Silas Malafaia, Homossexualidade e a PLC 122

No ultimo dia 03, uma das entrevistas mais polêmicas do ano foi ao ar, Silas Malafaia, pastor-chefe da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, apresentador de TV e, por que não, empresário, esteve no De Frente Com Gabi falando sobre inúmeros assuntos, inclusive homossexualidade.

Sexualidade é algo extremamente complicado, temos inúmeras pesquisas sobre o assunto no campo da genética e, hoje em dia, é quase inaceitável falar que homossexualidade seja algo somente comportamental.

Caso você fale inglês, eu recomendo que assista a este vídeo do Hank Green em que ele tenta explicar de forma mais simples o que é a sexualidade e a diferença entre sexo e gênero. Basicamente: sexo é aquilo com que você nasce (homem, caso tenha um pênis, ou mulher, caso tenha uma vagina) e gênero é o sexo com que você mais se identifica, ou seja, você pode ter nascido dentro do corpo de um homem, mas se identificar com o sexo feminino e vice-versa.

A parte genética dessa relação pode ser explicada neste vídeo que você provavelmente já conhece do Facebook, mas é sempre bom revisitá-lo:

Muitas coisas me incomodaram naquela entrevista (a do Malafaia), mas um momento me deixou extremamente desconfortável. Por isso, falarei um pouco sobre a PLC 122, que é a proposta de lei da proteção dos direitos homossexuais. Antes de continuar lendo este post, eu realmente recomendo que você leia o projeto de lei para que possamos discutir juntos os pontos abordados. O projeto pode ser encontrado neste link na íntegra.

O primeiro ponto abordado pelo Malafaia na entrevista em relação a PLC 122 é sobre o artigo 20 parágrafo 5° que afirma:

O disposto neste artigo envolve a prática de qualquer tipo de ação violenta, constrangedora, intimidatória ou vexatória, de ordem moral, ética, filosófica ou psicológica;

O pastor fala sobre a constituição federal brasileira (encontrada na íntegra neste link), mais precisamente do ART. 5 inciso VIII que afirma textualmente:

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

Logo depois de citar o inciso, Malafaia usa um exemplo que, sinceramente, me fez gargalhar de tão absurdo: “Se eu olhar pra cara de um homossexual mal – olha, você está me constrangendo filosoficamente”, eu não estou mentindo, este foi realmente o exemplo utilizado.

Primeiramente, acho que o Silas precisa procurar o que significa filosofia, porque simplesmente olhar de forma ríspida para alguém não caracteriza violência filosófica, mas discursos como “todo homossexual merece morrer” ou “homossexualidade é doença” são violências filosóficas. Esses discursos parecem familiares, não?

Outra frase dita pelo pastor que me chocou foi “[…] eles querem uma lei para atacar, xingar, atingir quem eles querem e estarem protegidos acima de todos…”, na verdade a PLC 122 vem para assegurar os direitos que já eram direitos na constituição federal brasileira, mas a nossa sociedade é tão absurdamente insana que pessoas fora daquele padrão pré-estabelecido precisam de seus próprios projetos de lei para serem respeitados como CIDADÃOS.

Silas também cita a Linha B do Artigo 8 da PLC 122:

Proibir a livre expressão e manifestação de afetividade do cidadão homossexual, bissexual ou transgênero, sendo estas expressões e manifestações permitidas aos demais cidadãs ou cidadãos.

Pena: reclusão de dois a cinco anos

Malafaia afirma que agora a ‘’preferência’’ é dos homossexuais; muito pelo contrário, caso você leia com atenção, o artigo deixa claro que tais direitos como a manifestação pública de afeto é assegurada aos demais cidadãos heterossexuais, porém os homossexuais são recriminados, às vezes até impedidos de tal ato como podemos observar em inúmeros casos de expulsão de bares e restaurantes.

A verdade é que esta entrevista para Marília Gabriela foi a representação do que a bancada religiosa, mais especificamente evangélica, vem fazendo com a política de igualdade no Brasil; temos um aumento de igrejas, pastores e evangélicos. Isso vem, de forma arbitrária, influenciando inúmeros aspectos da sociedade brasileira, desde o direito de duas pessoas se casarem até a produção de mídia nacional em um Estado laico.

O terrorismo feito em igrejas evangélicas relacionando a homossexualidade diretamente ao inferno e ao Demônio, propondo até curas, só reforça mais e mais o discurso de ódio e a violência praticada nas ruas do Brasil inteiro, e, quando os homossexuais se revoltam e lutam pelos seus direitos, são ridicularizados e mal interpretados. O que esses pastores fazem é alienar seus fiéis em relação a lei para que parte da sociedade seja contrária sem nem saber do que se trata.

A ruína de um país está quando temos que explicar o amor e não o ódio, quando casais com condições financeiras e muito amor para dar não podem adotar crianças que foram concebidas e abandonadas por heterossexuais porque não se adequam ao padrão de uma religião, quando pessoas utilizam-se da fé alheia para enriquecer, eleger seus candidatos e proliferar discursos de ódio.

Pois é Silas Malafaia, que o meu Deus, que provavelmente não é o mesmo que o seu, afinal o meu acredita no amor e não no ódio, te perdoe e perdoe a todos aqueles que te escutam e proliferam essa sua Palavra que, além de ser terrorista, é cheia más intenções.

Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 14 comentários

  1. Anderson Santana

    Eu sinceramente não faço ideia de como qualquer pessoa inteligente pode sequer ter paciência pra ouvir o que o Malafaia diz. Ele é simplesmente o cara mais falacioso que eu já vi discursando em toda a minha vida. É desonesto e sabe disso. Pena que tem o bando de burro, massa de manobra, que ainda acha bonito e bate palma, dando credibilidade a esse idiota.

  2. JJota

    Tenho que dizer uma coisa: fiquei completamente estarrecido quando vi várias pessoas (alguns evangélicos, outros não) afirmarem que o referido cidadão havia “dado um banho” na entrevistadora Marília Gabriela.

    De fato, considerei a entrevista extremamente fraca na sua condução. Não esperava mesmo que uma repórter calejada como ela se deixaria levar pela oratória vazia do “pastor”. Oratória vazia, sim. Ele fala com convicção, de forma envolvente, como se falasse verdades absolutas, mas sem o menor embasamento. É como se as pessoas ficassem fascinadas por uma bela embalagem a ponto de comprarem sem nem olhar o que tem dentro.

    Eu lamento muito que aqui no nosso país tudo vire manipulação política. Como advogado, sempre defendi que o problema da nossa nação não é falta de leis, mas as enormes dificuldades para que as mesmas sejam aplicadas. Criar leis específicas para cada tipo de minoria acho uma grande inutilidade (e um senhor palanque eleitoral), pois bastaria que as leis sobre igualdade fossem devidamente aplicadas. Ora, já temos leis que tratam de discriminação. É completamente inútil descer às minúcias se o trabalho policial e, principalmente, o do Judiciário é lento: criminosos deixam de ser punidos simplesmente porque ocorre vencimento de prazos que impedem a apuração da infração ou da aplicação da pena. E tais prazos se vencem porque nosso sistema é recheado de truques legais que podem fazer uma ação se arrastar por anos. Além disso, palavras como “inafiançável” e “imprescritível” são fortes, mas ignoram incisos do Art. 5º da Constituição e terminam sendo derrubados no Supremo Tribunal Federal.

    Fico entristecido que pessoas como este senhor fiquem desviando o foco das verdadeiras questões que deveriam ser tratadas no âmbito religioso: como nos integrarmos mais, como podemos ajudar uns aos outros, como melhorar a sintonia não só dentro do nosso grupo mas com todas as pessoas e o ambiente que nso cercam. Enquanto isso, fortunas se fazem à custa de miseráveis, passaportes diplomáticos são fornecidos a religiosos sem motivo algum, uma pessoa que renunciou a presidência do Senado Federal volta ao mesmo cargo, sem que as questões que o levaram a renúncia anos atrás tenham sido de fato esclarecidas, um condenado criminalmente pelo STF assume uma vaga de deputado sem sequer ter tido votos para tanto, o mensalão mineiro do “partido de oposição” vai sendo esquecido…

    Por fim, quero deixar claro que não estou aqui me colocando contra a orientação religiosa de ninguém. Apenas acho um absurdo que pessoas hoje acreditem que um ser humano pode ser considerado “inferior” por ter orientação sexual diferente da aceita pela maioria da sociedade. Esquecem que, um dia, o mesmo argumento foi usado contra pessoas talvez muito parecidas com elas.

  3. Rafael Rodrigues

    Acho que esse trecho resume minha opinião:

    A ruína de um país está quando temos que explicar o amor e não o ódio, quando casais com condições financeiras e muito amor para dar não podem adotar crianças que foram concebidas e abandonadas por heterossexuais porque não se adequam ao padrão de uma religião, quando pessoas utilizam-se da fé alheia para enriquecer, eleger seus candidatos e proliferar discursos de ódio.

    Muito bom o texto, Gaby.

  4. Felipe Garcia

    O cara vem com esses discursos de ódio aos homossexuais e fica de boa por se escorar no muro da religião. Conseguindo fazer as pessoas de mente fraca a seguirem cegamente os ensinamentos de “Deus”. Fico puto com isso!

    Enfim, excelente post Gaby!

    1. gabymolko

      Pois é, se o discurso de ódio fosse o único problema teríamos apenas ele, um grande problema, mas só um. Ele se escora no muro da religião para MUITA coisa errada, cara…
      É foda ver tudo isso e se sentir tão incapaz de fazer alguma coisa.
      Brigadão mesmo, Felipe 🙂

    1. JJota

      É incrível a falta de respeito de algumas pessoas que se acham “ungidas” por Deus…

      1. gabymolko

        Esse Brasil é uma doidera, senhores… Absurdo isso!

        1. Don Vittor

          Não é apenas nesse Brasil. Religião e política se estreitam desde o começo da história…

  5. Ckreed Kleber

    O Dr./Pr. Silas Malafaia é muito do esperto! Ele sabe como defender suas crenças, mas sem se comprometer criminalmente com elas. Usa uma oratória religiosa inflamada para disfarçar seu ódio e seduzir as pessoas desinformadas!

    Ele sabe manipular as mentes dos dois lados dessa moeda, a ponto de os ativistas perderem a cabeça com razão e muita gente aplaudir seus discursos. Então ele rebate os ataques, que ele mesmo provoca deliberadamente, se fazendo de vítima da “ditadura gay”.

    Prevejo travestis invadindo igrejas e Bíblias voando pra todo lado se não houver RESPEITO de todas as partes!

  6. ruan

    silas só acredita no que a bíblia diz. deixa eu citar trechos q comprovam isso, 1 Coríntios capitulo 6 versículo 9 e 10 diz: “Não sabeis vós que os injustos não herdarão o Reino de Deus? Não nos deixareis enganar; nem os fornicadores, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os afeminados, nem os HOMOSSEXUAIS, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os bêbados, nem os maldizentes, nem os caloteiros herdarão o Reino de Deus”.
    isso estar bem explicito, Deus em momento nem um ele irá te jugar, ele não jugar, ele condena pecados.
    romanos capitulo 1 versículo 26 e 27 diz: “pois,Deus os entregou às paixões vergonhosas, pois até suas mulheres mudaram o uso natural de suas relações íntimas, por outro, contrario á natureza. E, de modo semelhante, tambem os homens, deixando o uso natura da mulher, inflamaram se em seus desejos lascivos, uns para com os outros, cometendo atos vergonhsos, homens com homens, e recebendo em si mesmos a reconpensa que convinha a seu erro”.

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