A MTV morreu. Como em Invasores de Corpos, uma emissora disforme assumirá o corpo da primeira, usando seu bom nome para promover o mal na forma de reality shows enlatados.

Céus, chega a ser hediondo juntar na mesma frase esses dois formatos, mas não tem jeito, nem choro nem vela de sétimo dia. Em 1 de outubro a Viacom dá restart na MTV e, com o pé na bunda que meteu em todo o atual elenco, será difícil – não, impossível – que mantenha a mesma qualidade e independência em suas novas atrações que tenham… senso de humor. Ah, que saudade vou sentir disso, amiguinhos…

Antes que pense que sou uma prostitutinha da MTV ou mesmo uma viuvinha alegre, eu, como Thor, o deus do trovão, te digo que: sou, sim. Compraria o passe daqueles caras se fosse um magnata do petróleo carioca, antes que acabasse toda a grana, enfatizo.

Cara, o Saturday Night Live da Rede TV era engraçado, mesmo com o Rafinha Bastos. Só eu via. Então, ele acabou… Não consegui comprar tudo que os anunciantes deles vendiam. Aliás, acho que eles não tinham anunciantes, e não tiveram a cancha de pedir uma vaquinha online pra pagar o almoço da trupe. Daí, acabou mesmo.

O CQC é engraçado, em sentido figurado. Tem uns lances divertidos, dá para rir de um bocado de coisas, principalmente dos repórteres. Na Band, ainda tem o Pânico, que é aquilo: Oito ou oitenta. Uma montanha-russa na qual você aplaude o primeiro looping, mas termina o passeio vomitando depois de dezessete piruetas.

Até Zorra Total tem seus momentos, antes de fazer lobotomia nos seus contratados. E a Praça é Nossa… Me recuso a fazer piada deles, ora, se nem eles se preocupam em fazê-las. Hmmm, mentira, gosto da Praça é Nossa, viu, vovó?

Como eu estava dizendo, e quase (?) me perdi: sentirei saudade do humor da MTV. Do que estou falando, afinal? Do Marcelo Adnet? Da Piri-piri-piri-piradinha Tatá Werneck? Da Dani Calabresa?

Pois é, pois é, pois é. Para além desses abduzidos pelas grandes emissoras, me debulharei em lágrimas por causa do Furo MTV.

Esse singelo programa é atualmente é um dos lares da idiossincrasia na televisão (falarei do outro ainda nesta semana, antes que seja tarde demais…), da experimentação do humor, da vertente da agressividade, do nonsense e do absurdo, da verborragia e todas as escolas de desaprendizado que existem. E como os eternos Hermes & Renato já provaram, a indigência monetária é a mãe da invenção.

Tenho a impressão de que escondem o nome dos roteiristas daquela bagaça numa caixa-preta de pandora, que só será aberta quando aquele Titanic afundar. Mentira: Pedro Leite e Felipe Berlinck são os nomes que aparecem nos créditos.

Esses perigosíssimos subversivos colocam na boca dos atuais ratos de laboratório do programa, Bruno Sutter, Daniel Furlan, Thunderbird, Paulinho Serra e do hipnoticafajeste Bento Ribeiro, as maiores atrocidades, barbaridades e demais excentricidades que nos deixam efusivamente perplexos e epileticamente sorridentes.

A rainha Dani Calabresa e o vagabundo Bento Ribeiro formaram a dupla original da bancada do falso jornalístico, que até hoje regurgita as manchetes do dia, espezinhando do noticiário político ao de (sub)celebridades, com aleivosias e truques que sensibilizariam até o Sérgio Mallandro.

Paulinho Serra (agora colega e súdito do Sílvio Santos) é o sparring multiuso, ranzinza, cara-de-pau e um tantinho neurótico. Bruno Sutter é o talentoso metaleiro cuja calma antecede a tempestade, dono de uma voz abençoada e capaz de cinismo e blasfêmia sem limites. Thunderbird é uma força da natureza, um soldado suave contra a inteligentsia, e palavrões desgastados ganham novo frescor em sua boca. Daniel Furlan é um maldito golum do humor, talvez o Marcelo Adnet nerd, e desnutrido como a função requer.

Por fim, Bento Ribeiro. Ah, esse é um cirurgião usando luvas de boxe. Que depois da primeira cirurgia não conseguiria mais arranjar emprego senão como titular da bancada de um programa mambembe em que tivesse de falar palavras desconexas até ser substituído por um androide vindo do futuro para matar John Connor McLeod, do clã McLeod.

Enfim, verterei lágrimas de crocodilo por estes inconsequentes, que terão de mendigar a partir de outubro (caso o Amada Foca não dê certo), a ponto de tentar me consolar com o tumblr cheio de gifs esquizofrênicos do Furo e com os vídeos piratas do programa postados por desocupados na rede.