Naumim Aizen e Edmundo Rodrigues – os bons velhos partem cedo

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Só na Editora Blolch, o Doutor Destino pôde ter mais liberdade de usar suas roupas na cores que sempre quis e não nas que Stan Lee e Jack Kirby o obrigavam.

Há mais de vinte anos que acompanho o universo dos quadrinhos, sejam os comics norte-americanos, publicações europeias, mangás ou nossos quadrinhos nacionais – e não só do mestre Maurício de Sousa vivem eles –, mas só nos últimos treze meses que decidi realmente cair de cabeça nos bastidores dos criadores da nona arte.

Venho do teatro, em que o termo “fogueira das vaidades”, se não representa a verdade absoluta do métier, pelo menos de forma alguma é um conceito mentiroso. Infelizmente, o ego fala mais alto ali. No entanto, os artistas, sejam eles diretores, atores ou escritores que sucumbem a esse excesso, se esquecem de que nada mais são do que veículos pelos quais a criação artística encontra caminho para se materializar. E, de forma alguma, são mais importantes que a obra, que, como obstetras, ajudam a trazer conhecimento ao mundo em que vivemos.

Na indústria dos quadrinhos, para minha tristeza não encontrei um cenário diferente. Tempos atrás, fui espectador de um premiado desenhista nacional, que presta serviços também para uma grande editora americana de heróis, destratar publicamente um fã que o convidara para participar de um grupo em uma rede social. Dias depois, tive o desprazer de saber de outro famoso artista brasileiro, que, esquecendo totalmente da importância que suas palavras possuem, na qualidade de um formador de opinião, teve uma atitude homofóbica para com um determinado tema.

Por isso que 2012, ano que tem sido tão agressivo para a humanidade com a morte de grandes criadores e artistas como o francês Moebius, o brasileiro Al Rio, o polonês naturalizado americano Joe Kubert, o americano John Severin e o italiano Sergio Toppi entre muitos outros artistas que faleceram esse ano de diferentes escolas, nacionalidades e influencias, mas com a capacidade infinita para a  generosidade em comum, que me perguntava se a conta de perdas insuperáveis já tinha acabado.

No entanto, há poucos dias, fomos surpreendidos com a notícia da morte de dois monstros sagrados da produção de quadrinhos no Brasil, Naumim Aizen e Edmundo Rodrigues.

O primeiro, Naumim Aizen, foi por muitos anos um dos dirigentes da Editora Brasil-América, que, por décadas, publicou no Brasil muitos dos melhores quadrinhos europeus, norte-americanos e brasileiros de sua época. A Ebal foi criada em 1945, tendo seu auge nos anos sessenta e fechando as portas em meados dos anos noventa.

Hoje em dia, é comum ver um editor usar a contra capa de suas publicações para se desculpar com leitores e explicar o porquê de um aumento de preço? Ou esse mesmo homem, já de saída, desliga o carro, volta para o prédio e recebe muitíssimo bem um menino de apenas 11 anos acompanhado de sua mãe, que tinha vindo de São Paulo ao Rio de Janeiro para visitar o Museu das Histórias em Quadrinhos, que ficava no último andar e chegara depois do final do expediente?  Esse era Naumim Aizen.

Edmundo Rodrigues começou sua carreira aos 14 anos desenhando diversos títulos para o mercado profissional de quadrinhos e teve na Rio Gráfica Editora, seus grandes sucessos, entre eles o maior de todos, Jerônimo – o Herói do Sertão. Trabalhou também nas editoras GEPTaika e O Livreiro. Um período que marcou o seu auge como desenhista e criador.

Na década de setenta foi contratado pela Bloch Editores, com a missão de relançar a linha Marvel no Brasil que, não fazendo o sucesso esperado, passaram em seguida para a Rio Gráfica e depois para a Abril.

O departamento de quadrinhos da empresa, contudo, continuou funcionando e Edmundo Rodrigues, dono de um traço repleto de personalidade, produziu e editou diversas histórias nacionais, algumas desenhadas por ele e outras por grandes nomes.

Com a falência da Bloch, na década de noventa, Edmundo passou a trabalhar como autônomo, fazia capas de livros infantis e juvenis, bem como storyboards para agências de publicidade e nunca mais voltou aos quadrinhos.

Além de ter montado um blog recentemente, ele era bem ativo em redes sociais, nunca se furtando a responder de maneira gentil qualquer pergunta de seus fãs.

Com suas mortes, as artes gráficas no Brasil perderam em Naumim e Edmundo grandes editores, líderes, artistas e comunicadores. Já as novas gerações,  uma das raras oportunidades de conhecerem grandes homens, que não tinham o seu valor cotado por o quanto pop podiam ser, mas pelo quanto nobres e inspiradores eram.

Colaborador

Colaborador não é uma pessoa, mas uma ideia. Expandindo essa ideia, expandimos o domínio nerd por todo o cosmos. O Colaborador é a figura máxima dos Iluminerds - é o novo membro (ui) que poderá se juntar nalgum dia... Ou quando os aliens pararem com essa zoeira de decorar plantações ou quando o Obama soltar o vírus zumbi no mundo...

Este post tem 8 comentários

  1. Victor Vaughan

    Cabe a nós que entendemos isso, cultuarmos esses nomes e principalmente, Pedro, o caráter e compromisso com o público, que eles tiveram.

  2. Descansem em paz esses grandes homens! Tantos talentos se foram esse ano mesmo, lendo a sua listagem  isso ficou ainda mais evidente. Gostei da imagem inicial,hoje em dia temos a Panini , mas ela de longe não dá a liberdade fashion que por exemplo a Block dava pro Dr. Destino, rosa cai muito bem com dourado, mil vezes mais que verde com prateado. Eles estavam além de seu tempo!

    1. Victor Vaughan

      Mestre Von Doom gosta de mudar a cor das vestes soberanos, de vez em quando, na intimidade de seu castelo, mas a Bloch tinha ótimos paparazzi na época…

  3. Nuno Amado

    Este ano tem sido terrível para os quadrinhos. O pior é que estão a desaparecer pessoas que faziam a diferença na sua postura na 9ªarte. Ultimamente só aparecem galináceos que só por terem “jeito” para o desenho pensam que são donos do mundo. esta é a parte terrível destes desaparecimentos. Estão a desaparecer grandes artistas que eram também grandes personalidades, e estão a ser substituidos por galarós emplumados que não lhes chegam aos calcanhares, mas que têm um ego do tamanho do mundo!
    🙁

    1. Victor Vaughan

      Nem tudo está perdido, o mundo vai acabar dia 21 de dezembro, pelo menos na melhor da hipóteses como o conhecemos… Porém no dia seguinte, no 22 será refeito, quem sabe, de uma forma melhor!

  4. Agata Desmond

    Olá!Tive um grande prazer em conhecer o seu Blog,falando de artistas que ajudaram a construir o úniverso das Hqs,principalmente no brasil. Sou a produtora do artista Edmundo Rodrigues e confesso que fiquei emocionada com tantas pessoas tristes pelo pasamento do artísta. Creio que ele teria ficado muito feliz em ter sabido,que tantas pessoas admiravam sua arte.. Edmundo foi um homem que aproveitou o sucesso e a fama,as mulheres chegavam e agarravam ele na rua,parecia cena de filme,várias vezes,ele chegava na casa dele com as camisa ,sem manga,sem colarim,sem botões,todo despenguelado ao ponto de um funcionário ter que sair com ele. O sucesso não atingiu não subiu a cabeça. Como ele amava desenhar! Um menino pobre,franzino,venceu,quando chegou no Tico-Tico,foi amparado com mãos forte talentosas e vitoriosas,dos veteranos que estavam por lá! Parece até que eles estavam lhe dando um bastão para não deixar as HQs sucumbirem!E foi por isto que ele viveu,lutou com a morte,tentou engana-la várias vezes,chorava quando ele me falava,não vou poder lutar mais pelos quadrinhos é o fim!Quantas vezes eu,como produtora dele lhe dizia: Não vai acabar! Foi aí que ele me pediu pra continuar com os projetos dele. Se vc olhar para o projeto ,você vê o amor que ele tinha pelos quadrinhos,só pensando nos artístas desempregados,que passavam e passam fome pelas artes. Várias vezes eu vi,ele tirando dinheiro do bolso para ajudar,ainda levava eles para almoçar na Manchete. Arrumava colaboração a onde não tinha e não precisava.,ó para ajudar.! Os que estão aí,que trabalharam com ele,sabe que ele era assim. Várias vezes a esposa dele recebia um telefonema dele, falando que estava levando alguém para jantar. Ele não fez fortuna,mais fez a sua independência financeira. Tudo que ele possuia,ele ganhou desenhando. Logo será lançando o Livro tão esperado. Caso desejem mais informações podem entrar em contato. agatadesmondhqforever@gmail.com Blog dele http://www.edmundorodrigueshq.blogspot.com.br – —–FB Edmundo Rodrigues

    Agradeço em nome dele Agata Desmond

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