Talking about my generation (ou simplesmente, Qual é a minha geração?) #1

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Eu nasci nos anos 1980, no final deles, para dizer a verdade. 1988, para ser ainda mais preciso. Ano do Dragão, de Olimpíada em Seul e do Centenário da Abolição da Escravatura (o que sempre foi motivo de orgulho para mim – isso até eu ficar mais velho e descobrir que os negros não foram libertos, que ninguém cavalgou às margens do Ipiranga e que Cabral não descobriu o Brasil). Enfim, os anos 1980 nunca foram a minha praia, na verdade, sempre os detestei por causa dos permanentes, das ombreiras, do New Wave e das cores berrantes. E até hoje agradeço por ter nascido na melhor parte desta década, o final (como você pode ter percebido, não citei o The Smith. E não os citarei, acho um saco, assim como Legião Urbana).

Enfim, depois dos 1980 vieram os anos 1990, os quais passei a maior parte vegetando, ou seja, só cagando e comendo (não nessa ordem). Nessa época que, tenho para mim, foi a melhor da humanidade, se estabeleceram os computadores modernos, a internet e os videogames (no Brasil e na casa das pessoas como um todo). Porém, não aproveitei nada disso porque nunca tive dinheiro para essas regalias, ainda mais nessa década de 1990 quando isso era “novidade”.

Meu negócio era televisão. Eu assistia tudo o que você poderia imaginar, afinal, tempo livre era o que não faltava. Sempre fui pobre e fodido, e, quando você é pobre e fodido não existe essa história de natação, judô, explicadora (isso era moda na minha época), balllet (queria realmente ter feito isso) ou qualquer outro tipo de atividade extracurricular. Então, o jeito era assistir tevê, e eu assistia mesmo de 12h30 às 22h. Sem desligar e sem piscar também.

Eu poderia ter saído de casa e ido jogar bola ou soltar pipa, que são a diversão dos pobres e fodidos, mas eu também não podia fazer isso (não podia mesmo, EVER). Isso porque, quando você é pobre e fodido, acaba morando num lugar barra pesada. Tá, muita gente vai me chamar de viadinho covarde (se é que não chamou antes), uma vez que tem gente que mora em lugares potencialmente perigosos e nem por isso deixa de sair de casa.

No entanto, lugares potencialmente perigosos não chegam nem perto de Lacoste dos anos 1990, tanto é que eu não conheço ninguém vivo da minha idade (que não tenha sempre feito parte de uma igreja). Aqui era assim, para você ver seus filhos crescerem ou você os coloca desde cedo numa igreja ou nunca os deixa sair de casa. Minha mãe, como não é boba nem nada, fez as duas coisas. Só para garantir, sabe como é, né?!

Assim, meus anos 1990 foram cercados de muita fé e televisão, sendo que, para minha “sorte”, uma anulava a outra. Por exemplo, uma coisa que todo mundo lembra era de assistir, na Manchete, Cavaleiros do Zodíaco, YuYu Hakusho, entre outros. Eu não. Minha mãe fazia maior jogo duro porque eram “desenhos do demônio” (isso anos antes de eu saber de coisas como Berserk ou então Bible Black. Se ela soubesse…rsrs). Agora, o mais divertido e que vai chocar a todos vocês, é que mommy não era uma daquelas beatas chatas que você vê nas novelas, ela NEM FREQUENTAVA NENHUMA IGREJA. O que ela fazia era pedir conselhos para minha tia (a única crente da família).

Eu ficava muito bolado na época, mas, lembrando hoje, até que fica engraçado. Era algo mais ou menos assim. “Fulana (minha tia), eu botei o XXX (meu apelido familiar secreto) na igreja. Você que entende dessas coisas de religião, me dá umas dicas aí?”. E foi nessas que quaisquer resquícios de uma infância minimamente comum foram perdidos. Claro que eu fiz várias coisas divertidas, mas nada que os garotos normais de 7 a 11 (minha infância nos anos 1990) tenham feito.

CONTINUA…

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

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