Panteão Pop – Lester Bangs

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Essa coluna, proposta pelo integrante Jota Jota em seu texto sobre Anakin Skywalker e continuada pelo Rosinha em seu texto sobre Lampião, tem como objetivo contar um pouco mais sobre a história de algum personagem importante da ficção ou da realidade. Sendo assim, resolvi dar minha contribuição falando sobre um dos ícones mundiais do jornalismo musical: Lester Bangs.

Leslie cover

Numa década em que a disco music era muito mais popular que o rock’n’roll, o rock progressivo surge com toda força, a maior banda de rock de todos os tempos, os Beatles, se separa e o rei, Elvis Presley, morre, um coadjuvante de ouvidos atentos, opiniões fortes e dedos flamejantes merece uma atenção especial.

Leslie jan-1949

Leslie Conway Bangs – ou Lester Bangs – nasceu em Escondido, uma espécie de vale no meio das montanhas ao Norte da cidade São Francisco, em 13 de dezembro de 1948. Sua mãe, Norma, o teve quando já tinha 43 anos. Apesar de ouvir todos os riscos que envolviam ter uma criança nesta idade, ainda mais naquela época, ela não queria e não poderia fazer um aborto, visto que era testemunha de Jeová.

Leslie sempre foi uma criança inteligente. Ao entrar no ensino fundamental, sua professora sugeriu a Norma que ele pulasse um ano, o que ela não achou que fosse necessário, mantendo o garoto no primeiro ano mesmo. Na verdade, sua mãe apenas o mandou para a escola porque era obrigada, por ela, Leslie teria ficado em casa aprendendo apenas coisas relacionadas a Bíblia, o que, para ela, era o conhecimento que bastava.

Bangs fam - 1953

Apesar da fé fervorosa de sua mãe, já não era novidade que tanto ele quanto seu pai desgostavam da religião, mas sua família era influente em meio aos Testemunhas de Jeová, os Bangs participavam ativamente das reuniões e tinham grupos de orações.

Seu encontro com a música aconteceu ainda em seu primeiro ano na escola, quando ouviu The Storm, de William Tell, em um desenho na televisão. Anos depois teria outro encontro com a música There Goes My Baby, do The Drifters, no rádio do carro, enquanto sua mãe o levava para escola. “São eventos como este que você lembra como seu primeiro orgasmo”, disse Lester em uma entrevista para Jim Derogatis, escritor de Let It Blurt (biografia sobre o Lester lançada em 2000).

Norma não gostava que seu pequeno Leslie ouvisse os “infernais discos de jazz”, mas não o proibia, o que fez com que o garoto fosse atrás de mais e mais discos. Depois de passar por muita coisa – inclusive episódios onde fora abusado sexualmente quando jovem – Leslie decidiu  começar a escrever após ver um anúncio que a Rolling Stone precisava de críticos lá em 1969.

Seu primeiro texto – surpreendentemente – publicado foi uma crítica negativa ao Kick Out The Jams do MC5 (ótima banda, se você não conhece, procure!). Apesar disso, seu jeito de escrever não foi muito bem compreendido pela revista e já em 1973 Jann Wenner, um dos fundadores da revista, decidiu demiti-lo após uma crítica bem brava a banda Canned Heat.

Foi ai então que Lester decidiu se mudar para Detroit, em Michigan, e virar escritor e editor da revista Creem. Esta revista é considerada uma das maiores revistas de rock’n’roll dos Estados Unidos e, enquanto Lester esteve por lá, responsável pela criação dos termos punk rock e heavy metal.

Nesse vídeo você pode ver alguns fragmentos de uma entrevista com o Lester Bangs falando sobre música quando ainda era editor da Creem.

Sua crítica mais famosa e comentada, com certeza, é a de Astral Weeks do Van Morrison; e se você manja de inglês, pode encontrá-la na íntegra aqui.

Esse é o grande problema de Lester, há pouquíssimo material sobre o cara por ai, e o que tem, geralmente é em inglês; principalmente porque Bangs é considerado intraduzível. O cara inventava tantos termos que fazer uma tradução disso deve ser um inferno! Contudo, foi lançada no Brasil uma coletânea de críticas – que inclui a comentada Astral Weeks – chamada “Reações Psicóticas” (com menos de R$30 você compra) ou, se você manjar de inglês e tiver iTunes, tem muito material por lá também.

Lester morreu em NY no dia 30 de abril de 1982, quando tinha 34 anos, de overdose. Bangs foi citado por inúmeras obras, entre elas, o filme Quase Famosos, a música do R.E.M, It’s the End Of The World As We Know It e na canção It’s Not My Place (In The 9 to 5 World), do Ramones.

And it’s not my place
with 9 to 5 girl
It’s not my place
In the 9 to 5 world

Hangin’ out with Lester Bangs you all
And Phil Spector really has it all
Uncle Floyd shows on the T.V.
Jack Nicholson, Clint Eastwood, 10cc

Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 3 comentários

  1. JJota

    Foda demais. São caras assim que revolucionam a forma de escrever e mantém aceso o interesse das pessoas por esta forma de comunicação cada vez mais arcaica.

  2. Sandra Mel

    Parabéns minha deusa, texto show!!!
    And it’s not my placewith 9 to 5 girl
    It’s not my place
    In the 9 to 5 world 😉

  3. Edu Aurrai

    Tem o livro Mate-Me Por Favor, cujo qual possui uma porra da de citações do nosso amigão Lester.
    Gaby, te desafio a fazer um do Cameron Crowe agora! =D

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