Obrigado, sr. Steve Dillon! Ou: Tire férias, Ceifeiro!

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Steve Dillon morreu… Que tragédia!

Ele nasceu em Luton em 1962 e começou a trabalhar profissionalmente aos 16 anos, na Marvel UK. Como praticamente todo artista britânico com um mínimo de relevância na área de HQs, publicou trabalhos nas míticas Warrior e 2000 AD. Através da revista Deadline, lançada junto com o seu amigo Brett Ewins, ele apoiou artistas britânicos underground, trazendo seus trabalhos para o mainstrean. Também foi um entusiasta apoiador do movimento musical conhecido como britpop.
Nasceu em Luton em 1962 e começou a trabalhar profissionalmente aos 16 anos, na Marvel UK. Como praticamente todo artista britânico com um mínimo de relevância na área de HQs, publicou trabalhos nas míticas Warrior e 2000 AD. Através da revista Deadline, lançada junto com o seu amigo Brett Ewins, apoiou artistas britânicos underground, trazendo seus trabalhos para o mainstrean. Também foi um entusiasta do movimento musical conhecido como britpop.

Dillon surgiu para mim no dia em que o Inacreditável Neo entrou na minha casa trazendo em suas mãos Grandes Heróis Marvel Premium nº 6. Ele sabia que já fazia um bom tempo que eu tinha desistido do Justiceiro, um personagem que até tinha gostado muito em outros tempos, mas que sofrera tantas “transformações” ao longo dos anos que terminou descaracterizado, sem apelo. Sabendo disso, Neo me entregou a edição aberta: “Você TEM que ler isto!”

Revista Warrior
Warrior

Era a primeira parte do arco Bem-Vindo de Volta, Frank. Mais do que um clássico do personagem, fui apresentado a dois artistas que, a partir daquele momento, acompanharia com muito interesse: o roteirista Garth Ennis e o desenhista Steve Dillon.

2000 AD
2000 AD

O impacto foi tão grande que nunca mais curti o Justiceiro no traço de outro cara. Claro que comemorei muito quando descobri que Dillon havia retornado para as histórias do personagem, na linha Max, agora com roteiros de Jason Aaron. Steve Dillon é, para mim, o artista definitivo de Frank Castle.

Justiceiro
Justiceiro

Mas, voltando à dupla de criadores, fui procurar mais coisas deles e me deparei com Preacher. Sofri anos com a imensa dificuldade que era conseguir colecionar estas histórias, suplício que só terminou quando a Panini assumiu a empreitada. Mas valeu a pena: mais uma vez, o casamento texto-arte foi perfeito.Uma das coisas que eu gosto nesta série é que ela transita do macabro pro fantástico, mas passando por várias “estações” no caminho. Garth se empenhou pra criar incríveis cenas de terror, memoráveis quadros de violência e incômodas passagens do que muitos chamam de pura blasfêmia: Steve Dillon desenhou tudo de acordo. Mas também temos cenas de drama, romance e puro cotidiano, verdadeiras crônicas de um dia normal, com amigos sentados em um balcão de bar falando sobre aquele nada que pra nós vale tudo. E Dillon, mais uma vez, esteve à altura da tarefa.

Preacher
Preacher

Preacher está no meu Top 5 de hqs. Me diverte e me incomoda (no bom sentido), como numa boa série de TV, mesmo nos seus arcos que fogem completamente da trama principal. Acho até que a primeira grande mancada – de um monte de outras – da adaptação desta HQ levada adiante por Seth Rogen foi ignorar em grande parte o visual criado por Dillon para os personagens. Aquilo, de certa forma, impede a identificação do fã da obra original, que tem a fisionomia de cada um deles profundamente gravada na memória.

Preacher
Preacher

Depois disso, vi o trabalho de Dillon em Wolverine, Hellblazer, Homem-Animal, uma mini do Mercenário, Supremos… Sempre no mesmo nível, mesmo sua arte-final ficando mais “limpa” com o passar dos anos.

Mercenário - Anatomia de um Assassino
Mercenário – Anatomia de um Assassino

Claro que ele tem defeitos. Mas os mesmos de um monte de outras pessoas e num grau bem menor. Você acha que ele faz todo mundo “parecido”? Veja Jim Lee, John Byrne, Frank Quitely ou Manara! Você entende que as mulheres dele são feias? Observe as “desenhadas” por Humberto Ramos, (desculpem as palavras) Rob Liefeld ou Phil Jimenez. Acha que ele “suja” demais seus personagens ou cenários? Dá um bico no que o David Finch faz…

Homem-Animal
Homem-Animal

Suas qualidades, por outro lado, saltam. Sem firulas desnecessárias, ele soube casar bem o estilo europeu com o do quadrinho norte-americano de massa. Ele respeita anatomia e proporção e tem boa narrativa, mais preocupado em contar bem uma história do que fazer desnecessárias cenas de página dupla. Sua arte-final é bem feita e seus personagens não precisam ficar “escondidos” por litros de tinta preta. Seu trabalho exala bom humor, mesmo quando temos no quadro sujeitos sem um sorriso no rosto.

Supremos
Supremos

Sua morte, realmente, me deixou chocado e triste. No mundo atual, em que grandes astros do passado envelhecem mal, deixando sua arte decair (Frank Miller!) ou desdenhando do meio que lhe fez famoso (Alan Moore), e os atuais “grandes astros” ganham destaque mais pela velocidade com que produzem do que por coisas como “narrativa” ou “composição”, o nome de Steve Dillon na capa me dava a garantia de uma compra satisfatória.

Hellblazer
Hellblazer

De minha parte, só quero agradecê-lo por algumas das melhores páginas de hqs que li na minha vida. Mesmo quando os roteiros não eram lá grande coisa, ele sempre dava um jeito de fazer a história ficar um pouco mais divertida. Hoje, isso vale ouro.

Gen13
Gen13

Vá como viveu, Steve Dillon: sendo foda!

dillon

 

JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 4 comentários

  1. Inacreditavel_Neo

    “Ain… agora que ele morreu, tem um monte de fãs e é chamado de mestre.”

    Porra! Steve Dillon era foda, sim.

    1. JJota

      Eu tenho visto o contrário: como todo cara de destaque, já apareceu um monte de detrator pra dizer que ele era limitado e mimimi…

      Ele era muito foda! Sem dúvida alguma, um dos meus desenhistas favoritos!

  2. Rodrigo Sava

    Excelente homenagem e síntese do grande quadrinhista que é Steve Dillon, Jota! Ele vai fazer muita falta!

    1. JJota

      Muita. Principalmente em um mundo onde Ruimberto Ramos desenha o Homem-Aranha…

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