Games, Arte e Cultura

Você está visualizando atualmente Games, Arte e Cultura

Depois que a Ministra da Cultura de vocês (porque minha não é…) falou besteira sobre o status cultural dos games, demonstrando sua ignorância no que diz respeito ao conceito de cultura, muito está sendo falado sobre o assunto.

Videogame é cultura? Videogame é arte? As indagações são feitas como se cultura e arte fosse a mesma coisa. Mas não é. Videogame é cultura, isso não se discute. Já arte é outra história, pois envolve questões subjetivas. O status de arte vai depender de cada pessoa e de cada obra. A resposta correta para a pergunta Videogame é arte? seria Pode ser.

Para ficar mais fácil, decidi expor os conceitos separadamente.

Cultura

Dependendo do ramo (Filosofia, Sociologia, Antropologia, Biologia etc.), o conceito de Cultura pode variar. Entretanto, de maneira geral, podemos definir Cultura como um complexo existencial que inclui comportamento, ética, costumes, leis, hábitos, conhecimentos, entre outros elementos, de um determinado povo, em um determinado espaço e em um determinado tempo.  As práticas podem advir da herança social ou da criação de novas (como a internet, por exemplo).

ciberculturaA cultura humana é um continuum e acumula-se com o tempo. Assim, ocorre uma concentração de “culturas”, linguagens, práticas… A evolução das tecnologias, juntamente com a atualização da cultura, culminou com a formação de uma Cultura Digital, também chamada de Cibercultura: uma ligação da informática e da telecomunicação criando redes de transmissão, acesso e troca de informações por todo o globo, constituindo novas formas de socialização. Este padrão de comunicação pode ser identificado pela operação simultânea de cinco processos: integração (hibridismo), interatividade, hipermídia, imersão e narratividade.

Cultura, assim, é um contexto natural/social. Videogame existe e é consumido, portanto, é uma prática social, independente se uma ou outra pessoa não jogue. E mesmo se a maior parte da população brasileira não gostar de jogos, isso não significa que eles não serão culturais.

E se formos falar de jogos em si, não necessariamente eletrônicos, eles já fazem parte da civilização há milênios – bem antes da escrita, fotografia, cinema, televisão, Carnaval, novelas…

Arte

Lamentavelmente, há uma visão elitista sobre o que é Arte – são intermediários teoricamente legitimados que definem o que é e o que não é. Desta forma, arte fica presa ao que eles acreditam. Não retiro sua importância, as opiniões são bastante válidas, pois carregam referências e associações úteis para se analisar uma obra. No entanto, não podemos esquecer que são opiniões e, portanto, estão impregnadas de gostos e interpretações pessoais.

A ideia aqui não é propor um conceito fechado (como já deixei claro neste post), mas uma noção geral para evitar entendimentos reducionistas. Uma característica básica da arte é o duplo movimento essencial em uma obra. Pelo menos, um destes movimentos deve existir para algo entrar no patamar de Arte:

1-      O contemplador retirar da obra uma mensagem – dar significado;

2-      O artista ter como um dos seus objetivos comunicar algo – imputar significado.

Ou seja, uma obra de arte está diretamente relacionada a um processo de significação. Uma obra Fontaine_Duchampdeve ter um significado criado pelo artista ou por quem a aprecia. O termo processo é importante, pois envolve a ação de “significar”, podendo ultrapassar o significado original do objeto. Um urinol, apesar de possuir um significado, não é arte, mas quando um artista o coloca em uma exposição, ele quer passar uma mensagem com isso – como feito por Marcel Duchamp.

Por isso, um mesmo objeto pode ser arte para um e não ser para outro. Quem está certo? Os dois, desde que não tentem invalidar-se mutuamente. Devido a esta subjetividade, a melhor maneira para cada indivíduo entender o que é arte para si é contemplando as obras. Não basta ler a teoria, o fundamental (e mais divertido) é apreciar os objetos para criar a sua própria noção.

É por esta razão que um jogo pode ser considerado uma obra artística. Tudo vai depender do olhar sobre ele. O que faz de Journey uma obra de arte e Call of Duty não? Quem souber responder a esta pergunta, provavelmente já estabeleceu o que é Arte para si. Parabéns…

journeyCOD

Aprende esse negócio aí

É possível que a própria “Ministra” tenha feito esta confusão entre Arte e Cultura. De qualquer maneira, disse besteira. O que leva a constatação que o não reconhecimento da Ministra pode ser retrato da falta de noção do brasileiro em geral. A indistinção dos termos é reflexo do desconhecimento de cada um.

Infelizmente, fazer parte e ser reconhecido é diferente. Os jogos fazem parte da cultura, mas ainda não são verdadeiramente reconhecidos como tal. Uma constatação pode parecer óbvia para envolvidos com games, contudo, para grande parte dos brasileiros, os conceitos se baseiam em paradigmas antigos ou limitados. Entender o que é arte e cultura, fora da visão altamente restritiva, pouparia muito tempo, pois facilitaria o reconhecimento de novas formas culturais/artísticas e ajudaria a diminuir valorações sem sentido, como considerar uma obra mais artística ou cultural que outra.

Por isso, acredito que trabalhar conceitos é importante, pois nem para a população brasileira eles estão claros… Se há a oportunidade de discutirmos de maneira mais aprofundada, estimulando o senso crítico, por que nos basear em números do mercado ou, pior, simplesmente seguir com a onda dos núcleos pensantes?

Um museu me dizer o que é arte ou cultura é importante. Contudo, melhor que isso, sou eu mesmo conseguir chegar a uma conclusão.

Gustavo Audi

Se fosse uma entrevista de emprego, diria: inteligente, esforçado e cujo maior defeito é cobrar demais de si mesmo... Como não é, digo apenas que sou apaixonado por jogos, histórias e cultura nerd.

Este post tem um comentário

Deixe um comentário