Vingadores: Guerra Sem Fim como veículo para o desenvolvimento e interação de personagens

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O que eu não disse sobre a edição quando fiz as provocações anteriores foi o seguinte:

Como graphic novel, não é extraordinária, mas como história dentro da continuidade se presta a uma deliciosa discussão de personalidades, de egos e interesses. Uma espécie de divã coletivo, no qual os personagens interagem. Aliás, como numa dinâmica de grupo.

E não é que, ao pé da letra, é isso mesmo? O roteirista Warren Ellis repisou uma situação típica: a da reunião dos heróis para discutir pauta, ou algo do tipo. Todos se dirigindo ao prédio do grupo no começo do dia. E é claro que já tem algo acontecendo fora dali. E um deles se dará conta disso.

Tudo é um pretexto para uma nova missão. E tudo é um pretexto para o autor vestir a carapuça de cada membro, e colocá-los uns diante dos outros, como mitos que são, e humanos na mesma proporção.

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Como quando Steve Rogers é econômico e direto ao vaticinar Logan de que também é um soldado, mas não um como ele. E Logan completa: “um assassino, né?”. Ou quando Stark faz um trocadilho com o nome de Rogers, e este mantém a compostura, com um irônico protesto.

Como no filme dos Vingadores, no qual o escritor parece ter se inspirado para desenvolver o clima e a relação entre os personagens, há humor e tiradas engraçadinhas, uma forte demarcação das personalidades, e principalmente do limite de interação entre eles, evidenciando até o mesmo as reservas entre alguns, e desdém. Basta observar o comportamento de Thor, ou de Logan.

Há uma passagem da Capitã Marvel que ilustra bem a posição dela e a do Capitão América, por exemplo. Líder natural, ele concorda com uma ideia dela de pôr o jato dos Vingadores numa rota mais rápida, a fim de chegar antes numa certa localidade. Ela, demonstrando seu espírito e sua experiência como piloto da força aérea, simplesmente diz a ele que não pediu permissão alguma. “Estava só avisando”.

E ainda temos um Hulk, como diria um cinematográfico Tony Stark. Como no filme, o verdão é um elemento surpresa, um curinga, algo que pode levar tanto à vitória quanto à catástrofe. E é assim que seu portador, Bruce Banner, é visto pelo grupo. Quase todos assumem postura defensiva ao vê-lo. Bruce, por sua vez, é retratado como um realista, que assume não ter condições de controlar o seu destino.

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É interessante notar como Warren Ellis escreve as falas de Stark como uma espécie de pedido de desculpas ou desabafo quando ele conversa com Banner na aeronave, e chega a dizer: “Não sei por que nunca tentamos uma solução tecnológica (…). Algo que regule a produção de células do Hulk. Daria até para regular os ciclos”. De modo que Banner percebe em seguida que o interesse de Stark de solucionar o problema não se limita a simples altruísmo: “Você quer colocar um aplicativo Hulk em mim”.

Os vilões da trama, totalmente desumanizados, reforçam a ideia de que a HQ foi formatada desde o princípio para ser um veículo das personalidades dos Vingadores. Vista dessa maneira, ela funciona muito bem.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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