Top X – Cinco Momentos Insanos do Coringa

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Ele pode te matar sem ter motivo algum… O que pode ser mais assustador do que isso?

O maior vilão das HQs surgiu em Batman nº 1, de abril de 1940, e desde então vem assombrando e cativando leitores no mundo inteiro. Criação de Jerry Robinson, Bill Finger e Bob Kane, o Príncipe Palhaço do Crime teve um momento de baixa entre os anos 1950 e 1960, devido às restrições impostas pelo Comics Code Authority e à série imbecil de TV. Mas voltou à insanidade e hoje mantém sua cruzada pessoal contra a razão, em geral, e o Batman, em particular.

Em 2008 o personagem conseguiu o sucesso absoluto graças à interpretação dada a ele pelo ator australiano Heath Ledger no filme Batman - O Cavaleiro das Trevas, primeira adaptação de uma HQ a arrecadar mais de um bilhão de dólares nas bilheterias. Boa parte disto foi creditado ao trabalho de Ledger, que lhe rendeu um Oscar como Melhor Ator Coadjuvante. O ator, no entanto, não curtiu o momento, visto que morreu antes da estréia do filme, com apenas 28 anos de idade.
Em 2008, o personagem conseguiu o sucesso junto ao grande público graças à interpretação dada a ele pelo ator australiano Heath Ledger (10 Coisas que Eu Odeio em Você, As Quatro Plumas) no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight), primeira adaptação de uma HQ a arrecadar mais de um bilhão de dólares nas bilheterias. Boa parte deste sensacional retorno foi creditado ao trabalho de Ledger, que lhe rendeu um Oscar como Melhor Ator Coadjuvante. O ator, no entanto, não curtiu o momento, pois morreu antes da estreia do filme, com apenas 28 anos de idade.

É interessante notar que criaturas como Darkseid e Thanos impressionam, mas não provocam medo, talvez por serem fantásticas demais. Mas o Coringa, na sua concepção simples e verossímil, incomoda e assombra. A sua falta de capacidades sobre-humanas só o torna mais aterrorizante.

Boa parte da expectativa que cerca Esquadrão Suicida (Suicide Squad) gira em torno do trabalho do ator Jared Leto como o Coringa. Embora o estranho visual com dentes de metal e várias tatuagens tenha incomodado os fãs, as rápidas aparições do peronagem nos trailers devolveram a esperança de outra performance época do personagem nas telas.
Boa parte da expectativa que cerca Esquadrão Suicida (Suicide Squad, 2016) gira em torno do trabalho do ator Jared Leto (Clube da Luta, Mr. Nobody) como o Coringa. Embora o estranho visual com dentes de metal e várias tatuagens tenha incomodado os fãs, as rápidas aparições do personagem nos trailers – somadas às estranhas histórias de bastidores, que buscam passar o nível de “imersão” de Leto no papel – devolveram a esperança de outra performance épica nas telas.

Em tempos em que se esqueceu a essência do vilão e se tenta transformá-lo em uma espécie de personagem de terror, venho aqui apontar os cinco momentos em que o Coringa mais me impressionou nas HQ. Vamos a eles (se você tiver coragem, claro).

05 – O Coringa vende a sua alma

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Bonita caneca…

Na mini A Vingança do Submundo, o demônio Neron adquire a alma de diversos vilões, dando em troca poderes, equipamentos ou, como no caso de Lex Luthor, cura para males físicos. Ao ser indagado pelo que negociou a sua, o Coringa faz um pequeno suspense e mostra… uma caixa de charutos! Quando os outros parecem não acreditar e perguntam se ele realmente fez isso por um preço tão baixo, o psicopata os corrige: “São cubanos!”. Divertido, inesperado e completamente doido – nada mais Coringa.

É ou não é um hábil negociante?
É ou não é um hábil negociante?

Claro que depois ele tenta tomar os poderes de Neron, mas o branquelo de cabelos verdes sempre considerou a traição um item básico de toda aliança… Não à toa, portanto, que dificilmente encontremos histórias de qualidade nas quais outros supervilões se aliem de bom grado a ele, mesmo sabendo que ignorar o Coringa não é algo saudável, como pudemos ver no fim de Crise Infinita.

A Vingança do Submundo - Minissérie em 3 edições. Roteiro de Mark Waid. Desenhos de Howard Porter. Arte-final de Dan Green. Editora original: DC Comics. Editora no Brasil: Abril. Publicado no Brasil entre outubro e dezembro de 1997.
A Vingança do Submundo – Minissérie em 3 edições. Roteiro de Mark Waid. Desenhos de Howard Porter. Arte-final de Dan Green. Editora original: DC Comics. Editora no Brasil: Abril. Publicado no Brasil entre outubro e dezembro de 1997.

04 – O Batman morre todas as noites

De quantas formas se pode matar o Batman?
De quantas formas se pode matar o Batman?

Na saga Imperador Coringa, publicada nos EUA nos títulos do Superman entre agosto e outubro de 2000, o sobrevivente de Krypton acorda preso num Asilo Arkham que tem como administradores Solomon Grundy e o Homem Calendário. Após sua fuga, ele descobre que vive em uma versão insana do planeta Terra, em que tanto vilões como heróis foram reduzidos à versões patéticas de si mesmos e ele é considerado o “criminoso mais temido”. O responsável? O Coringa, que enganou Mxyzptlk e roubou 99% dos seus poderes, reescrevendo o universo de acordo com sua ótica maluca.

Os heróis da Liga da Justiça, na versão do Coringa: reparem no Caçador de Marte...
Os heróis da Liga da Justiça, na versão do Coringa: reparem no Caçador de Marte… Já assistiram o Pernalonga?

Tentando convencer seus antigos companheiros de Liga da Justiça de que algo está errado, o Superman parte em busca do Cruzado de Gotham, apenas para encontrá-lo morto. No entanto, logo se descobre que a principal diversão do poderoso Coringa é perseguir, torturar e matar o Batman todas as noites, trazendo-o depois de volta a vida para fazer tudo de novo.

A sepultura, desta vez, foi uma cortesia do Superman.
A sepultura foi uma cortesia do Superman.

O impacto disto é tão forte que, uma vez restaurada a ordem das coisas, Batman está arrasado, psicologicamente destruído pelas várias mortes que sofreu. O Espectro informa ao Superman que a única forma de salvar o alter-ego de Bruce Wayne é transferindo estas memórias para outra pessoa. O kryptoniano se oferece e termina ficando com este trauma no lugar de Batman.

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De morrer – lembrem-se – o Superman já entendia.

Outra curiosidade – Superman derrota o Coringa ao provar para o mesmo que, por mais poderoso que fosse, ele era simplesmente incapaz de construir uma realidade onde Batman não existisse! Furioso com as tentativas fúteis de eliminar o vigilante do “seu” universo, o Coringa se entrega a uma fúria intensa, a ponto de quebrar a quarta parede e reclamar com o desenhista do episódio, Kano. Isso é interessante, pois vai ao encontro da opinião de diversos estudiosos das HQ, que apontam que o Coringa não mata o Batman – nem nunca o matará – por ver nele sua razão de ser. Essa ideia é explorada na mini De Volta à Sanidade (de J. M. DeMatteis e Joe Staton com Steve Mitchell, na qual o Coringa fica normal ao pensar que o Batman morreu). Também é citada pelo próprio Coringa na história Cacofonia, escrita pelo cineasta Kevin Smith e desenhada por Walter Flanagan com Sandra Hope.

Imperador Coringa saiu em nove partes, entre agosto e outubro de 2000, nos diversos títulos do Superman na época e na edição Emperor Joker 1. No Brasil, foi publicada em Superman Premium 16, da Editora Abril, em novembro de 2001.
Imperador Coringa – saga em nove partes. Roteiros de  Jeph Loeb, Joe Kelly, J. M. DeMatteis e Mark Schultz. Desenhos de Scott McDaniel, Carlo Barberi, Duncan Roleau, Todd Nauck, Ed McGuiness, Mike S. Miller, Doug Mahnke e Kano. Editora original: DC Comics. Editora no Brasil: Abril. Aqui foi publicada, em parte, em Superman Premium 16, de novembro de 2001.

03 – Piada sem graça

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Ao contrário do que algumas pessoas pensam, A Piada Mortal não nasceu como um projeto de Alan Moore e sim do desenhista Brian Bolland. Ele queria muito desenhar o Coringa e, ao receber o sinal verde para o projeto, procurou Moore para escrever a história. Bolland baseou o seu Coringa não apenas nas versões clássicas do personagem como também no ator Conrad Veidt no filme O Homem que Ri (The Man Who Laughs, 1928), que ele havia assistido havia pouco tempo.Veidt também teria sido inspiração para a criação do visual do criminoso em 1940.

Um dos charmes do Coringa nas últimas décadas foi lhe negar uma origem. Não sabemos quem ele era ou o que fazia antes da pele branca e dos cabelos verdes. Assim, ficou ainda mais difícil entender o que o motiva. Apesar disso, ao longo dos anos, diversos artistas tentaram desafiar esta regra, quase sempre com resultados pífios. O principal problema é verem o Coringa apenas como a exacerbação dos instintos assassinos de um sujeito que já era um criminoso. Exemplos? Que tal a versão gorducha – e ridícula! – do personagem interpretada por Jack Nicholson no confuso Batman (idem, 1989), de Tim Burton? Ou a da HQ Amantes & Loucos (publicada no Brasil em Batman Anual 3), com roteiro de Michael Green e arte de Denys Cowan com John Floyd? Ou, só pra provar que até os grandes erram, a apresentada no longa animado Batman – A Máscara do Fantasma (Batman: Mask of the Phantasm, 1993), de Eric Radomski e Bruce Timm?

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Em uma das primeiras fotos onde Jared Leto divulgou o começo da sua transformação em Coringa, ele homenageia justamente a capa d’A Piada Mortal. Posteriormente, ao se despedir das filmagens, postou uma imagem em que aparecia a sua sombra usando um chapéu muito parecido com o que o psicopata usa na mesma história.

Há, no entanto, uma “origem” que a maioria dos fãs aceitam, que é a criada por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland na edição especial A Piada Mortal. A trama do comediante fracassado que perde a esposa grávida e, posteriormente,  a sanidade (junto com a própria identidade) por conta de ocorrências infelizes tem como principal elemento a liberdade trazida pela incerteza – em determinado quadro, o Coringa questiona as próprias lembranças, dando a entender que ele provavelmente inventou tudo na sua cabeça, apenas como uma forma de encontrar uma justificativa doentia para os atos terríveis que comete nesta história. Essa sacada do próprio personagem criar diversas origens para si mesmo foi bem explorada posteriormente por outros, notadamente Grant Morrison na graphic novel Asilo Arkham, de 1989, e o diretor Chistopher Nolan no filme Batman – O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight, 2008). Por outro lado, pena que o escritor A. J. Lieberman – na sua passagem pelo título Batman: Gotham Knights, publicado aqui nas edições 30 e 31 do Batman (1ª Série) da Panini – não entendeu a coisa e tentou transformar esta origem em algo oficial. Para piorar, ele resolveu que a morte da esposa do futuro Coringa não teria sido um simples acidente.

Moore calcou seu enredo em sugerir uma "origem" para o Coringa e, ao mesmo tempo, mostrar suas semelhanças com o Batman (o que fica claro no desfecho, com a piada dos dois loucos). Por incrível que pareça, Alan começou este projeto enquanto trabalhava nos primeiros esboços do que viria a ser Watchmen, mas A Piada Mortal - uma one-shot de 48 páginas! - só ficou pronta em 1988, quase um ano depois da publicação da famosa série de Moore e Dave Gibbons. Na época, inclusive, o barbudo já tinha brigado com a DC, mas continuou no projeto em consideração a Brian Bolland, que levou quase três anos para desenhar e arte-finalizar a história.
Moore focou numa “origem” para o Coringa e, ao mesmo tempo, em suas semelhanças com o Batman (o que fica claro no desfecho, com a piada dos dois loucos). Alan começou este projeto enquanto trabalhava nos primeiros esboços do que viria a ser Watchmen, mas A Piada Mortal – uma one-shot de 48 páginas! – só ficou pronta em 1988, quase um ano depois da publicação da famosa série de Moore e Dave Gibbons. Na época, inclusive, o barbudo já tinha brigado com a DC, mas continuou no projeto em consideração a Brian Bolland, que levou quase três anos para desenhar e arte-finalizar a história. A Piada Mortal, na época, foi colorizada por John Higgins (o mesmo de Watchmen), o que desagradou Bolland. Posteriormente, foi relançada com cores do próprio desenhista.

Enquanto relembra seu “passado”, o Coringa, que havia acabado de fugir do Arkham, está empenhado em provar seu ponto de vista que um dia ruim na vida de uma pessoa é o suficiente para fazê-la perder a razão. Para tanto, sem surpresa, ele escolhe como cobaia o Comissário Gordon – o Batman não vale, já que o próprio Sr. C sempre o considerou outro maluco de carteirinha – e resolve sequestrá-lo. Ao ser atendido à porta do apartamento por Bárbara Gordon – filha adotiva do Comissário e alter-ego da heroína Batgirl – o vilão, sem uma única palavra, atira na garota, lesionando sua coluna e deixando-a paraplégica.

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Em uma entrevista, Alan Moore contou que resolveu aleijar a personagem Bárbara Gordon e telefonou para o editor Len Wein, pedindo a autorização para tanto. Wein pediu que Moore aguardasse na linha enquanto ele transmitia a pergunta para Dick Giordano. Alguns minutos depois, ele voltou ao telefone e transmitiu a resposta: “Ok, pode aleijar a vadia”. A história já foi recontada com algumas diferenças por outras partes envolvidas (principalmente por causa do uso do termo “vadia”), mas, em essência, foi basicamente assim que se tomou a decisão de tornar paralítica uma personagem que contava com grande simpatia do público.

Mais à frente, descobrimos que ele fez muito mais. Já durante a tortura psicológica da qual Gordon – nu em um carrinho de trem fantasma – é submetido, são exibidos a ele diversas fotos de sua filha, nua e em agonia. Não é difícil imaginar – principalmente analisando a obra posterior de Alan Moore – que Bárbara foi também vítima de violência sexual explícita.

O momento em que o Coringa usa sua última cartada para tirar a razão do Comissário Gordon. O nível de violência dessa cena é difícil de ser mensurado.
O momento em que o Coringa usa sua última cartada para tirar a razão do Comissário Gordon. O nível de violência dessa cena é difícil de ser mensurado.

No fim, o Coringa não alcançou seu intento principal. Em luta com o Batman – que começa a história preocupado com o nível crescente da rivalidade entre eles, que os estava encaminhando a um desfecho em que as alternativas (morte do Batman, morte do vilão) seriam ambas inaceitáveis – o Coringa demonstra um certo abalo por não ver sua teoria confirmada (aliás, outra ideia bem aproveitada por Nolan em seu filme). No entanto, o impacto do que ele fez com Bárbara foi tão forte que terminou sendo assimilado pela cronologia da DC – ela abandonou a identidade de Batgirl e se tornou a Oráculo, uma heroína virtual que, com o tempo, se tornou não apenas uma importante aliada do Batman – em particular – e da Liga da Justiça, como comandou o grupo de heroínas conhecido como Aves de Rapina.

or incrível que pareça, o próprio Moore não dá muito destaque a A Piada Mortal dentro da sua obra. "Não diz muito à respeito da minha escrita", justificou o barbudo. Segundo ele, a história vale cada centavo investido, mas graças ao trabalho de Bolland.
Por incrível que pareça, o próprio Moore não dá muito destaque a A Piada Mortal dentro da sua obra. “Não diz muito à respeito da minha escrita”, justificou o barbudo. Segundo ele, a história vale cada centavo investido, mas graças ao trabalho de Bolland.

A Piada Mortal ganhou uma adaptação em animação a ser lançada este ano. Fica a expectativa para ver até onde a Warner terá coragem de deixar os roteiristas do desenho serem fiéis à obra original.

Batman - A Piada Mortal (Edição Especial de Luxo). Roteiro de Alan Moore. Arte de Brian Bolland. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 88 páginas. R$ 22,90.
Batman – A Piada Mortal (Edição Especial de Luxo). Roteiro de Alan Moore. Arte de Brian Bolland. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 88 páginas. R$ 22,90. Sua terceira edição foi lançada no fim de 2015 e está disponível em vários sites e lojas.

02 – Um menino prodígio… sem sorte

Uma imagem clássica de Jim Aparo.
Uma imagem clássica de Jim Aparo.

Hummm… Por onde eu começo? Ah, eu detesto o conceito de sidekick! Entre os sidekicks, eu tenho um ódio particular ao personagem Robin! E, entre os Robins, eu sempre tive um desapreço especial por Jason Todd! Sendo assim, difícil dizer que não adorei quando, com meus doze anos de idade, vi o Coringa mandando o pior dos piores parceiros mirins do mundo para a vala.

Odeio... todos... vocês!
Odeio… todos… vocês!

Bom, vamos com calma! Dick Grayson havia se mandado para ficar com os Novos Titãs (e a Estelar!). Para deixar clara a sua “independência e amadurecimento”, adotou uma nova identidade heroica, o Asa Noturna, com um dos uniformes mais bregas que o mítico George Pérez criou em toda a sua longa carreira!

É carnaval na Torre Titã!
É carnaval na Torre Titã!

Logo, o caminho ficou livre e Batman adotou um menino de rua que vivia de pequenos furtos e foi flagrado tentando roubar os pneus… do Batmóvel! Não demorou para que Jason Todd fosse treinado e se tornasse o novo Robin.

Um menino de rua conseguiu tirar os pneus do maior veículo de combate ao crime das HQs... Tem cada roteirista com cada ideia...
Um menino de rua conseguiu tirar os pneus do maior veículo de combate ao crime das HQs… Tem cada roteirista com cada ideia…

O problema? Jason sofreu algo comum em personagens que os roteiristas criam acreditando estar em sintonia com uma geração, mas falham miseravelmente. O novo Robin, que deveria ser rebelde, contestador e inconformado terminou sendo considerado pelos fãs chato, mimado e arrogante. Além disso, havia uma forte tendência na época de levar o Batman na direção apontada por Frank Miller no clássico O Cavaleiro das Trevas. Neste futuro, caso não se lembrem, fica muito claro que Jason morreu em ação.

Contemplando o uniforme de Jason Todd, a única Robin que vale: Carrie Kelley!
Contemplando o uniforme de Jason Todd, a única Robin que vale: Carrie Kelley!

Em dezembro de 1988, em Batman 426, começou a sair uma história roteirizada por Jim Starlin e desenhada pela lenda Jim Aparo (com Mike DeCarlo) na qual Batman afasta Jason do uniforme por conta de sua imprudência e raiva crescentes e este, logo depois, descobre que a mulher que acreditava ser a sua mãe na verdade não o era. Ele foge de casa e sai pelo mundo, em busca de sua verdadeira progenitora.

Capas de Mike Mignola!
Capas de Mike Mignola!

Ele encontra então a médica Sheila Haywood em um campo de refugiados na Etiópia. O que Jason não sabia era que o Coringa – que, mais uma vez, havia fugido do Asilo Arkham – também conhecia Sheila – assim como o falecido pai de Jason, ela tinha um passado criminoso – e a estava chantageando para desviar remédios de doações para que os mesmos fossem vendidos no mercado negro. Haywood entrega o próprio filho (que já havia revelado sua verdadeira identidade e estava com o uniforme de Robin) para o criminoso. É quando o Coringa resolve dar uma pequena lição no garoto…com um pé-de-cabra. Depois o deixa e a sua mãe, traída e amarrada, trancados no armazém, com uma bomba. No fim da edição, Batman – que tinha encontrado Jason, mas se separou dele para impedir que uma carga de gás do riso fosse entregue aos refugiados – vê, impotente, a explosão.

Uma sequencia chocante! Uma ds coisas que chama a atenção nessa história é o uso de humor verdadeiro pelo Coringa. Repare que ele deixa bem claro que a surra "vai doer mais em você do que em mim". Depois, ao ser perguntado como o Batman vai agir quando encontrar o garoto espancado, o vilão responde: "Eu não pensei nisso... Aquele homem é muito vingativo!"
Uma sequência chocante! Uma das coisas que chama a atenção nessa história é o uso de humor pelo Coringa. Repare que ele deixa bem claro que a surra “vai doer mais em você do que em mim”. Depois, ao ser perguntado como Batman vai reagir quando encontrar o garoto espancado, o vilão responde: “Eu não pensei nisso… Aquele homem é muito vingativo!”

O resultado então ficou por conta da decisão dos leitores. Através de um serviço telefônico, eles votaram e decidiram o destino do personagem. Sem surpresa pra maioria, Jason Todd foi condenado à morte. Isto atirou Batman ainda mais no rumo do que foi mostrado na HQ de Miller (embora, pareça, a maioria dos fãs – e roteiristas – tenham esquecido que a morte de Jason fez com que o herói se aposentasse). Para começo, Batman – ainda incomodado com o que o vilão havia feito com Bárbara (que aparece brevemente em uma cadeira de rodas durante o funeral de Todd) – resolve ultrapassar a sua barreira moral e executar o Coringa, que havia se tornado… embaixador do Irã (isso foi alterado posteriormente)! Mas ele não consegue, um pouco por causa da intervenção do Superman. Esse rumo foi posteriormente corrigido com a chegada de Tim Drake, que se tornaria o terceiro Robin, sem lembrar em nada o chato Jason Todd.

Uma adaptação da morte de jason pode ser vista no longa animado Batman Contra o Capuz Vermelho (Batman: Under the Red Hood, 2010).
Uma adaptação da morte de Jason pode ser vista no longa animado Batman: Contra o Capuz Vermelho (Batman: Under the Red Hood, 2010).

Confesso que esta história já esteve no meu primeiro lugar! Morte de um personagem chato, com o pior de todos os alter egos, momentos icônicos e desenhada por um dos meus artistas preferidos. Mas caiu pra segundo por conta de dois acontecimentos. O primeiro foi – pausa para um suspiro desanimado – a ressurreição de Jason Todd, que voltou como um assassino extremamente violento, adotando a identidade de Capuz Vermelho. A outra foi a criação de Damian Wayne, outro Robin insuportável!

Batman - Morte em Família. Roteiro de Jim Starlin. Desenho de Jim Aparo. Arte-final de Mike DeCarlo. Editora original DC Comics. Editoras recentes no Brasil: Panini (R$ 68,00 e 272 páginas) e Eaglemoss (R$ 39,99 e 180 páginas).
Batman – Morte em Família. Roteiro de Jim Starlin. Desenhos de Jim Aparo. Arte-final de Mike DeCarlo. Editora original DC Comics. Editoras recentes no Brasil: Panini (R$ 68,00 e 272 páginas) e Eaglemoss (R$ 39,99 e 180 páginas).

01 – Fazendo um viúvo

Uma dos mais assustadores desenhos do Coringa.
Uma dos mais assustadores desenhos do Coringa.

Antes de mais nada, devo confessar que o longo arco de histórias que ficou conhecido como Terra de Ninguém (No Man’s Land, no original) não é um dos meus favoritos. Não gosto daquela ambientação de guerra urbana, o cenário pós-apocalíptico, Batman agindo em plena luz do dia… Não é à toa que o péssimo O Cavaleiro das Trevas Ressurge (The Dark Knight Rises, 2012) tem muito destas histórias. Fiquei até surpreso de ter encontrado pessoas que as defendem, mas, conversando com algumas delas, percebi que muito do fascínio vem justamente pelo conjunto final de histórias, que receberam o subtítulo de Endgame, o qual eu também curto.

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Terra de Ninguém foi consequência direta do arco Terremoto, em que a maior parte de Gotham foi destruída. Sem conseguir convencer os contribuintes de que deveriam arcar com a reconstrução de uma cidade que gozava de extrema má fama no resto do país, o governo dos EUA resolveu decretar que a mesma deveria ser abandonada e isolada. Vilões, alguns vigilantes e policias e pessoas sem ter pra onde ir resolvem ficar. O terreno devastado foi dividido em distritos, comandados por gangues que passavam o tempo lutando por território e provisões, enquanto eram combatidos pelo Batman e seus aliados, entre eles o grupo que ficou conhecido como os Azulões, que juntava os agentes da lei que resolveram ficar para manter a ordem, sob o comando do Comissário Gordon.

No apagar das luzes de Terra de Ninguém, o Coringa ressurge e resolve atacar os policiais. Ele lança um ataque com sua gangue em diversos pontos da cidade e sequestra um grande número de crianças, nascidas em Gotham durante o isolamento da cidade. Durante estes ataques – e a busca pelas crianças desaparecidas -, policiais são mortos e mesmo aliados do Batman, como Robin, Azrael e a Caçadora são severamente feridos.

A Caçadora quase morre defendendo um hospital onde estão diversos policias feridos. Ela resolve lutar até o fim no intuito de se redimir aos olhos do Batman, pois, anteriormente, ela havia adotado a identidade de Batgirl e recebido do Homem-Morcego a missão de defender um determinado território. Ela considera o local indefensável e o abandona, mas sua decisão custa a vida de algumas pessoas, o que faz com que o Cavaleiro das Trevas a proíba de voltar a usar o uniforme de Batgirl. Ela enfrenta um grande número de vilões (todos fantasiados de Coringa), recebe vários tipos do próprio e é salva da morte certa pela chegado do Batman e do Asa Noturna.
A Caçadora quase morre defendendo um hospital onde estão policias feridos. Ela resolve lutar até o fim no intuito de se redimir aos olhos do Batman, pois, anteriormente, havia adotado a identidade de Batgirl e recebido do Homem-Morcego a missão de defender um determinado território, mas ela o considera indefensável e o abandona, decisão que custa a vida de algumas pessoas e faz o Cavaleiro das Trevas proibi-la de voltar a usar um uniforme de morcego. Ela enfrenta um grande número de vilões (todos fantasiados de Coringa), recebe vários tiros do próprio e é salva da morte certa pela chegado do Batman e do Asa Noturna.

Durante as buscas pelas crianças desaparecidas – dificultadas pela artimanha do Coringa de fantasiar diversos membros da sua gangue (inclusive a Arlequina) como se fossem ele, gerando um sem número de pistas falsas – , a esposa do Comissário Gordon, Sarah Essen, tem seu rádio destruído e resolve voltar à base da polícia para pegar outro. Ao escutar um barulho, ela se dirige ao subsolo da delegacia e encontra o Coringa, que havia levado as crianças para o último lugar onde poderiam pensar em procurá-las.

Sarah Essen-Gordon foi criada por Frank Miller e David Mazzuchelli no arco Ano Um. Na história, a policial é loira e se torna amante do casado Tenente Gordon. Sarah, posteriormente, retornou a Gotham e se casou com Gordon, chegando inclusive a substituí-lo no cargo de Comissário. No clássico O Cavaleiro das Trevas, James Gordon é casado com uma personagem chamada Sarah, que quase nunca aparece e, quando o faz, só se vê a silhueta. Não se sabe se ela é a mesma personagem,mas não há nenhuma menção de que ela um dia teria sido uma policial.
Sarah Essen-Gordon foi criada por Frank Miller e David Mazzuchelli no arco Ano Um. Na história, a policial é loira e se torna amante do casado Tenente Gordon. Sarah, posteriormente e ruiva, retornou a Gotham e se casou com Gordon, chegando inclusive a substituí-lo no cargo de Comissário. No clássico O Cavaleiro das Trevas, também de Miller, James Gordon é casado com uma personagem chamada Sarah, que quase nunca aparece e, quando o faz, só se vê a silhueta. Não se sabe se é a mesma personagem utilizada pelo roteirista em Ano Um, mas não há nenhuma menção de que ela um dia teria sido uma policial.

Sarah tenta prender o vilão, que segura uma das crianças no colo. Ele aponta pra mesma e a solta. Sem pensar, a policial larga a arma e segura o bebê. Com ela de joelhos, o Coringa aponta a arma para a sua cabeça e, com um “Feliz natal!”, dispara. Ele se retira do local e vai à rua no mesmo momento em que os policiais (com Gordon à frente) e o Batman chegam ao local. Sem um sorriso, ele atira a arma no chão e se entrega. Quando Bullock e Montoya, ela aos prantos, informam que a esposa está morta, Gordon perde  cabeça e agride o Coringa. Depois aponta a arma para o rosto dele, que está novamente sorridente.

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Ainda hoje recordo o choque que foi esta história na primeira vez que a vi. Ao contrário de tantas outras ações do Coringa, ali eu o vi agindo como se, em algum momento, seus próprios atos o tivessem incomodado. Ele não gosta de ser abordado por Sarah. Ele sai pela porta sem um sorriso no rosto e se entrega ainda mal humorado. Parece faltar algo ali, talvez um elemento pessoal que, dentro de sua mente perturbada, lhe dê um sentido para o que acabou de fazer. Claro que posso estar indo longe demais, mas me pareceu que o Coringa realmente estava se entregando, se sentindo mal pelo seu último ato. Mas a reação extremada de Gordon parece devolver ao vilão a velha segurança – ele sorri para o Comissário que aponta uma arma para a sua cabeça, diante de um chocado Batman.

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É muito difícil não fazer aqui um paralelo entre esta história e A Piada Mortal. Principalmente quando Gordon consegue se controlar parcialmente e apenas atira no joelho do Coringa – o vilão pragueja momentaneamente, até dizer que “entendeu” o gesto, que o Comissário queria aleijá-l0, da mesma forma como ele havia feito com a filha dele. A risada sinistra então surge novamente, acompanhando um homem destroçado, que tenta manter a humanidade e a dignidade, pedindo que o facínora seja preso, acusado pelo assassinato. Mas Gordon fraqueja, sendo amparado pelo seu maior aliado na luta contra o crime em Gotham.

Aqui há, para o leitor, uma certa tensão: uma das coisas que fez Gordon retornar à Gotham depois da decretação da Terra de Ninguém (trazendo sua esposa junto) foi o fato de não ter conseguido nenhum emprego em outras grandes cidades. O motivo? Ele sempre era ridicularizado por ser o Comissário de uma cidade tão violenta que o obrigou a "criar" uma lenda para tentar assustar os criminosos. De certa forma, a emblemática frase do herói em O Cavaleiro das Trevas parece mais uma vez fazer sentido: "Vou colocar todos na Lista Coringa. A lista das pessoas que EU matei... por ter deixado VOCÊ viver!"
Aqui há, para o leitor, uma certa tensão – uma das coisas que fez Gordon retornar à Gotham depois da decretação da Terra de Ninguém (trazendo sua esposa junto) foi o fato de não ter conseguido nenhum emprego em outras grandes cidades. O motivo? Ele sempre era ridicularizado por ser o Comissário de uma cidade tão violenta que o obrigou a “criar” uma lenda para tentar assustar os criminosos. De certa forma, a emblemática frase do herói em O Cavaleiro das Trevas parece mais uma vez fazer sentido: “Vou colocar todos na Lista Coringa. A lista das pessoas que EU matei… por ter deixado VOCÊ viver!”

Posteriormente, o Coringa se envolveria em outra história em que viraria seu instinto assassino contra policiais e políticos. É o arco Alvos Fáceis (Soft Targets), publicado nos EUA entre os números 12 e 15 do título Gotham Central. Aqui no Brasil saiu em DC ESpecial n° 11 (novembro de 2006).

Sarah morreu em Detective Comics 741, de 2000, ecrita por DEvin K. Grayson e Greg Rucka e desenhada por Dale Eaglesham e Damion Scott, com arte-final de Sal Buscema, Sean parsons e Rob Hunter. No Brasil, foi publicada em Batman Premium 9, da Abril, em abril de 2001.
Sarah morreu em Detective Comics 741, de 2000, escrita por Devin K. Grayson e Greg Rucka e desenhada por Dale Eaglesham e Damion Scott, com arte-final de Sal Buscema, Sean Parsons e Rob Hunter. No Brasil, foi publicada em Batman Premium 9, da Abril, em abril de 2001.

“I believe whatever doesn’t kill you simply makes you… stranger.”

 

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JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 8 comentários

    1. JJota

      Eu tenho esse formatinho há uns anos… Acredita que até hoje não li? Folheio e acho tão nhé que deixo pra depois…

  1. Vilipendiador Unperucked

    Excelente post, J.Jota! Exceto por um detalhe…
    COMO OUSA FALAR MAL DO UNIFORME MAIS FODA QUE O DICK GRAYSON JÁ TEVE?!

    1. JJota

      Acho que nem o George Pérez encontra defesa para este uniforme…

  2. Vitor Guerra

    Otimo post JJota. o que me encomoda no renascimento do Jason é que tirou todo o impacto que a morte dele casou ao Batman e aos leitores, era muito foda ver o Batman se moendo de culpa so de ver o uniforme do Jason e isso tudo foi jogado no lixo por causa deste renascimento desnecessario dele.
    PS: eu li a muito tempo atra que o Miller não havia gostado de terem matado o Jason no canon mas não sei se isso é verdade.

    1. JJota

      Eu simplesmente detestei a ressurreição do Jason Todd, pelo mesmo motivo que você citou. A DC, infelizmente, não tinha um editor com um mínimo de discernimento para perceber que a) ficou como uma imitação da Marvel, que ressuscitou o Bucky, e b) que, ao contrário do Bucky, a morte do Jason foi algo clássico, com grande impacto nas hqs.

      De boa, quem ainda lembrava do Bucky? E ele ficou mais legal como Soldado Invernal do que o Todd como Capuz Vermelho. Acho que foi o Waid que disse na época: “Nunca que alguém treinado pelo Batman se tornaria um assassino impiedoso”.

      Não lembro do Miller ter dito algo assim (até porque, acho que todo mundo já percebeu, ele não é grande fã dos Robins – excetuando, claro, a Carrie). Mas creio ter lido uma entrevista dele, anos depois, em que Miller disse que achou a morte em si de uma violência estupenda e que aquilo, sim, o incomodou pela forma como foi publicada (ou seja, dentro de um gibi mensal).

      1. Vitor Guerra

        Foi essa entrevista mesmo que eu li mas foi a tanto tempo que eu nem me lembrava o que ele havia dito kkk.

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