A Idade Média Com Cara De Justiça

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E o Brasil amanheceu extasiado frente a uma tragédia mais do que anunciada sendo transmitida pelas ondas de rádio e televisão. Fabiane Maria de Jesus, 33 anos, foi espancada até a morte no Guarujá por culpa de uma sequência de erros tão estúpidos que a situação parece surreal.

guaruja
Fabiane antes de tingir os cabelos

Um post infeliz numa rede social de prestação de serviço, Guarujá Alerta, comentava que havia a possibilidade de uma mulher de cabelos loiros – o que é extremamente genérico se tratando de litoral – ser uma sequestradora de crianças para a prática de rituais de magia negra.

Justiceiros então, sem qualquer tipo de julgamento ou prova, decidiram espancar Fabiane que tinha problemas psiquiátricos, mas nunca fora vista agredindo qualquer pessoa, sobretudo crianças. Os moradores da região calaram-se, viram trogloditas batendo numa mulher indefesa e só resolveram chamar a polícia quando ela já estava desfigurada.

Nós, do Iluminerds, discutimos o dia todo sobre o assunto no nosso grupo no aplicativo para telefones móveis, Whatsapp, tentando, talvez, explicar o que aconteceu, entender o que estava se passando na cabeça de quem agredia, de quem assistia, de quem encorajava e de quem se escondia. Nada justifica, no entanto.

A verdade é que esse assassinato, essa barbárie, está na conta de muita gente que agora tem duas opções: ou se manifestam ou se calam, e a maioria deles escolheu a segunda opção.

Está na conta daqueles que se consideram líderes religiosos, perpetuando o discurso do ódio a qualquer coisa que não seja igual a eles, a demonização de qualquer coisa que não atenda os seus interesses religiosos e econômicos; está na conta da tal página acima citada que não se deu ao trabalho de refletir sobre a publicação que fez e suas consequências, principalmente quando falamos de questões religiosas e sociais.

Está na conta dos justiceiros que perpetuavam o tal discurso da insegurança que justifica a agressão, como foi feito contra aquele menino que fora amarrado em um poste pelo pescoço espancado e desnudo; está na conta da população que estava ali e nada fez, tratando toda aquela situação como um grande espetáculo, um pão e circo.

E sim, também está na conta da Rachel Sheherazade – e todos aqueles que apoiaram o discurso da nobre jornalista – que também não se deu ao trabalho de pensar no que estava falando, que não se perguntou se aquilo seria, num futuro próximo ou distante, um estopim para algo assim.

Não vou colocar as imagens aqui, e peço para que os revisores do site também não o façam, creio que não há benefício algum em ver tais imagens sem qualquer objetivo policial, mas temos sim que falar de Fabiane, de Alailton, de Marcelo… E por aí vai.

A lista não pode aumentar, o discurso do “tem que matar mesmo”, “é por isso que a população se revolta” e “sou contra justiça com as próprias mãos, mas…” não pode levar mais inocentes.

Gaby Molko

Paulista, musicista, jornalista, detalhista, sessentista, comentarista, imediatista e polemista.

Este post tem 6 comentários

  1. Gustavo Audi

    Conversando hoje com minha mulher sobre o futuro de nossa filha, cheguei a seguinte conclusão: para resolver os problemas deste país teríamos de trocar o povo todo. Ou seja, na minha opinião, não basta apenas votar coerentemente, pois não há opções decentes (vide governo do estado do Rio de Janeiro), para alterar nossa realidade é necessário um processo educacional, e não apenas formal, como também deve incluir o bom senso, respeito social, cidadania, direito, economia, filosofia, política…

    O que me entristece mais é saber que a maior parte da população (independente de ser minoria ou não) tem um discurso preconceituoso e raso sobre o que é viver em sociedade. Cada um com sua “Verdade” diminuindo qualquer coisa que não seja parte dela…

    Infelizmente, eu desisti deste país. Na primeira oportunidade, saio daqui.

  2. Homem cinza sem pescoço

    Colocar a culpa na Rachel Sheherazade ou na religião é usar da mesma moeda que os agressores usaram contra a Fabiane e aí tudo isso vira uma bola de neve e nunca acaba.

    “A culpa é do fulano se minha vida é uma merda” e por aí vai. Quando pixaram um casal na mesma Guarujá uns dias atrás, teve gente que até achou engraçado, o tal do olho por olho. Quanto ao discurso da Rachel, ela não teria ibope se as pessoas não apoiassem as asneiras que ela diz. Já está enraizado em uma grande parcela do povo, queira ou não queira, mesmo se a maioria da audiência dela seja de analfabetos funcionais.

    O mesmo vale para os líderes religiosos, pois quem é religioso de verdade não sai por aí espancando as pessoas. Concordo com o que o amigo disse aí embaixo: “Cada um com sua “Verdade” diminuindo qualquer coisa que não seja parte dela…”

    Os culpados são os “pais de família” e “trabalhadores honestos” que fizeram essa maldade inominável com a Fabiane. Vi uma reportagem hoje de um dos agressores que disse: “eu tenho 3 filhos, então fiquei preocupado.” Esse é o exemplo que o cara dá pros filhos, é sempre essa justificativa, é sempre essa vitimização. Esse país tá cada vez pior

    1. Harvey_o_Adevogado

      A Sheherazade, “data venia”, não tem crédito algum. Defende cantor gringo que se fosse brasileiro e pobre, seria freguês de uma vara da infância e juventude e depois vem, com discurso moralista. Aprendi que certas pessoas, não devem receber créditos. Ela quer polêmica. “Oras, bolas, macacos me mordam…”, o povo ta revoltado, e qualquer válvula de escape, faz com quem ganhe o amor do povo. Por isso, ela fez e continuará a fazer suas opiniões ácidas. Detesto Reinaldo Azevedo, mas ele não fica pulando de galho em galho com suas opiniões, diferente da jornalista gatinha (com todo o respeito, mas que belos lábios e olhos ela tem, harvey, modo Dom Juan, detected)
      Mas o efeito Sheherazade só deixou claro que a nossa sociedade é de um bando de hipócritas, covardes e acomodados e que ficam só chorando pelo leite derramado.
      Se a nossa querida sociedade fosse diferente, a Sheherazade, não teria tantos fãs da sua opinião que alterá sempre.
      E para terminar a Sheherazade (por que toda vez que escrevo o sobrenome dela, sinto que estou escrevendo errado?), tem seu direito de se expressar, assim como todos nós, e ela por força contratual, deve ter suas liberdades e restrições no ambiente de trabalho e isso não deve ser misturado com censura.
      Agora, o episódio da moça espancada só confirma tudo isso que já escrevi acima: a nossa sociedade, seja de gente carente ou rica, são todos hipócritas. Advinha a desculpa que o cara que foi preso (está na temporária, segundo um jornal que li) disse na delegacia, quando indagado de sua atitude, na hora do linchamento: “eu tenho filhos…”. Pasme…, ela também tinha e ninguém pensou nisso na hora que foram espancar ela.

      1. Faço minhas as palavras do companheiro Harvey. Somos todos culpados. Só tenho um adendo – o mundo é hipócrita, não se trata de uma exclusividade nossa.

        1. gabymolko

          Olha gente, vocês todos vão me desculpar, mas acho que não é bem por aí.
          Em momento algum disse que a Rachel não poderia se expressar, ela não só pode como deve, PORÉM isso é uma coisa que a gente escuta no primeiro dia de faculdade de jornalismo: a partir de agora pense duas vezes antes de falar algo, você está formando opiniões.

          Não disse e nem nunca direi que esse episódio é apenas e exclusivamente culpa da Rachel, vou me repetir e reafirmar que tá na conta de MUITA gente, inclusive dos que ficaram apenas assistindo “”indignados”” e não fizeram nada.

          Agora, achar que essas pessoas que atingem grandes massas não tem qualquer tipo de relação com a reação das pessoas nesse caso é ser muito ingênuo.

      2. Homem cinza sem pescoço

        Eu nem acho que a Rachel quer polemica, acho que ela deve ser assim mesmo. Concordo com o que o Boechat disse:” a opiniao dela e uma bosta, mas ela tem todo o direito de opinar”

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