Polêmicas do Youtube – Porta dos Fundos e a Escrotidão Planejada

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É preciso definir escrotidão primeiramente. Uma pessoa, ou grupo de pessoas, é escrota quando age de maneira não agradável a alguém; por exemplo, no trânsito, aquele que não entra na fila para fazer o retorno é uma pessoa escrota. Assim, a escrotidão de algo está atrelada fortemente a um contexto específico, portanto, a perspectivas únicas – a pessoa que estava no carona apertada para cagar não considerou o motorista uma pessoa escrota.

Isto colocado, podemos passar para a escrotidão do Porta dos Fundos.

O Porta dos Fundos é uma produtora de esquetes para a internet que virou moda – mais um filhote da excelente estratégia de marketing que utiliza as redes sociais e a notoriedade de alguns membros, como Kibe, Duvivier e Porchat. Com quase 8 milhões de inscritos e uma média de visualizações de 4,5 milhões por vídeo, o diferencial deste canal do Youtube é a qualidade estética dos vídeos: roteiro, luz, som, edição, atuação…

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O Porta é um exemplo claro de webcelebridade. Por mais acessível que a internet pareça estar, ainda hoje o termômetro que avalia a notoriedade de algo é a mídia tradicional – se não apareceu na televisão, não é famoso. Se você andar por aí perguntando às pessoas se elas conhecem o grupo, ficará espantado com a quantidade de nãos que ouvirá. Entretanto, o Porta dos Fundos conseguiu sair um pouco do mundo fechado da web e ganhou fama no meio dos dinossauros da imprensa. Devido a seu grande talento? Não. À polêmica.

Não ser celebridade não quer dizer que seja ruim. Pelo contrário, indica que não se enquadra nos formatos tradicionais – apesar de se aproximar do padrão em termos formais, o conteúdo é completamente livre das limitações da mídia televisiva. E é esta liberdade que acaba chamando atenção a algumas produções.

Alguns vídeos utilizam temas polêmicos, dois em especial causaram a ira dos religiosos e policiais. O primeiro foi um especial de Natal brincando com dogmas; o segundo criticou a atuação da PM do Rio de Janeiro. Mesmo com a grande quantidade de pessoas se sentindo ofendida, os vídeos de fato são engraçados…

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Lembremos-nos da definição de escrotidão. Estes vídeos são escrotos? Sim, para os religiosos e policiais (e simpatizantes). Por mais que levantemos a questão do humor, não há como garantir a aceitação geral. Apesar de ser subjetivo, o vídeo pode sim ofender e está no direito da pessoa expor sua opinião.

A questão se inicia quando pessoas que não pensam da mesma maneira que o núcleo criativo do grupo começam a acompanhar o canal. O comando do Porta dos Fundos é formado pela classe média moradora/frequentadora da Zona Sul do Rio de Janeiro (ou você acha que a dura policial em pobre é igual àquela?) Como brasileiro só respeita aquilo que acredita, qualquer coisa diferente está errado, é imoral, um absurdo. Se eu disser que não gosto de futebol, ferrou…

Mesmo sendo vídeos de humor, cujo propósito seria o de fazer rir, eles podem incomodar. E é o que acontece. Mais uma vez, uma nova chuva de apelos, comentários, críticas e compartilhamentos se espalharam pelas redes sociais – tanto contra quanto a favor. As pessoas se mobilizam sem informação suficiente, movidas por preconceito, radicalismo e impulso. Confundem conceitos de liberdade de expressão, liberdade religiosa, livre pensamento e manifestação, internet livre e por aí vai. Esquecem que o direito é igual e proporcional a todos. Da mesma forma que ele não agride a alguns, pode agredir a outros. Aceite o fato.

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Os integrantes do Porta dos Fundos são talentosos e, portanto, inteligentes. Eles sabem o que estão fazendo. Eu não tenho a ilusão de que o grupo é puro e quer apenas fazer as pessoas rirem. Isso é um mercado, eles sabem quais vídeos serão polêmicos ou, pelo menos, tem noção da potencialidade do fato e jogam economicamente com isso – as inscrições do canal aumentam, as visualizações e o valor da publicidade também. Mesmo quando um deputado fala mal do vídeo e abre um processo, há um lado positivo: as pessoas, para falar mal, verão o conteúdo. Mais um view aí…

Esta abordagem escrota de alguns vídeos é uma estratégia. E muito boa por sinal. Fazer vídeos brincando com a religião, política e sexualidade dão audiência, positiva ou negativa.

Felizmente, nossos políticos não entendem sobre Cauda Longa e não perceberam a força econômica da internet, e é só por isso que somos beneficiados com seu esquecimento. Se não fosse assim, teríamos uma quantidade ainda maior de fiscalizadores, taxadores, puristas, cada um querendo sua fatia de fama e dinheiro dentro da internet. Deputados como o Feliciano já perceberam isso…

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Em suma, o Porta dos Fundos faz vídeos que ofendem, e sabem disso, e os ofendidos têm o direito de reivindicar. Discordo sobre ir à Justiça, pois, infelizmente, ela não possui a imparcialidade, competência e maturidade para julgar este tipo de caso. Cabe aos próprios usuários avaliar quem está certo, e em função deste julgamento, acompanhar ou não o canal.

Porta dos Fundos é escroto? Sim. Mas é ruim? Não…

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 7 comentários

    1. Gustavo Audi

      Se vc pensar em termos de conteúdo sim, mas de formato não. Parafernalha veio antes, por exemplo (e não estou comparando qualidade dos videos…)

      1. Marte é p/ os Fracos

        Se for se basear em cópia de formato. A plataforma de lançamento de novidades como esses canais não é o Brasil e sim os EUA. O que realmente diferencial um canal do outro é a qualidade e ambos merecem destaque mais por seus acertos do que por seus erros. Afinal nem todos os vídeos são bons.

  1. JJota

    Concordo. Há, sim, a intenção de ofender, como muitos de nós costumamos fazer. A verdade é que a maioria das piadas ofendem pessoas ou grupo de pessoas. Piada que não ofende é uma arte, assim como a paródia é uma linha tênue entre o bom e o mau gosto. Concordo com o resto também: processar? Velho, ignora e vai em frente. Normalmente eu sou o primeiro a fazer piada com advogado, mas conheço alguns que ficam ofendidos com brincadeiras do tipo… Resultado: tome zoação.

    1. Don Vittor

      Na delegacia já ouvi cada merda. Já vi um registro onde um cara foi chamado de filho da puta , porém, devido a ausência de provas sobre a “puticidade” de sua mãe ele queria alterar a ofensa para calúnia rs

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