O Sábado de Lollapalooza

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“Esse é seu mapa, tem borrifadores espalhados pelo festival e tendas para fugir do sol. Bom show!” – disse a funcionária do Lollapalooza sem imaginar que eu teria duas das melhores noites da minha vida por ali.

Quando ouvi que o festival seria em Interlagos, o departamento do vai dar merda na minha cabeça apitou loucamente, mas, chegando ao autódromo, comecei a pensar que provavelmente foi a melhor decisão já tomada pela organização do festival. Era uma verdadeira cidade, muitas tendas espalhadas e quilômetros chegavam a separar os palcos.

Havia vários food-trucks de todos os tipos possíveis de comida por um preço salgadinho, lojinhas com produtos licenciados pelo festival, loja de discos, roda gigante, espaço pra patinação e por aí vai.

No sábado, achei um dos melhores lugares no palco Onix para ver o show do Imagine Dragons e Nine Inch Nails. O fato do palco estar na decida facilitava incrivelmente a vida de todo mundo que gosta da boa e gelada cervejinha no fundo da plateia. Tudo bem que a cerveja não era das minhas favoritas e de vez em quando não estava tão gelada assim, mas consegui ver o show direitinho.

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Os serviços foram abertos pelo Silva, um ótimo músico brasileiro que fez um show extremamente carismático, quase poético. O sol estava ajudando Silva a passar a mensagem do disco Vista Pro Mar, uma lindeza!

O que mais me impressionou foi a resposta do público. Quem vai (e toca) em festivais sabe bem do que estou falando – a falta de respeito do público com bandas nacionais alternativas, o pessoal espalhado pelo chão com fones nos ouvidos e fingindo que o músico nem lá está -, não foi o que aconteceu com Silva.

Até quem não conhecia sua música ficava contagiado, acompanhava com palmas e dançava, os casais se abraçavam e se beijavam ao som de um disco feito justamente para isso, uma verdadeira demonstração de delicadeza de quem estava por lá.

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No final de sua apresentação, Silva chamou quatro integrantes do Bixiga 70 e deixou a plateia já na animação para a próxima banda. Se ele tivesse alguma dúvida se as músicas do novo álbum funcionavam ao vivo, agora não tem mais.

Poucos copos de chopp aguado depois, já era hora de Cage The Elephant e seu álbum incrivelmente sensacional, Melophobia.

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A abertura do show com um solo de guitarra de Nick Bockrath já deixava bem claro, é dia de rock, porra!

Logo na terceira música, o vocalista, Matt Shultz, já estava sem camiseta, correndo pela grade, se pendurando numa escada que deixaram perto do palco, gritando, dançando, mexendo no cabelo dos seus companheiros de banda.

Ver Matt ao vivo pode lembrar os anos mais recentes do Iggy Pop, enérgico, incansável, ousado. Em um dos muitos momentos de conversa com o público, Shultz explica que tem uma ligação muito forte com o Brasil, já que o maior sucesso da banda, Come A Little Closer, fora escrita por aqui.

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Quem foi ver Cage The Elephant de primeira e no escuro, esperando um show de uma banda indie, se assustou. Cage está longe de ser uma bandinha de palco dançando dois pra lá, dois pra cá e pedindo palminhas pro público e isso é justamente o que a faz tão incrível.

De repente o palco lotou, tinha gente vindo de todos os lados e enchendo a pista antes ocupada por funcionários do festival. Era hora de Imagine Dragons, uma banda que eu esperava muito ver ao vivo e que se fosse ruim ia acabar com a minha noite.

O Imagine faz apresentações épicas – vide Grammy deste ano – com vários tambores e uma força que a diferencia de muitas outras na atualidade. Quando olhei pro palco e vi apenas quatro tambores pequenos – altamente explicável já que eles antecediam Nine Inch Nails e nem headliners eram – o medo começou a tomar conta de mim.

Sou cética com bandas novas, sempre fui, acredito que elas precisam de um tempo para achar a sua identidade no palco, mas Imagine Dragons sempre foi diferente, era o tipo de banda feita pra ver ao vivo.

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Sinceramente, não sei qual impressão vocês tiveram de casa – já que li por aí que o show foi “coerente” (e fiquei com vontade de esganar quem escreveu isso) –, mas, na hora que a banda entrou, já dava pra perceber que ia ser do caralho.

Os caras abriram com a sequência matadora de Fallen e Tiptoe, foi quando o vocalista, Dan Reynolds, tremulo e com os olhos lacrimejados tentava falar com o público: “a gente vem fazendo essa turnê há muito tempo e posso afirmar, o público brasileiro é o melhor que tem”.

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Já era noite quando a banda fecharia o show com a música mais forte do repertório – e a mais esperada pelo público – Radioactive. Foi a levadinha do violão começar que a animação da galera chegou ao ápice.

Os primeiros três versos da canção, I’m waking up to ash and dust/I wipe my brow and sweat my rust/I’m breathing in the chemicals, sempre são cantados pelo público nos shows do Imagine Dragons. Lembro de ter visto um tweet depois do show de uma menina que estava no palco Skol, 600m longe do palco onde eu estava, dizendo que era possível ouvir o coro de Radioactive. Justo, porque ecoou até para quem estava no meio da multidão.

Quando finalmente o show acabou, algumas pessoas se sentaram e comentavam entre elas que não esperavam essa força. Eu, com toda a expectativa que tinha, também não.

Mal tinha me recuperado do último show, já era hora de Nine Inch Nails.

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As apresentações da banda são igualmente geniais e caóticas, misturam muito do álbum novo, mais eletrônico, e dos antigos, um pouco mais melódicos.

É difícil definir o que foi aquela apresentação, mas creio que minha alma tenha saído e procurado algum lugar mais quieto, porque quietude é algo raríssimo em shows do Nine Inch Nails.

“Eles não dão folga”, falei para um colega que tinha acabado de conhecer por lá, e foi assim o show todo, uma porrada atrás da outra. Para quem via de fora, parecia começo de festival, pessoas dançando loucamente, pulando, cantando junto.

O público clamava por Closer, mas Trent Reznor não queria nem saber, ia fazer do jeito dele e acabou. Ainda bem que foi assim, porque a apresentação foi bem mais do que qualquer um por ali esperava, foi um acontecimento.

Na última música, Hurt (regravada – e recriada – por Johnny Cash), os aplausos vinham depois de cada estrofe. Uma pessoa ao meu lado se ajoelhou como se aquelas palavras falassem muito mais do que estavam dizendo, era uma emoção genuína, no mundo existiam apenas ela e a música. Foi lindo.

Meu sábado terminou ali, jogada na grama com um irlandês do lado, chocada com tudo o que tinha visto, pensando que domingo ainda teria mais.

Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 3 comentários

  1. Homem cinza sem pescoço

    Eu vi Cage the Elephant no primeiro Loola e não é nada demais. Imagine Dragons consegue ser pior. Ouça The Oh Sees pra ver o que é o novo rock. Essa é uma banda que deveria estar por aqui no próximo Loolapalooza

    1. Leonardo Carvalho

      the oh sees também não é grande coisa, mas é melhor que cage mesmo. imagine dragons é piada total

      1. Homem cinza sem pescoço

        o Chris Cornell e o Frank Black não precisam pular como uns idiotas pra fazerem um bom show. Ali a música (que é o que importa) fala por si só

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