Os Cults, o bairrismo e as japonesas

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Uma das coisas que mais me “emputecem” na internet é falarem mal do subúrbio carioca. Criado em Lacoste e atual residente do Upper East Side de Mary Grace, qual não é minha surpresa ao ver minha adorada região do Grande Meiér como motivo de chacota no feicebruique e, principalmente, o Norte Shopping – a princesinha da Zona Norte. Pior que nem estou falando das madames socialites ricas da elite tipo Danuza Leão que nunca saíram da Viera Souto – esses são os muito muito muito muitissississimo ricos (como diria Chaves) e eu sei que não tenho um pau tão grande assim que possa me meter com essa gente.

 

Obviamente, esse pessoal nunca foi ao Madureira Shopping, Bangu Shopping, Top Shopping ou no Center Shopping (4 lojas numa galeria de Vila Valqueire!), mas realmente aí seria covardia. Eu, claro, sempre tomo todo comentário como ofensa pessoal. Pode falar da família toda (frequentadores assíduos, aliás), mas num mete (ui) o meu Shopping no meio!!! Também lembrei que não é só na internet que a gente lê isso, já ouvi essas mesmas piadinhas em salas de aula, congressos acadêmicos, academia, mesa de bar e até num enterro.

Então, resolvi tomar uma atitude de OMI com “O” maiúsculo e contra-atacar. Porque teve uma vez que fui no Shopping da Gávea (isso faz um tempo) e durante toda minha passagem por lá fiquei confabulando este texto.

A primeira coisa a se perguntar aqui é: o que raios um suburbano convicto foi fazer no shopping da Gávea? Afinal, a Gávea está aqui para a Mary Grace assim como…como… como a Gávea está para qualquer lugar que não seja o Leblon, ou seja, é longe. Eu só fui lá por um motivo: Festival do Rio. Afinal, nenhum jovem pseudo-intelectual que se preze pode perder este grande evento cinematográfico – aliás, tá chegando o deste ano.

Sinceramente, antes dessa ocasião, eu nunca tinha ido ao Festival (isso faz uns quatro anos). E grande parte do motivo era justamente porque acontece (predominantemente) na Zona Sul e eu não gosto muito de ir lá (outra coisa sobre a qual eu poderia fazer um belo texto!). Na verdade, não gosto da Zona Sul, da Zona Oeste, do Centro, da Baixada e de alguns bairros da Zona Norte, como a Tijuca, se bem que desse último só quem gosta são os próprios tijucanos. Porque se a Tijuca não existisse, eles não poderiam reclamar dela.

Voltando ao Festival… Calhou de eu estar fazendo um estágio na época no caderno cultural da Tribuna da Imprensa (meu pêsames!), o TBis, e, assim recebi meu primeiro passe de imprensa. Diferente de um passe de macumba, um de imprensa não te protege de nada, muito pelo contrário, ele só te põe em roubada. A única coisa em comum entre os dois é que ambos envolvem o encontro com entidades misteriosas – que geralmente fumam charuto (mas essa é outra história). Sério mesmo, o melhor jeito de assistir um filme é de graça (claro que não era de graça, pois, no dia seguinte, eu me mataria para tentar escrever algo sobre eles. Mas, no geral, foi mais divertido do que qualquer outra coisa).

Mesmo tendo que manter minha pose de crítico de cinema renomado, eu o fiz de uma maneira bem nerd de raiz.  Nada de filmes franceses ou qualquer coisa europeia, porque isso é coisa de viadinho. Parti logo para o evento mais nerd do Festival no ano, a mostra em homenagem ao centenário da Imigração Japonesa. O melhor jeito de pagar de crítico erudito e ainda ver alguns animes (também conhecido desenho animado que causa epilepsia, para os leigos).

Só que, dos 20 filmes da mostra, só dois eram animes, e um deles foi cancelado – o mais legal, diga-se de passagem, Ponyo on the cliff by the sea ou Gake no ue no Ponyo ou só Ponyo mesmo. Aliás, passados quatro anos ainda não vi o filme (para vocês verem como eu tava querendo ver a parada). Além desses, mais 3 dos 4 que eu queria realmente ver também foram cancelados, só me restando os filmes chatos para dedeu e os de samurais e gueixas. Como essa era uma mostra cult, eles não podiam simplesmente ser “clichês” e passar Akira Kurosawa. E assim, fui ver o filme desconhecido de gueixa, o que nos traz de volta ao Shopping da Gávea.

Não sei se vocês sabem, mas pra ver sofrimento, SOFRIMENTO DE VERDADE, você tem que ver um drama japonês. Se for histórico, a tristeza parece que duplica. E se for de gueixa, é o triplo do anterior. Imaginem, então, um drama histórico sobre a vida de uma gueixa (Memórias de uma Gueixa é pinto!). C@r4%$, é lagrima que não acaba mais. Você presencia humilhação e desprezo pelo ser humano em níveis nunca vistos…pelo menos no Ocidente.

Num momento, a mulher tá apanhando; no outro, ela tá no enterro do primogênito, depois ela apanha mais um pouquinho e o filho mais novo vai para guerra com o pai. O marido perde a perna e o filho perde os braços. Pelo menos agora ela não apanha mais, mas aí precisa se prostituir para botar comida na casa. Nessa parte, vem o desprezo por parte do filho e do marido, que ela sustenta e alimenta, diga-se de passagem. Isso se repete algumas vezes até que no final ela se mata. E pior que TODOS são assim, só que com menos ou mais porradas, e muita ou pouca prostituição. Porque ou ela vira puta mesmo ou só dá para um cara rico que a banca (e maltrata).

E o Shopping nisso tudo? Bem, para começar, assim que cheguei, quase dei uma trombada na Ingrid Guimarães – a atriz. Finalmente entro realmente no prédio e me assusto com a quantidade de pessoas de terno fazendo uma social num Café. Aliás, poderia fazer um manifesto inteiro sobre pessoas que frequentam Cafés. Para se ter uma ideia, só passando para tentar achar as escadas rolantes ouvi a seguinte frase: “ah, dá mais ou menos uns 90 mil reais, só isso”. Se eu estivesse em qualquer outro lugar, eu teria parado imediatamente e olhado para trás, mas não podia quebrar a minha pose de habitué. Então, reunindo todas as minhas forças, continuei andando.

Outra coisa irritante é o fato de eles tentarem esconder qualquer coisa que lembre de longe as necessidades mundanas. Como o detalhe da escada rolante que só achei depois de meia hora procurando.

Isso sem falar do banheiro que te dá bom dia e parece ter sido projetado para ser mais bonito do que qualquer outra coisa dentro do shopping. Além do mais, ONDE JÁ SE VIU UM SHOPPING QUE TÊM MAIS TEATROS DO QUE CINEMAS. Vai te catar!

*Zé Messias é um notável crítico de cinema e um notório espírito de porco. É cupinxa do jogador Adriano e possui cargo comissionado na Câmara a mando da Patrícia Amorim.

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

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