Aqui continuo a traçar uma pequena biografia da vida daquele que foi um dos maiores Cavaleiros Jedi e um dos mais poderosos Lordes Sith de todos os tempos. A primeira parte você pode ver aqui.

UM GUERREIRO SEM PAPAS NA LÍNGUA

A Guerra dos Clones terminou estabelecendo a fama de Anakin Skywalker.  Nomeado Cavaleiro (as baixas severas entre os Jedi em Geonosis e a escalada vertiginosa da guerra apressaram a promoção de diversos padawans), deu mostras sempre crescentes de suas qualidades, entre elas um assombroso controle da Força, maestria como piloto de combate, desenvolvimento de raciocínio tático, alta capacidade de comando de pequenas unidades  e uma coragem à beira do desprendimento.

Mas existiam os poréns.  Problemas disciplinares e quebra de hierarquia em primeiro plano. Skywalker achava a guerra mal conduzida pelos políticos de Coruscant e criticava abertamente o Conselho Jedi

por acatar tal planejamento defeituoso. Acreditava que guerreiros do porte dele, principalmente, e de Obi-Wan Kenobi estavam sendo desperdiçados em missões diplomáticas inúteis, quando deveriam estar caçando os principais líderes separatistas: Conde Dookan e seu chefe militar, General Grievous.

CANSADO DE GUERRA

A verdade era que a indefinição da guerra angustiava o jovem. Tendo pouco convivido com sua esposa, ansiava pela vida familiar completa que lhe foi negada por toda a vida. Sua impaciência aumentou ao descobrir que ela estava grávida. Passou a fazer planos que incluíam abandonar a Ordem, mas seu senso de dever e desejo de que seus filhos fossem criados em uma galáxia segura (ainda que esta segurança fosse garantida por um governo com mão de ferro) o mantinham engajado.

Como se vê, Skywalker estava diante de um dilema: ele queria uma vida simples, mas segura; aceitava sair da Ordem, mas não antes de terminar aquele conflito armado.  Padmé também sonhava com uma vida calma, mas ela era, antes de mais nada, uma partidária fervorosa da República, empenhada em manter a democracia. Este ponto de vista divergente politicamente era o único senão de um relacionamento que se tornava cada vez mais importante para os dois.

OS ERROS DO CONSELHO

Apesar de ter em Anakin um dos seus principais guerreiros e um ídolo popular nos planetas que se mantinham leais à República, o Conselho Jedi continuou a tratá-lo com desdém em vez de atenção, com receio em vez de respeito. E cometendo erros absurdos. Destaco três.

O primeiro foi perpetrado diretamente por Yoda, que  entregou ao recém-nomeado Cavaleiro a responsabilidade de treinar uma padawan, a togruta Ahsoka Tano. O velho Mestre tentava assim incutir responsabilidade no intenso Jedi. Mas deve ter esquecido de atentar para a personalidade da garota. Ahsoka era teimosa, desobediente, um pouco arrogante e não via problemas em usar armas como o medo pra alcançar seus objetivos em combate. Ela também começou a nutrir sentimentos por um oficial das tropas clone. Como se pode notar, nem ela nem seu mestre foram de muita influência positiva um para o outro.

Até o momento, os historiadores da Galáxia não conseguiram descobrir que fim levou Ahsoka. No entanto, o fato de seu nome nunca ter sido citado depois do seu desaparecimento, seja pelos Jedi, seja por Anakin, sugere que algo extremamente traumático aconteceu. Há versões que apontam uma queda dela para o Lado Sombrio bem antes de Skywalker, tendo este sido obrigado a matá-la. Outros dizem que ela foi morta por ele quando descobriu que seu mestre estava sendo influenciado por um Lorde Sith.  A versão mais correta talvez seja a que aponta a simples deserção da menina, encorajada por seu mestre, que há tempos vinha pensando em fazer a mesma coisa.

Agora, raciocine comigo um momento. Você suspeita do Supremo Chanceler da República Palpatine. Este é próximo a um dos seus mais valorosos guerreiros. Você tem a oportunidade de colocá-lo em uma situação vantajosa que diminuiria a influência nociva de Palpatine e transformaria Anakin não só em uma fonte de informação para o Conselho como também de desinformação para o Chanceler. O que você faz? Hein? Eu, com certeza, não perderia tempo nem arriscaria tanto tentando passar lições escrotas de humildade. Acho que, muito provavelmente, você também não.

Mas foi isso que o Conselho fez. Palpatine deu aula de psicologia e dogmática Jedi. Ao “se intrometer” na Ordem, pedindo um lugar ao seu protegido Skywalker como representante do Supremo Chanceler junto ao Conselho, ele sabia que os Mestres adotariam uma solução meia-boca, colocando-o como um simples ouvinte e negando-lhe a promoção. Aquilo ofendeu Skywalker, que almejava o grau para, mais do que simplesmente satisfazer seu ego, ter voz ativa no planejamento das operações militares.

Por fim, quando Anakin começou a ter estranhos sonhos premonitórios que mostravam Padmé morrendo durante o parto, ele procurou a ajuda de Yoda, que mais uma vez começou o velho e chato discurso “O medo… mimimi… ódio… bobobó… Lado Sombrio” e não ajudou em porra nenhuma. Palpatine, por outro lado, aproveitou-se do desamparo do rapaz e plantou nele a ideia de que um estudioso da Força – um estudioso que não fosse limitado pelas crenças Jedi – poderia alcançar até mesmo as chaves pra vencer a morte.

A QUEDA

Os detratores de Skywalker com muita facilidade esquecem que, quando ele descobriu que Palpatine era Darth Sidious, um Lorde Sith, ele decidiu entregá-lo para a Ordem. Apesar de todo o seu dilema emocional, que envolvia principalmente a possibilidade de, mais uma vez, tornar-se sozinho no mundo, Anakin optou por, mais uma vez, ficar do lado do Conselho que sempre o tratou de forma errada.

Dizem que, diante de alguém que pode ser tão ou mais poderoso do que você, só se pode comandar através do exemplo. Quis o destino que o mais gabaritado membro do Conselho presente no Templo Jedi naquele dia fosse não Obi-Wan nem Yoda, mas Mestre Windu.  Este deu um show de arrogância ao se nomear para capturar, sem avisar ninguém do Conselho ou da República, o Supremo Chanceler. Sua atitude impensada teve os mais diversos efeitos. A curto prazo custou a vida dos dois Cavaleiros que o acompanharam e provocou o momento decisivo em que Anakin se perdeu.

Isso ocorreu no momento em que Mace Windu tinha Darth Sidious subjugado. O Escolhido apelou para que Palpatine fosse preso, mas o Mestre Jedi resolveu agir como juiz e executor, mais uma vez demonstrando pouco apreço pela vontade de Skywalker.

É necessário lembrar que muito do encanto de Anakin pelo Supremo Chanceler havia sido rompido quando este o ordenou que matasse o rendido Conde Dookan. Apesar de ter cumprido o comando, o Jedi se sentiu muito mal por ter agido daquela forma. Tanto que depois desafiou um comando direto de Palpatine para que abandonasse o ferido Obi-Wan.

Naquele momento, a mente de Skywalker havia encontrado algo em que apoiar sua crença de que os Jedi, apesar de tudo, eram melhores do que os Sith. E Windu destruiu esta distinção quando se rebaixou ao nível do inimigo.

Agindo em um impulso, Anakin terminou provocando a morte de Mestre Windu. No mesmo instante, caiu em si e se viu perdido, despojado de tudo de um momento para o outro. Via um futuro terrível, expulso da Ordem Jedi e renegado pela República. Se tornasse um prisioneiro ou um fugitivo, estaria desamparando Padmé da mesma forma como ele um dia acreditou ter feito com sua mãe. Ela morreria. E sozinha.

Não é de se espantar que ele tenha decidido mudar de lado e, mais do que isso, criado em sua cabeça e em seu coração toda uma versão que justificasse tal ato. Pela primeira vez liberto de todas as amarras, ele agiu como o sedento que encontra um oásis e bebe água até estar se sentindo terrivelmente enjoado.

Anakin Skywalker logo se arrependeria inutilmente de sua decisão.

A Galáxia lamentaria ainda mais.

O Escolhido havia se tornado um Lorde Sith. Havia se tornado Darth Vader.