CARTUNISTAS PEGAM FOGO EM DEBATE NO RIO – Adão in Concert, segunda e última parte, faz favor!

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Ao pararmos ontem, por excesso de caracteres, Jô Soares 2.0, isto é, Adão Iturrusgarai – o pervertido criador da tira Aline e seus dois namorados, começava a animadamente constranger seus ‘entrevistados’ Allan Sieber e André Dahmer, criadores de Deus é Pai e Malvados, respectivamente, no teatro de Arena da Caixa Cultural, em uma mesa-redonda integrante da mostra Macanudismo.

Quando então o cheiro de incêndio que senti naquele momento se mostrou apenas na figura de André Dahmer violando a lei contra fumo em locais fechados, mostrando que não é Malvado só nas suas tiras. Ah, muleque!

Não demorou muito, e Arnaldo Branco apareceu, e, antes de conseguir se perder na imensa plateia, foi fisgado por um sedento Adão. Arnaldo sentou-se pouco antes de Dahmer se pirulitar, ao propor trocar seu lugar com um imaginário Daniel Lafayette visto por Adão, e o escritor da tira do Agente Zero Treze desandou a falar como conheceu Adão (como tem Adão nesse parágrafo!) na fundamental revista Chiclete com Banana, vendo a historinha do então iniciante publicada na seção de cartas, e o frasista do Twitter filosofou sobre como, pelas seções de cartas, dava para perceber como eram retardados os leitores de HQs por aqui.

Súbito, uma voz da plateia perguntou ao pai safado da Aline se era verdade que ele desenhou uma tira para o Liniers. E ele confirmou, disse que o criador de Macanudo convida artistas quando está sem tempo.

Por falar em tempo, foi só o ex-editor da Mad, Ota, chegar, beeem atrasado, para Adão tirar uma dúvida que carregava. Se Ota foi crossdresser, anos antes do Laerte. O interessado Adão revelou que conseguiu ser recebido pelo ex-transformista editor em 1984, mas apenas porque acredita que ele queria lhe comer.

Contou que Ota gostou de uma das ideias que apresentou naquela ocasião, mas que pediria para ser desenhada por um artista. Acontece que, no mês da publicação da Mad, a coisa saiu desenhadinha por outro e tal, mas na bundinha do Adão nada: não havia citação que ele havia bolado tudo! Um equívoco, claro, naquela época pré-digital, um estilete pôs tudo a perder, soltando o papelzinho com o nome do Adão… Em seu acerto de contas, Adão relou: “Mas você se desculpou na seção de cartas, né”?

Com isso, Jô Soares 2.0 e Allan Sieber recordaram experiências (sei lá se pessoais) sexuais com animais de fazenda (sem referências a participantes de reality-shows homônimos). Quando eu perder a vergonha, conto pra vocês a erótica história da porca de galochas revelada pelo Sieber. Marcelinho adoraria.

A polícia do politicamente correto e as piadas de Rafinha Bastos também foram assunto para nossos mosqueteiros. Para Arnaldo Branco, antes repercussões (principalmente negativas) dependiam do carinha que escrevia à mão para o jornal reclamando, cuja cartinha era publicada dois dias depois com o assunto já esfriado. Hoje, o mesmo cara manda a reclamação pra rede, e fica lambendo a repercussão que ela gera. E que, na gringa, assuntos tabus são igualmente ou até mais abordados no stand-up, mas a reação é mais exagerada aqui mesmo.

No instante em que o ator principal saiu dali para, segundo ele, mijar, ou lembrar da conversa sobre animais no banheiro, o mediador sugeriu que revelassem as histórias sujas de Adão que não puderam incluir em suas colaborações no novo livro dele. Porém, arregaram.

Adão voltou afirmando que nunca vomitou na boca de ninguém, e foi só propor a seus colegas que contassem os locais mais bizarros em que fizeram séquiço para as crianças finalmente irem embora. Já estava ficando meio tarde…

Foi aí que a orelha de Ziraldo ficou vermelha, porque ele virou o assunto da tchurma ali reunida. Da plateia, Ota chamou o criador do Menino Maluquinho de ídolo e assumiu que daria para ele se fosse mulher. Sieber resumiu que teve desavenças e questões trabalhistas em seu período no já finado Pasquim21. E continuou, dizendo que depois dessa fase, fundou a revista F com Arnaldo Branco e o chargista do jornal Extra, Leonardo, pois gostavam do objeto revista, tentando ressuscitar uma revista de humor de banca.

Allan Sieber disse preferir Jaguar e Fausto Wolff a Ziraldo, e o mediador finalmente abriu o bico, contando como não precisou escrever uma única linha de texto para uma HQ sua, feita com a versão editada dos resultados do Google a partir de “Ziraldo Canalha”.

Ziraldo é esquecido quando Allan Sieber incorpora Marília Gabi Gabriela ao pretender um ping-pong com Adão. Mas o velhaco cartunista virou o jogo, o jogo de tênis de mesa, e começou:

Adão: Uma cor.

Allan: Marrom.

Adão:  Um surfista.

Allan: Grande.

Adão:  Um diretor de cinema.

Allan: Dois.

O jogo terminou quando Sieber jogou no ventilador que Adão fez aulas de biodança.

No último ato da comédia, os cartunistas finalmente entraram no tema da mesa-redonda: O ofício da tira. Allan Sieber, também animador, indignou-se com o fato de todos os desenhistas produzirem até 6 tiras por semana, quando ele tem de fazer 7. Todavia, assumiu que curte produzir todo dia, e, na verdade, não consegue fazer uma ‘frente’, pois sempre precisa de uma arma metafórica no pescoço… Além disso, há piadas que deixa de fazer por não saber desenhar certas coisas, como bicicletas e mulheres gostosas.

Arnaldo Branco, criador do Mundinho Animal, considera chata a obrigação de gerar uma piada por dia, nem o cara mais chato de um escritório consegue contar uma piada nova todo dia.

Tudo terminou com a plateia fazendo perguntas a Adão, e ele contando da paranóia que sentiu ao conhecer Liniers, após indicação da argentina Maitena, de Mulheres Alteradas, quando pensou que o maldito estava sendo falso (a mesma paranóia que sentiu ao conhecer Arnaldo) com ele, e esqueceu tudo ao ler um elogio dele no site. “A paranóia se dissipou”, Adão disse, pondo fim no seu desvairado talk-show.

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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