Red: Crescer é uma Fera

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Seja um monstro peludo, um cara que curte dançar, um mágico de salão, uma menina que gosta de meninas ou simplesmente uma pessoa divertida, ser quem você é ou quem você deseja ser pode ser realmente desafiador se não é o que esperam de você, mas será, com certeza, crucial para moldar a vida que você viverá.

Red é uma versão ágil do que conhecemos como romance de formação. É uma história sobre crescimento, como o subtítulo entrega. Da transição de uma menina para a puberdade. Acima de tudo, é uma história muito bem desenvolvida, belamente contada sobre uma adolescente sino-canadense que vive entre dois mundos: o dela e o que esperam que seja o mundo dela.

Uma história sobre família, também. Sobre as famílias de onde viemos e as famílias que formamos ao longo do caminho. Sim, e sobre a relação entre pais e filhos e entre amigas. E os conflitos resultantes entre esses dois mundos quando as expectativas confrontam a realidade.

A despeito do mote fantástico do longa, a realidade se faz presente de forma bastante natural, como é marca da Pixar, em todo um contexto envolvendo o universo de meninas adolescentes ocidentais do início dos anos 2000, que idolatravam boy bands, trocavam bilhetinhos em sala de aula e paqueravam juntas e platonicamente adolescentes mais velhos.

Dá para apostar que o roteiro, de Domee Shi e Julia Cho, foi em parte inspirada na adolescência das autoras, inclusive pela escolha pouco usual e bastante acertada de situar a trama em um passado tão recente quanto radicalmente diferente do momento hiperconectado atual. Domee Shi  chegou a revelar que o filme se passa em Toronto como uma homenagem à sua cidade, no Canadá.

Além de co-autora do script, Domee Shi é a diretora de Red. Laureada por um Oscar pelo curta-metragem Bao, produzido pela Pixar, Domee esteve à frente de uma equipe criativa de mulheres em Red, e isso fica patente pelo olhar original e cheio de frescor que a história apresenta, no todo e nos detalhes. A personagem principal, Mei Lee, por exemplo, foca em um objetivo com suas amigas: estar no show de sua boy band predileta, a 4town, uma espécie de amálgama de Backstreet Boys, N’Sync, O-Town e outras dessas bandas formadas por jovens garotos que estouraram duas décadas atrás.

Red não apenas aponta para a diversidade das pessoas, famílias e relações,  mas é, ainda, um deleite para os olhos, fruto da excelência em animação tridimensional que a Pixar costuma demonstrar, e repleto de inspirações e referências da cultura pop. É possível notar a influência de Meu Amigo Totoro, King Kong, Godzilla, Sexta-Feira Muito Louca e outras comédias adolescentes. A diretora também confessou querer capturar o espírito de amizade feminina de Sailor Moon, e de ter se espelhado em Ranma ½ para a transformação em panda vermelho.

Um aventura inesquecível da Pixar para se divertir e se emocionar, com uma sensibilidade fora do comum e muita humanidade.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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