De volta para o futuro: O cinema nasceu na lua.

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Há muito tempo atrás, mas nesta mesma galáxia, havia um gênio da lâmpada. Com seus poderes mágicos, ele concedeu três desejos a Aladdin. No final do século XIX, outro gênio da lâmpada, também conhecido como o Feiticeiro de Menlo Park, ou Thomas Alva Edison, inventou o cinetógrafo. Seu feitiço conferia vida e movimento a simples imagens.

Em 1895, os irmãos Auguste e Louis Lumière registraram a patente de um aparelho semelhante. Aparentemente desenvolvido por um certo Sr. León Bouly, o cinematógrafo tinha como diferencial a projeção das imagens que registrava. Assim, encarando o invento como um instrumento estritamente científico, os irmãos promoveram alguns eventos para demonstrá-lo.

Na plateia de um desses eventos estava George Méliés, um famoso ilusionista. Ele tentou comprar o cinematógrafo dos Lumière, porém, como não o viam como algo comercial, e não enxergavam futuro naquilo, recusaram-se a vendê-lo. Méliés não desistiu, e terminou por adquirir um teatrógrafo, que também projetava imagens, fabricado pelo distinto Robert William Paul.

Em seguida, Méliés não inventou a lâmpada, mas seu gênio transformou truques mágicos no cinema como hoje o conhecemos. A partir de 1896, seu estúdio lançou aproximadamente 500 filmes, criando mundos de fantasia a partir de cenários pintados à mão, maquetes, figurinos, atores e trucagens. Com pouco mais que luz e sombras, Méliés levou milhões à lua, quase setenta anos antes da Apolo XI de Neil Armstrong. Sua obra-prima, “Viagem à Lua” revelou aos olhos do mundo a realidade que havia na ficção-científica de Julio Verne e H.G. Wells. Ele sonhou. E nos apresentou seus sonhos.

Por um breve instante, eu estive dentro deles. Na última segunda-feira, as luzes se apagaram na plateia do Teatro Maison de France, no Centro do Rio de Janeiro, e eu havia voltado à aurora do século XX.

Lawrence Lehérissey começou a dedilhar as teclas do piano, ao mesmo tempo em que, ao fundo, o tecido branco era invadido por luzes formando imagens. Fotos que se moviam em sequência, trazendo a obra do mago Georges Méliés. Era uma sessão de cinema. Como a que nossos avós assistiram. Espanto, riso, pranto. Dos dois lados da tela, enquanto a trilha sonora ao vivo ressaltava, enfatizava e estimulava as sensações.

Naquela noite inesquecível até intervalo houve, como nas velhas matinês. O desfile de clássicos de Méliés, da forma como foram concebidos, foi uma festa para o espírito. Uma celebração da criatividade, da alegria, do engenho humano.

Embora a competição com outros estúdios e a primeira grande guerra tenham levado Méliés ao ostracismo, o incrível potencial e o inevitável sucesso do que ele começou possibilitaram que sonhássemos com um final feliz para o mestre no filme “A Invenção de Hugo Cabret”, vencedor de cinco Oscars,  de Martin Scorcese.

Não sei quando essa sessão especial que testemunhei poderá se repetir, mas no You Tube é possível deleitar-se com os filmes do mestre. Com trilha sonora, se você estiver com sorte. Abra bem os olhos e comece a sonhar!

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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