Talking about my generation (ou simplesmente, Qual é a minha geração?) #2

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Esta é a continuação da saga homérica que fala da minha infância como nerd pobre das favelas cariocas, o que foi bem diferente da experiência do nerd clássico de classe média, como vocês puderam notar.  Eu recomendaria a leitura da primeira parte antes de começar a ler este post (na verdade as duas partes estão bem divididas e não é necessário ler a outra para entender este, mas eu não posso dizer isso, né?…ops!). Enjoy!

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Sendo uma criança a qual os mínimos prazeres da juventude, como acompanhar Cavaleiros do Zodíaco, haviam sido negados (nem SAILOR MOON eu podia ver!). E, ao mesmo tempo, sendo preguiçoso demais para realizar simples tarefas como pular amarelinha no quintal (não que eu tivesse um grande quintal, mas dava pra inventar) ou jogar bola dentro do quarto, boa parte das minhas ações lúdicas vinham de um lugar: a escola.

Isso mesmo, outra coisa que provavelmente me diferenciava de qualquer outra criança no mundo, ou pelo menos do Rio de Janeiro naquela época, era que eu simplesmente A-D-O-R-A-V-A ir para a escola (coisa que ainda gosto – vide toda essa coisa de fazer Doutorado). Lembrando hoje, acho que era porque só lá eu tinha alguma espécie de convívio social, o que para mim era algo FANTÁSTICO. Detalhe, não sou filho único. Eu tenho um irmão mais novo. Só que crescer com ele é a pior forma de solidão que existe. Talvez eu fale disso num futuro post.

Outro motivo para meu apresso incomum pela escola vinha do simples fato de eu ser muito bom naquela porra (coisa que não funciona tão bem hoje na pós-graduação). Voltando a questão do pobre e fudido…

Quando você é pobre e fudido, você vai para o sistema público de ensino, e como eu aprendi mais tarde, o sistema público de ensino faz tudo, menos ensinar (na escola de base, claro). O nível de exigência era tão alto que qualquer pessoa com meio cérebro e que prestasse um mínimo de atenção poderia fazer uma verdadeira festa. E foi assim que durante 10 anos (jardim-8ª série), eu cresci com a vã ilusão de ser algum tipo de gênio fenomenal. O que foi profundamente traumático quando eu entrei no 2º grau e pior ainda no Vestibular.

Findo o que na minha época ainda se chamava de primeiro grau, fui para o que hoje se chama de ensino médio, isso em 2003. A partir daí começou o que chamo de Era da Compreensão. Foi justamente nessa época que descobri que a Independência do Brasil foi um capricho de um jovem mimado, a descoberta do Brasil foi a jogada de um malandro endividado e que os negros foram libertados apenas para se tornarem também escravos do capitalismo. Somando-se a essas descobertas históricas vêm as constatações sociais, como a desigualdade de renda, o preconceito etc. Enfim, todas aquelas coisas que não fariam a mínima diferença se você não soubesse e que, na verdade, seria até melhor que você ignorasse.

A Era da Compreensão é mesmo uma filhadaputa, mas pelo menos você pode dizer que está vivendo num estado de consciência plena (o que é uma grande merda e eu a trocaria facilmente pela velha ignorância infantil enfiando um giz de cera no nariz).

É isso aí! A primeira década de 2000 começou e já terminou e sinceramente ainda não sei o que estou fazendo aqui. A Era da Compreensão não me trouxe nada de bom, exceto realmente saber das coisas (o que já vimos é algo bem questionável). Pelo lado bom, os computadores e os videogames modernos finalmente chegaram no Morrão e pude desfrutar de uma pós-adolescência quase tão normal quanto a de qualquer um. Ou como diriam meus professores pós-modernos, “a revolução digital e a consolidação da cibercultura trouxeram verdadeira liberdade de expressão através dos meios digitais, em especial a internet”.

Fora isso, que é até bem importante, o mundo continua o mesmo. As pessoas continuam se matando, destruindo a Terra e se divertindo enquanto se matam e destroem a Terra e se reproduzindo alheios a tanta destruição, matança e diversão. A única diferença é que agora todo mundo pode assistir a tudo isso no Youtube. Ou comentar a hipocrisia do modo de vida humano (ou pós-humano, como diria um professor meu) no Twitter, no Face ou num blog.

PS: Graças a boa “TV a Gato” e a internet da favela pude voltar a assistir os animes clássicos da TV, mesmo que com uns 10 anos de atraso. Uma pena que mesmo o Cartoon Network não tenha passado direito CDZ, mas pelo menos pude (re)ver a maioria da Saga de Ouro, de Asgard e um pouco da de Poseidon…só não vi até hoje a de Hades. Esse é um dos motivos de um saber muito mais de Naruto  (que não é da minha época) do que de CDZ, Shurato, Samurai Wariors, entre outros. Curiosamente, a única coisa que consegui ver direito, e no período certo, foi Dragon Ball (Z, GT e tudo mais). Obrigado Globo!

 

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

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