ENCONTROS E DESENCONTROS: Desconstruindo um evento que não ousa dizer o nome.

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Há pouco mais de quinze dias, você saberia onde me encontrar. Fosse um pistoleiro de aluguel, não precisaria perguntar sobre mim por aí. Bastaria fazer ponto na Voluntários da Pátria (RJ), que uma hora seu alvo apareceria de mochila nas costas e pilha de ingressos na mão, de um lado para o outro, entrando na próxima sessão.

25 filmes passaram voando. Em tempo recorde. Encarar um Festival do Rio como uma cobertura “jornalística”, como estudo “antropológico” e ainda como puro entretenimento pode efetivamente te esgotar. A conjuntivite que o diga. E… o despertador.

Não estamos aqui, porém, para falar sobre mim, e sim para deitar o Festival no divã. O que ele falaria sobre sua edição 2012?

Arrisco dizer que seu maior trauma continua sendo a infraestrutura. A organização não deu conta satisfatoriamente de projetar digitalmente filmes recebidos em inúmeros formatos diferentes. Algumas sessões foram interrompidas, deixaram de ser exibidas ou contaram com problemas, principalmente com a legendagem eletrônica.

O que, ouso dizer, é um caso à parte: sincronizar as legendas com o que vai na tela deve ser uma ciência deveras avançada. Uma das sessões de Somos Uma Multidão: A História dos Hacktivists sofreu com isso. Em contrapartida, a exibição matutina de Holy Motors contou com um artifício, para mim, inédito: quando as legendas já aplicadas ao filme sumiram, a tradução continuou na barra de legendagem eletrônica abaixo da tela. Espetacular!

Deitado no divã, o Festival crê que a opção pelo preto e branco parece indicar uma tendência: o português “Tabu”, todo filmado sem cores, emula um filme mudo, enquanto Cesar Deve Morrer mantém-se bicolor até quase o final. Acho que em seu subconsciente o Festival já pensa em trazer Blancanieves, filme espanhol mudo e em preto e branco recentemente exibido no Festival de San Sebastián, para a edição do ano que vem. Até porque revela outra tendência: dos filmes inspirados no conto da Branca de Neve e os Sete Anões…

A musicalidade foi outro ponto forte deste ano: Com uma seleção inteira voltada para os ouvidos, o Festival surpreendeu apresentando o movimento hip-hop de ontem e de hoje, através de Hip Hop: Wild Style (de 1983!) e A Arte do Rap (de 2012). Menção honrosa para Simon Killer, por nos fazer entrar no fim de uma festa de verão e mergulhar na piscina reluzente em plena madrugada, através da música Dance Yrself Clean, da recém-extinta banda LCD Soundsystem.

Finalizando a consulta, parabenizamos o Festival por ter exibido todos os filmes programados para essa edição! E por contratar para o atendimento as simpáticas moças ruivas e descoladas que misteriosamente desaparecem no resto do ano. Vai dizer que não reparou?

Rodrigo Sava

Arqueólogo do Impossível em alguma Terra paralela

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