Ensaios – Por que videogame ainda é considerado coisa de criança?

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Depois de ingressar no Mestrado, conheci um mundo novo. Um mundo onde o que você diz deve vir seguido de parênteses, o nome de alguém realmente importante e o ano em que ele disse aquilo (AUDI, 2013). No Doutorado, isso ficou ainda mais evidente, mas a restrição mais leve – afinal, você pode citar a si mesmo…

Desse modo, desde 2010, tenho que me recordar sempre de onde tirei tal ideia. Toda vez que deixo escapar uma observação própria, baseada em experiência particular (obviamente, camuflada por estilo literário bem acadêmico), sou questionado. De onde você tirou isso? Fez pesquisa empírica?

E é por isso que hoje, escrevendo para meios não acadêmicos, nos quais não preciso comprovar empiricamente ou citar alguém mais “capacitado”, posso me dar a liberdade de expor argumentos desprovidos de pesquisa quantitativa ou qualitativa (achismo qualificado).

Para dar um ar mais pomposo, decidi nomear este esforço de Esboços Literários Subjetivos Sem Comprovação Empírica, mas Baseados na Lógica e no Conhecimento Adquirido. Ou, simplesmente, Ensaios. Meu objetivo é fazer algo comum, sem precisar comprovar os argumentos (a não ser através da – minha – Razão, silogismo ou bom senso) ou esgotar o assunto, mas que, ao mesmo tempo, seja algo que possa gerar discussão e debate.

É claro que todo nosso conhecimento é externo (a não ser que você seja platonista e acredite em um conhecimento inato ao ser humano), portanto, todas minhas conclusões são resultado do somatório de diversas fontes: observações diretas, conversas, livros, artigos, documentários, aulas, seminários, filmes… O legal do ensaio é que posso falar o que quiser e não preciso citar (lembrar) a fonte (caso ela exista…).

Sendo assim, inicio esta série de Ensaios… O objetivo é responder a alguma pergunta sobre a vida.

Hoje, é a seguinte:

Por que videogame ainda é considerado coisa de criança?

***

Podemos pensar em dois motivos básicos, e que não excluem outros, para saber por que o videogame ainda é considerado coisa de criança: estratégia de marketing e preconceito etário.

Crise? Vende esse negócio aí!

Na década de 1970, os fliperamas eletrônicos (arcades) viraram modinha. Existiam diversos estabelecimentos dedicados a estas máquinas – além daquelas biroscas com alguma clandestina lá no fundo. Seguindo a força dos jogos eletrônicos, também foram criados, ainda na década de 1970, os consoles domésticos (Magnavox Odyssey, Fairchild Video Entertainment System, Atari etc.). Entretanto, apenas no início da década de 1980 eles fizeram sucesso (principalmente por causa do Atari). Infelizmente, devido à inundação do mercado, jogos iguais, insatisfação dos consumidores e por aí vai, o mercado de videogame, em 1983, entrou em crise.

Até este ponto, basicamente, o público alvo dos games era o jovem e o adulto. Inclusive, havia restrição de idade para entrar nos estabelecimentos de arcades.

Para conter a crise e voltar a vender mais jogos e consoles, os gênios publicitários criaram campanhas para atrair uma camada da sociedade mais facilmente manipulada. Sim, a camada infanto-juvenil. A partir daí, surgiram propagandas que ligavam os consoles ao entretenimento familiar, sempre com o apelo sobre as crianças.

propaganda

Uma coisa leva a outra e, claro, com o público infantil consumindo mais, a produção de games deveria seguir o mesmo. Assim, descobriu-se um nicho mercadológico incansável e os jogos criados deveriam corresponder a esta demanda infantil. Com isso, a Nintendo cresceu enormemente. Ela gostou tanto de vender para crianças que continua com esta política até hoje. Inclusive, utilizando os mesmo personagens…

Retro NES Ad

Que bonitinho, parece uma criança…

Quantas vezes ouvimos esta frase: está feliz como uma criança. Eu, pelo menos, ouvi diversas vezes; quando comprava um jogo novo, jogava ou falava sobre videogame. O divertimento puro, sem razões práticas profissionais, políticas, sociais ou educacionais, é, muitas vezes, ligado ao comportamento infantil.

Parece que um adulto não pode brincar. A seriedade da vida – com as responsabilidades do trabalho, pagar contas, criar filhos, especializar-se – impede o indivíduo adulto de simplesmente se divertir, sem objetivos além do entretenimento. Esquece-se de que são nos períodos de ociosidade, aqueles fora do trabalho e dedicados ao autoconhecimento, relaxamento e passatempo que o indivíduo está mais apto à transcendência – basta lembrar-se da vida do grego clássico virtuoso.

Old video game ad

Então…

A ligação dos videogames com crianças existe devido a campanhas de marketing bem-sucedidas e ao discurso de que felicidade e divertimento “não-pragmáticos” estão associados ao passatempo infantil baseado no aprendizado e desenvolvimento cognitivo.

Existem outras razões? Provavelmente. Estes argumentos podem estar errados? Com certeza. Por isso que é um ensaio…

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem 6 comentários

  1. toddy

    rapaz, eu me lembrei da minha adolescencia no Rio de Janeiro, que a gente encontrava um fliperama em qualquer barzinho, tempo bom.

      1. toddy

        o melhor era The king! e as melhores máquinas, estavam nos morros, subia muito para jogar hehehe

    1. Gustavo Audi

      Eu era playboy, frequentava o fliper do Barra Shopping…

      1. toddy

        burguesinho safado hauhauuhauhaauh! eu subia era o morro, para jogar the king of fighters

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