Antes de Watchmen – Comediante

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Quando parecia que as coisas estavam melhorando…

De certa forma, até o primeiro trabalho do Azzarello em Before Watchmen ser publicado, a edição do Comediante era uma das mais aguardadas por mim. Bom, agradeço que minhas expectativas tenham baixado muito depois de ler o péssimo trabalho desenvolvido por Brian no roteiro de Rorschach.

Em primeiro lugar, devo dizer que tenho tomado o cuidado de ler e reler com calma cada encadernado para evitar que uma empolgação momentânea ou uma antipatia repentina influenciem a minha opinião. Também tenho tido o cuidado de ter sempre o meu encadernado de Watchmen à mão para consultas, pois Antes de Watchmen é uma série de prequels, não uma reinvenção – ou realidade alternativa – daquele universo. Foi baseado nestes aspectos que constatei que as edições do Coruja e da Espectral foram ruinzinhas, mas inofensivas para a obra original, a do Rorschach um crime contra a mesma e a do Dr. Manhattan valeu a pena.

Acho que a melhor coisa deste projeto em particular foram as capas.
Acho que a melhor coisa deste projeto em particular foram as capas. Sendo assim, elas serão o destaque.

Se você é fã da obra de Alan Moore e Dave Gibbons, imagino que tanto Rorschach como Comediante estejam, pelo menos, entre os três personagens mais legais de toda a série. Também acredito que, mesmo não concordando com a iniciativa da DC de contar um pouco do passado dos personagens de Watchmen, você achou que a escolha de Brian 100 Balas Azzarello para escrever o roteiro das séries com estes dois personagens seria um alento. Bom, eu pensei assim. E quebrei a cara.

De cara, há uma diferença: a série do Comediante é dividida em seis partes. Até agora, todos os encadernados publicados pela Panini são encadernados de minisséries divididas em quatro edições. Isso é ruim, pois significou que tínhamos duas edições a mais.

O comediante de rosto pintado agindo como um malucão... Fala sério...
O Comediante de rosto pintado agindo como um malucão… Fala sério…

A história se concentra nos anos 60. Há um claro esforço de Azzarello para colocar o Comediante dentro de situações históricas reais, tendo muitas vezes uma intervenção decisiva, ainda que oculta, como ao fazer um “favor” para a esposa de um amigo, livrando-o da amante indiscreta, ou dando um jeito para transformar a “consultoria militar” americana no Vietnam em uma guerra. Há citações diretas a outros episódios, como os assassinatos de John e Robert Kennedy (aliás, a reação dele à morte do primeiro é simplesmente ridícula!), o aumento da tensão na luta pelos Direitos Civis, Air America e o Massacre de Mÿ Lai (embora o nome da vila não seja citado). Em matéria de época, até que a história está bem situada, não há como duvidar disso, já que vários personagens reais surgem de tempos em tempos durante a narrativa.

Um soldadinho debochando do Comediante? Hãããã... N]ão deveria ser algo... deixa ver... como diria?... Mais assim... ao contrário?
Um soldadinho debochando do Comediante? Hãããã… Não deveria ser algo… deixa ver… como diria?… Mais assim… ao contrário?

O grande problema – que já existiu em Rorschach – é que Azzarello não consegue convencer os fãs de Blake de que aquele seja ele. Eu, particularmente, nunca o imaginei como amiguinho dos Kennedys, engolindo desaforo de um soldado quando chega no Vietnam pela primeira vez, pintando um smile no rosto e desafiando o chefe de polícia de Los Angeles enquanto imita um louco ou se lamentando de forma patética como mostrado nas últimas páginas da história.

Outra capa muito foda. A forma como Azzarello abordou a passagem de Blake no Vietnam só me convenceu que Garth Ennis deveria ter escrito isto.
Outra capa muito foda. A forma como Azzarello abordou a passagem de Blake no Vietnam só me convenceu que Garth Ennis deveria ter escrito isto.

Na minha opinião, o Comediante era um personagem de grande densidade. Poxa, estamos falando do sujeito que descobriu o plano de Ozymandias em “À Meia- Noite, Todos os Agentes…” (nº 1 de Watchmen). O cara que jogou na cara de todos que o conceito de combatente do crime estava com os dias contados e que o mundo se encaminhava para um abismo (Amigos Ausentes, capítulo 2 de Watchmen). O homem que percebeu o progressivo alheamento do Dr. Manhattan da humanidade e as dificuldades que brotariam de tal ato (também em Amigos Ausentes). O bicho que percebeu a verdadeira face do Sonho Americano (mais uma vez em Amigos Ausentes).

Longe do malucão que Azzarello retratou aqui.

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É sério: até quando o Comediante apareceu na minissérie da Espectral, foi muito melhor trabalhado do que aqui.

Outro erro copiado do seu trabalho em Rorschach é o quase completo alheamento da obra original. Há uma participação mínima do Coruja e de Rorschach. A menção a Espectral é ridícula (e eu que achava que seria o centro da história). Nenhuma menção aos Minutemen ou ao Dr. Manhattan.

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Já disse isso antes, e reitero: acho que o Azzarello não lê Watchmen há muitos anos ou ele fez este projeto com uma má vontade tremenda. Se, no trabalho anterior, houve quem defendeu sua história, aqui ele aparentemente alcançou uma unanimidade negativa: todas as resenhas reclamaram da sua caracterização de Edward Blake.

Outra boa capa. Pena que a edição brasileira tenha a pior de todas.
Mais uma grande capa. Pena que a edição brasileira tenha a pior de todas.

Outro detalhe que derruba esta HQ é a arte. Se, até agora, tive elogios aos desenhistas que trabalharam nos títulos de Antes de Watchmen, aqui sou obrigado a dizer que J. G. Jones parece que desanimou muito com o roteiro que recebeu. Narrativa ruim, às vezes preguiçosa, arte-final bem trabalhada apenas em um momento ou outro e problemas ao desenhar personagens reais (que, em vários quadros, pareciam sair direto de fotografias, dando uma aparência irreal, que não casava com o resto do ambiente).

O trabalho de "caricatura" de J. G. Jones me decepcionou.
O trabalho de “caricatura” de J. G. Jones me decepcionou.

Essa eu posso dizer: dispensem. Não vale mesmo a pena.

Antes de Watchmen - Comediante. Roteiro de Brian Azzarello. Arte de J. G. Jones. Editora original DC Comics. Editora no Brasil Panini. 140 páginas. R$14,90.
Antes de Watchmen – Comediante. Roteiro de Brian Azzarello. Arte de J. G. Jones. Editora original: DC Comics. Editora no Brasil: Panini. 140 páginas. R$14,90.

E, se comprar, lembre-se que, além de levar um pedaço de lixo pra casa, ainda terá que conviver com o fato de que

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JJota

Já foi o espírito vivo dos anos 80 e, como tal, quase pereceu nos anos 90. Salvo - graças, principalmente, ao Selo Vertigo -, descobriu nos últimos anos que a única forma de se manter fã de quadrinhos é desenvolvendo uma cronologia própria, sem heróis superiores ou corporações idiotas.

Este post tem 9 comentários

    1. JJota

      Não. Gosto muito do trabalho de humor do Mino (embora não curta seu lado cronista e, principalmente, poeta).

      1. Mino tem muitas coisas geniais, principalmente do fim dos anos 70, início dos 80…

        1. JJota

          Ele é muito bom quando critica relacionamentos e costumes. Bem melhor do que quando passa pra política.

  1. Felipe Alves

    bom eu gostei da forma cronológica que o arco do comediante foi contado (só li esse ate agora) mais a narrativa é muito confusa e besta.. mais não sei se vcs perceberam, na sexta edição do Comediante (oitentas) eles cometem um erro patético. o Coruja pergunta -Ble… Comediante, oque você faz aqui?. Cara o Coruja não sabia da identidade do comediante antes dele morrer, quem conta praele é o Rorshac

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