Os iluminerds invadem o Bate Papo Literário Nacional – BPLN RJ

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Fala galera que curte literatura, mas ainda acha que o Kamasutram é a primeira versão da playboy hindu! Hoje, não falarei sobre filmes, o assunto são os livros. Porém, diferente do meu cotidiano no Iluminerds não vou resenhar ou dar notas avulsas.

Lá estava eu, um velho e cansado mafioso, perdido num sábado chuvoso qualquer quando, alertado pelo celular, eis que vejo a mensagem – “Esqueceu de me buscar no Aeroporto?” Foi nesse momento, com um sorriso enviesado nos lábios, que se deu início a minha nova jornada no meio literário, agora, não apenas escrevendo, e sim, participando dos Eventos!

Escritores, quantos são? Quem são?  Como sobrevivem de tiragens tão pobres e percentuais ínfimos?  De onde vieram? Caso não saiba a resposta dessas perguntas, não perca o próximo Globo Repór… Ops! Bate Papo Literário Nacional – RJ!

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O BPLN nasceu, como podemos ver neste site – de uma ideia simplória que, resumida, é a comemoração do aniversário da organizadora e o anseio da mesma em criar seu próprio evento literário. Superando o princípio intimista e pessoal, após o apoio da  Livraria Martins Fontes, o evento ganhou corpo e alcançou tamanha visibilidade que, atualmente, espalhou-se pelas demais regiões – começou em Sampa – e, finalmente, chegou ao Rio de Janeiro. Dessa maneira, dando sequência às nossas coberturas de evento, o Iluminerds se fez presente pra conferir o evento, além de, é claro, tentar trazer informações fresquinhas para nosso público!

Iniciando com certo atraso devido às sequelas de uma cidade que há pouco vivera o um dos mais marcantes movimentos sociais deste século,  o evento ocorreu no subsolo do monumento Estácio de Sá. Logo de início, devo confessar, que o local tornou-se uma grata surpresa, pois, além do ambiente climatizado, também tivemos uma prévia do que viria através de cartazes e dos próprios livros  que compunham a recepção.

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A despeito da belíssima entrada, e da cortesia, tanto por parte dos escritores, como dos próprios organizadores do evento, alguns fatos devem ser postos à mesa. Contudo, antes de dar início a esta análise, lanço-lhes uma questão: do que se trata um evento literário?

Não me venham, por favor, com apenas uma palavra de resposta. Sei que lidaremos com literatura, mas a que ponto será discutida? Falaremos sobre o mercado editorial? Falaremos sobre estilos literários? Autores conhecidos e suas obras? Debateremos o atual panorama da literatura nacional brasileira? Ou será tão somente um merchandising além-fronteiras? Um bate-papo informal para aproximar público e leitor? Ou, ainda, faremos disso, uma mescla entre esses variados assuntos, sem dar a devida atenção a cada um deles?

Não sei se irá soar de bom tom, mas, mesmo que não seja tão gentil de minha parte, acabei vendo uma falha grosseira na organização do evento que, por pouco, não minou o interesse daqueles que buscavam inserção nesse novo mundo. Infelizmente, apesar da extrema boa vontade – afinal, ninguém ali faturou – ficou nítido que não existia um objeto de discussão definido e, por certas vezes, os poucos temas levantados, acabavam se perdendo entre as milhares de histórias contadas pelos convidados. O que não deveria ser surpresa alguma, afinal,  nós escritores, temos um problema sério quando nos dão a palavra.

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A mesa em si – composta pelos simpaticíssimos, Felipe Colbert, Raphael Montes, Ricardo Valverde, Renan Carvalho, Marcia Rubim, Tammy Luciano, Bhya Cortes e Mari Scotti – como atração principal do evento, fez jus ao destaque quando, sem medo algum, bateram um papo franco e direto diante das mais variadas perguntas ou tentativas de formulação da mesmas. Um exemplo – um rapaz que, durante dez enfadonhos minutos, tentou questionar não se sabe o quê a não se sabe quem, gerando um entreolhar curioso entre os autores.

Como dito anteriormente, devido a falta de uma pauta, a discussão acabou seguindo por diversos temas  ao mesmo tempo em que não se aprofundava em nenhum deles. As ideias, além de discutidas de maneira superficial acabavam perdendo seu fundamento, visto que devido à extensão da mesa, ao chegar no último convidado sofria com um efeito similar ao da brincadeira ”telefone sem fio”.

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Questões importantes como novos meios de divulgação; a atualidade do mercado editorial;  o(s) movimento(s) literário(s) no país e seus principais expoentes; como publicar seu livro; ou, simplesmente, a opinião dos autores sobre determinados projetos; acabaram sendo pouco discutidas. Algumas até mesmo ignoradas por conta da falta de tempo, visto que diante a amplitude do evento e, até em respeito ao deslocamento do autores, apenas duas horas não são suficientes para que um tema tão em voga seja debatido.

Não sei se é uma opinião pessoal, mas percebo que a exposição da literatura nacional tem despertado, principalmente na internet, um novo público. Como um dos entusiastas dessa iniciativa, terminei com um gosto amargo de frustração em meus lábios. Talvez esteja sendo enfadonho em dar tanto destaque para essa situação que considerei uma falha, todavia, acredito que nem os próprios autores estavam ali para falar apenas de suas obras. Cito como exemplo, o próprio Felipe Colbert, que muito mais interessado nas discussões, assim como na aura política que cobria nosso país, pouco falou de seus livros. Ou até mesmo o participativo Raphael Montes que, se destacando pelas tiradas irônicas, deu ao debate um gosto especial mesmo não se referindo tanto à sua produção.

Outro ponto que também merece destaque é o investimento que esses autores fizeram para ali estar, o que deixou bem claro que a arte da escrita ainda não é de acesso universal, ou melhor dizendo, para todas as camadas da sociedade. Para ter alguma visibilidade o autor também necessita de certo poder aquisitivo, já que além de arcar com os custos de impressão – ultrapassando a casa dos R$ 10.000,00 para uma tiragem de 1.500 livros – também é onerado na parte de divulgação. Podemos citar como exemplo quando a belíssima Tammy Luciano revela que, em seu primeiro livro, gastara uma quantia próxima a dois mil reais em produtos publicitários.

Após esta questão, e de algumas outras que foram lançadas à mesa, podemos perceber que o artista, assim como sua editora – esta, na verdade, agindo como vítima e cúmplice do algoz – tornam-se reféns de uma logística financeira imposta pelas livrarias. Afinal, vender um livro sem o espaço das mesmas, pode ser facilmente comparado àquele universitário que sempre chega perto de alguém e pergunta: “Gosta de poesia?”

Gostaria de dizer, para encerrar, que, em momento algum, teci tais comentários com o intuito de criticar a competência da organização do evento. Para ser franco, apenas o fiz com intuito de propor uma nova fórmula para uma iniciativa tão importante.  Fiz questão de me explicar, pois  vejo essas pessoas como exemplo de garra, uma vez que no país que vivemos – local em que a educação não passa de mais uma mercadoria – não é fácil gastar do próprio bolso, sem a mínima esperança de retorno, já que o evento foi gratuito. É por isso, que ratifico o quão gratificante é estar ao lado e acompanhar diariamente a batalha hercúlea dessas pessoas em difundir tal ideia. Fato de maior notoriedade, pois a idealizadora é uma jovem que aos dezessete anos dá um baile em muitos acadêmicos narcisistas que adoram bater no peito e se autoproclamarem defensores da arte quando, na verdade, além da inércia comum ao meio, apenas buscam polêmica para ganhar algum destaque.

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Parabéns, Larissa Sposito e Mesa Convidada.

Agora, deixarei as capas de alguns dos livros que estavam sendo vendidos no evento.

Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

Este post tem 4 comentários

  1. JJota

    O que não deveria ser surpresa alguma, afinal, nós escritores, temos um problema sério quando nos dão a palavra.

    O chefe, mais uma vez, dando demonstração inequívoca de sua imensa humildade…

      1. JJota

        Tem um ditado aqui no CE: “Quanto mais chefe se é, mais chifre se tem!”

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