mencionadas ou parecem uma preocupação para os envolvidos na produção.

Com caracterização e cenografia impecáveis, a sensação que temos é de ter encontrado um filme dos anos 1980 que havíamos deixado de ver. É um filme leve, sobre descobertas, prazer, amizade e férias! Sim, porque o diretor teve o cuidado de incluir diversos elementos que nos remetem ao verão italiano, para que nos sintamos parte da história. Principalmente, é interessantíssima a forma como Elio e Oliver lidam com suas descobertas, ainda que exista a demonstração de certa culpa, ela não é algo exagerado, que coloque em cheque suas intenções ou a relação.

Paixões de verão são temas recorrentes em filmes e Guadagnino foi muito feliz em retratar um cenário que poderia ser um grande clichê, em uma obra tão especial que merece todas as indicações e prêmios que vem recebendo, sem estereótipos tão típicos de algumas produções.

“Me chame pelo seu nome, que eu te chamarei pelo meu”

 

Arte de Beatriz Miranda

Arte de Beatriz Miranda

 

 

 

Dani Marino

Dani Marino é pesquisadora de Quadrinhos, integrante do Observatório de Quadrinhos da ECA/USP e da Associação de Pesquisadores em Arte Sequencial - ASPAS. Formada em Letras, com habilitação Português/Inglês, atualmente cursa o Mestrado em Comunicação na Escola de Artes e Comunicação da USP. Também colabora com outros sites de cultura pop e quadrinhos como o Minas Nerds, Quadro-a-Quadro, entre outros.

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