Garou: A Volta dos que Não Foram.

Você está visualizando atualmente Garou: A Volta dos que Não Foram.

Seguindo a agora já consolidada linha de “jogos-de-porrada-com-historinha-e-continuidade-folhetinesca”, a SNK lança, em 1999, aquele que viria a ser quase o seu canto do cisne, Garou: Mark of the Wolves.

Garou

Garou foi lançado tentando levar o potencial do Neo Geo ao seu limite. O jogo é extremamente rico em cores, tendo um dos níveis mais altos de definição de tela (a ponto dos pixels “estourarem” em alguns momentos), e personagens extremamente animados. Do ponto de vista da jogabilidade, o viés técnico do jogo também foi levado ao extremo – sistemas de defesa e esquiva, (como o Just Defense, um modo de defesa abrupta que desarma o oponente) desenvolvidos em franquias como Samurai Shodown (veja mais a respeito aqui), foram trazidos para esse jogo com muito sucesso. Cada personagem tem um timing específico de golpes, sendo necessário se acostumar e desenvolver maneiras diferentes de abordagem do oponente de acordo com o personagem escolhido. Apesar de parecer complicado, tudo isso foi desenvolvido de maneira a ser assimilado quase que intuitivamente pelo jogador, que, pouco tempo, depois consegue dominar seus lutadores preferidos. Justamente pelo fato de cada lutador ter suas peculiaridades, a diversão do jogo acaba sendo bastante variada.

rockterry

Esse jogo, do ponto de vista da narrativa, se passa por volta de 10 anos depois de Real Bout Fatal Fury. O Cramulhão-coisa-ruim-capeta-boitatá Geese Howard está supostamente morto. Seu cunhado, Kain R. Heinlein, é o novo dono de Southtown e da cidade vizinha, Second Southtown, e, como Geese deixou um filhote, o cunhado safadinho não teria lá boas intenções com o rebento. Rock, aliás, acaba sendo criado por Terry Bogard, que abandona o seu visual de garoto-propaganda da All-Star Converse, e vira uma espécie de projeto de caminhoneiro. Eis o pretexto básico pras porradas do jogo. Kain deseja se manter no poder, e Rock é uma ameaça. Terry, protetor do moleque, entra na parada pra ajudá-lo a se livrar dessa ameaça.

Terry and Rock Howard

Terry Bogard, aliás, é o único personagem da franquia Fatal Fury que continua nessa sequência. Vários outros personagens ou são levemente mencionados, ou aparecem como figurantes em cenários do jogo. Como podemos ver, Terry não é o protagonista desse game, ele passa a fazer mais aquele tipo de coadjuvante nobre que, nos filmes, é dado a um ator de muito renome, que não aparece tanto quanto deveria, mas serve pra dar alguma credibilidade ao filme e puxar bilheteria: meio que um Ian McKellen no papel de Gandalf no Senhor dos Anéis.

Terry Bogard Garou version

Rock,por ser “aprendiz” do Terry e filho do Geese, terá uma mescla dos golpes do papi com golpes consagrados do Bogard – como o Rage Run, que é o golpe Power Dunk do Terry Bogard com efeitos de magia roxa do pai; o Hard Edge, que é o golpe Burn Knuckle do Terry, só que dado com o cotovelo, em vez do punho. Além disso, ele tem dois fatais: o Raging Storm, que é o mesmo fatal do Geese, e o Shine Knuckle, quase igual ao fatal do Terry, só que sem a finalização. Ou seja, o moleque é um amálgama dos dois lutadores.

Raging Storm
A magia de Geese, Raging Storm, em toda a sua fúria

Apesar do que alguns críticos dizem, não acho que ele seja sem carisma ou rumo. Simplesmente não houve tempo pra desenvolver o lutador, já que a SNK acabou pedindo as contas pouco tempo depois, tornando impossível a continuação do jogo pela empresa. Rock parece ter adquirido um pouco o modo de vida do Terry Bogard, ou seja, uma pessoa pra quem o mais importante é refinar suas técnicas de luta.

Aliás, a questão da continuidade era essencial nos jogos da SNK. Conforme a aceitação dos personagens, eles iam adquirindo mais dimensão e personalidade. A continuidade era tão importante nesses jogos que foi patente na criação de vários personagens. Kim Dong Hwan e Kim Jae Hoon são filhos de Kim Kaphwan, o grande lutador de Taekwondo da franquia Fatal Fury, e que também teve times de muito sucesso na série King of Fighters. Marco Rodriguez (Khushnood Butt, na versão norte-americana), é um lutador de Karatê Kyokugenryu, estilo criado por Takuma Sakazaki e é discípulo de Ryo Sakazaki. Hokutomaru é um moleque ninja, pertencente ao clã Shiranui e discípulo de Andy Bogard, irmão de Terry.

Filhotes de Kim
Os filhos do Kim Kaphwan. Aliás, os dois vinham fazendo aparições desde o Real Bout Fatal Fury. No começo das partidas e no final, eles apareciam, pequenininhos e já de kimono, papai Kim fazia um carinho neles, e eles saíam correndo…
Aprendendo desde cedo os caminhos da porradaria ninja…
Lá vem o negão, cheio de paixão, te porrar, te porrar, te porrar…

Portanto, como a SNK fez na série The King of Fighters, a ideia era ter uma sucessão histórica de lutadores, criando novas gerações de personagens e mantendo uma continuidade indireta com os grandes personagens dos jogos passados, através de seus descendentes. Uma ideia muito interessante, a qual, infelizmente, não conseguimos ver a continuação. Mas, se seguirmos a linha-mestra de conduta da empresa, podemos ver possibilidades.

As franquias Art of Fighting e Fatal Fury, foram tendo as suas sequências de jogos passadas ao longo dos anos. Dessa maneira, personagens consolidados em Fatal Fury 2 e Art of Fighting 2 foram abandonados em Fatal Fury 3 e Art of Fighting 3, para virem, no caso da franquia Fatal Fury, a pedido popular, nas edições ‘Special’ dos games (Fatal Fury Special e Real Bout Fatal Fury Special, por exemplo). Com isso, a empresa ganhava dinheiro dobrado, com os novos jogos e com suas reedições com personagens antigos.

O mesmo aconteceria com Garou. Em um hipotético Garou 2, veríamos os mesmos personagens, mais alguns consagrados da série Fatal Fury. Provavelmente Mai Shiranui, Andy Bogard, Joe Higashi, Kim Kaphwan e Ryo Sakazaki (que não deixa de ser um personagem da série, pois aparece como lutador escondido em Fatal Fury Special), voltariam totalmente reformulados, mas com possibilidade de usar o visual antigo através de algum código secreto ou sistema de premiação. A jogabilidade seria refinada, com mudança do timing dos golpes, defesas e magias, e possível acréscimo de novas magias. Além disso, poderíamos pensar em novos links com a série Art of Fighting já que esta deixara, no final de alguns dos seus personagens, deixas pra que novos crossovers fossem feitos.

Enfim, o universo dos jogos de luta da SNK era muito interessante e, infelizmente, tudo que é bom dura pouco. A coisa boa é que os jogos ainda estão aí, até hoje, pra serem jogados e rejogados, pois, como qualquer jogo de SNK que se preste, não perde a graça de sua jogabilidade nem com o passar do tempo.

Colossus de Cyttorak

Detentor dos segredos da Mãe-Rússia, fã incondicional de jogos da antiga SNK (antes de virar esse arremedo, chamado SNK Playmore), e da Konami, Piotr Nikolaievitch Rasputin Campello parte em busca daquilo que nenhum membro da antiga URSS poderia ter - conhecimento do mundo ocidental. Nessa nova vida, que já conta com três décadas de aventuras, Colossus de Cyttorak já aprendeu uma coisa - não se deve misturar Sucrilhos com vodka, nunca!!!!

Este post tem 18 comentários

  1. MaxRicardi

    nunca consegui jogar esse jogo, só via nos fliperamas
    parece muito foda

    1. Não só parece como realmente é, Max. Na verdade, acho que é O grande jogo de luta da SNK. Mostra como iriam as tendências porradeiras, vindas das experiências das franquias Fatal Fury e Art of Fighting…

  2. toddy

    O Ryo era lutador secreto no Fatal Fury? essa é nova pra mim! e semprei achei o Rock um personagem muito maneiro e a historia dele com o Terry, também é muito legal! ótimo post! valeu

    1. Ryo era lutador secreto do Fatal Fury Special. Pode colocar no google images que tu vai ver até fotos dele, no estilo Fatal Fury. Se não me engano, tinha que ganhar todos os lutadores sem perder nenhum round, ou coisa parecida.

        1. Se eu não me engano, nessa época, era a mesma equipe de programadores que se dividia em duas subequipes e trabalhava paralelamente nas duas franquias, Toddy. Então, eles ficavam copiando e colando as ideias de um jogo no outro, e vice-versa. hahhahaah

          1. toddy

            Então resumindo! era um puto puteiro do caralho!

          2. Colossus de Cyttorak

            HAHAAHHAHA! ERA! MAS ERA UM BACANAL DIVERTIDO. HAAHAHSAHDFHAFH

      1. Vilipendiador Unperucked

        Exatamente isso. Inclusive eu me viciei tanto em FFS que a graça era chegar no Ryo com o maximo de personagens possiveis.
        E ele era ladrão pra caceta. O “shoryuken” dele pegava varias vezes.
        É possivel jogar com o Ryo no emulador (por meio de cheats) e na versão do SNES (por algum comando que não me lembro) mas perde bastante a graça. Além dele ser bem forte o computador parece ser “acovardar”. Se você soltar apenas magia ganha todos os rounds de perfect.

        1. Cara, o Ryo era um personagem tão extra e tão atípico que a inteligência artificial do próprio jogo não sabia como contra-atacar quando a gente jogava com ele. Por isso era tão fácil ganhar dos outros com o Ryo. Além disso, acho que a melhor versão dele nos Fatal Fury definitivamente era a do Neo Geo.

          Abraços!

  3. Luciano Gardner

    Esse jogo é uma grande obra prima já feita, tanto em gráficos(tanto é que a SNK utilizou essa engine gráfica em KOF 2000), quanto em história, que respeitou a continuidade do universo de Fatal Fury, mostrando a linhagem de certos personagens, e outros interligados com outros conhecidos! Uma pena a SNK nos ter deixado orfãos e não termos visto uma continuação desse jogo que ia causar uma reviravolta, pois traria Terry de volta como o principal, ja que no final de Rocky se especula que ele deixou Kain lhe mostrar tudo o que ele poderia ter tido! É sempre bom comentar aqui nos posts sobre a melhor empresa de Fighting games que já existiu!

    1. Quanto à história, com certeza, em um Garou 2, Terry e Rock voltariam e teriam novos problemas com Kain. Nem lembrava que a engine gráfica do Garou tinha sido usada no KOF 2000, você tem razão! A diferença é que me parece que a equipe responsável pelo KOF teve dificuldades em adaptar a engine gráfica à jogabilidade KOF, já que o KOF 2000 não tem a melhor das jogabilidades…

      Muito obrigado pela leitura dos posts!

  4. Senhor Suíno "Suínomito"

    Melhor jogo de luta existente. Nenhum outro consegue ao mesmo tempo ser tão suave e tão impactante. É como uma dança.
    E a SNK chegou a produzir mais de 70% da sequência na placa Atomiswave, mas sabe-se lá por que, o jogo nunca saiu. Dos personagens que voltariam só o Andy foi mencionado por um dos produtores. E teríamos um discípulo do Joe Higashi.

    1. Cara, não sabia disso!!! Quer dizer que o jogo já tava em fase de produção adiantada! Mais uma razão pra eu sentir muita tristeza por ele não ter saído. Acredito que, além do Andy, que você falou, ainda teríamos boas surpresas, como os personagens que mencionei no post. Ou melhor, talvez tivéssemos alguns poucos veteranos na segunda edição, e um Battle Royale, com a grande maioria dos veteranos mais queridos e toda a nova geração num possível Garou: Mark of The Wolves Special.

      Você definiu o jogo de maneira brilhante: realmente, é como uma dança. Os movimentos de todos os personagens (até os escrotos, como o Tizoc) são extremamente graciosos, fluidos e naturais. A jogabilidade é marcante. Simplesmente, é um game muito agradável de se jogar…

      Grande abraço e obrigado pela leitura!

  5. Endrews

    Esse jogo realmente é lindo. Foi meu primeiro jogo de luta, depois de 3 anos jogando online pelo emulador GGPO, conssegui dominar mto bem o game. Graficos excelentes,cores fortes,perssonagens estilosos,musicas,cenarios,dublagem.Foi o melhor game que a SNK produziu na época sem duvidas.

    1. Uma das coisas que chamaram muito minha atenção nesse jogo foi o design das magias. Os programadores da SNK conseguiram desenvolver um estilo que é ao mesmo tempo cartunesco, meio anime e sem ser excessivo. As magias são grandes, mas não são cheias de macaqueações e excessos de animação. É tudo perfeito.

      A única coisa que não gosto, é que esse é o único jogo que gosto de jogar com o Rock Howard. O Rock Howard, nos outros jogos (King of Fighters, SNK Battle Coliseum, etc), ficou com a jogabilidade extremamente prejudicada, e eu sinceramente não sei por quê. Só sei que os tempos dos golpes e magias desse lutador só funcionam perfeitamente (minha opinião) no Mark of The Wolves…

      Obrigado pela leitura do Post!!!

Deixe um comentário