Ilumidicas: Brutalize, o Queremos Heterossexual

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Crowndfunding é um termo que está na moda no momento. Este “financiamento pela multidão” é uma modalidade de arrecadação de recursos bastante popular no entretenimento atualmente e se trata da apresentação de um projeto, geralmente um produto cultural – show, peça de teatro, filme, história em quadrinhos, disco etc. –, que se realizará caso se angarie fundos suficientes num determinado período de tempo. Esse é um potente exemplo de entretenimento por demanda, no qual você não só paga exatamente pelo que quer ver como pode receber seu dinheiro de volta (em alguns casos, ou então pelo menos brindes e/ou ofertas exclusivos). Como falei no último post, o promissor Zero Charisma foi realizado através desse tipo de iniciativa.

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A exemplo do filme nerd sensação (pelo menos eu espero que seja) que se utilizou da plataforma IndieGoGo, a principal forma de realizadores e o público se “encontrarem” é através das páginas virtuais dedicadas ao ramo. Nos States, a coisa tem dado tão certo que vem se tornando uma opção real a grande indústria, dando mais liberdade criativa e poder de decisão aos artistas (e, claro, ao público). Para se ter uma ideia, a cantora Amanda Palmer é uma das recordistas em arrecadação até o momento, com US$ 1,2 milhões, tendo custeado seu último álbum pelo processo. Além dela, o roteirista e diretor Charlie Kaufman também já emplacou projetos pelo método, assim como o diretor do longa Veronica Mars, Rob Thomas, e diversos outros na área de games e celulares. Essa também é uma saída muito procurada, sobretudo, pela indústria de quadrinhos (aqui e lá fora), que tenta emplacar um projeto autoral fora das grandes editoras – no caso dos quadrinistas já conhecidos – ou apenas ter seu trabalho publicado pela primeira vez e entrar no mercado.

Na lista de plataformas ainda temos Kickstarter, Catarse e, na ceara do financiamento de shows, o brasileiro (e carioca, acho) Queremos. Esta última nos interessa porque a América Latina, em especial o Brasil – com suas dimensões continentais e mercado musical interno consolidado – sofre com a escassez de espetáculos estrangeiros (de todos os ritmos), que quando vem ao país são muito caros por conta de logística, relativamente pouca procura, falta de público cativo etc. (isso sem contar os problemas práticos com produtores inexperientes e/ou despreparados, locais sem estrutura, ou quando tem isso tudo, as produtoras malandras/mau intencionadas que se aproveitam desse cenário pra lucrar muito acima do que seria considerado “justo”. Vide diretoria do Flamengo e o recente caso dos ingressos da Copa do Brasil). Dessa forma, não é raro um determinado cantor ou conjunto se apresentar em terras de nossos hermanos chilenos e argentinos e nem sequer cogitar a possibilidade de aportar por aqui.

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Neste sentido, o Queremos apareceu como uma esperada maneira de revitalizar o cenário cultural da cidade (o Rio), num primeiro momento, e do país, em sua fase atual. Como fãs em primeiro lugar, eles parecem entender o intricado casamento entre público, artista, casas de espetáculo (escolher o local ideal pode ser tão importante quanto conseguir trazer os gringos), divulgação, entre outros fatores. O único problema é que em termos de estilo, o Queremos está claramente direcionado ao público hipster indie e sua música água com açúcar, depressiva e/ou eletrodançantezinhapseudorockdubstep, que até tem seus momentos (confesso que gosto de uma, duas ou três bandas), mas que exclui boa parte dos consumidores de música que ainda fica órfã esperando por um som um pouco menos aviadado blasé.

Evidentemente, a situação deles era mais periclitante. Afinal, as grandes bandas de rock e metal preferidas da galera como Iron Maiden, Metallica, Ozzy Osborn, Dream Theater, Korn, Red Hot Chili Peppers, Slipknot, e tantas outras, ocasionalmente aparecem por aqui e já incluem o Brasil na rota obrigatória de suas turnês – mesmo as consideradas de médio porte passam pelo menos por São Paulo (como meu amado e idolatrado Rammstein em 2010). Contudo, quando se é fã daquele grupo independente formado em uma cidadezinha do interior de Wisconsin ou de uma banda de garagem dos subúrbios de Williamsburg em Nova York, é meio difícil, por motivos óbvios, fazer os caras virem aqui.

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No entanto, em se tratando do Rio de Janeiro, ainda assim é muito difícil concorrer com samba, pagode e funk e todos os ritmos mais calientes (e, portanto, mais favoráveis a pegação) que têm um público certo, motivo pelo qual precisava surgir, da mesma forma que o Queremos foi pra galerinha da camisa xadrez, alguém que representasse as carências do metaleiro carioca. Lançado este mês, o Brutalize promete ser a solução definitiva para os problemas de agenda e disponibilidade no quesito do bonde do som pesado.

Fiquei sabendo do projeto na fila do show do Black Sabbath na Apoteose, e meu fosquete já ficou piscando de alegria. Na ocasião, inclusive, fui informado de que haveria o show de outra banda que muito me alegra, os suecos loucos do Messhuggah, em São Paulo, no irônico Carioca Club de lá (que também já trouxe DragonForce esse ano, se não me engano), que não viria pra cidade maravilhosa. Ou seja, há duas deficiências a serem sanadas, a primeira é fazer as bandas que já vem ao Brasil passarem pelo Rio e a segunda é a falta de shows de bandas menos mainstream no país como um todo – e o foco do Brutalize não necessariamente se resume ao Rio, tendo um potencial nacional, caso seus desenvolvedores saibam utilizá-lo, claro.

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Para quem quiser conferir, o site já está no ar: https://brutalize.com.br/. Embora aparentemente não tenha ocorrido um lançamento oficial com toda a pompa e circunstância, eles também contam com uma página no Facebook (com irrisórios 22 membros da última vez que vi). Como fã, ~~~jornalista cultural ~~~, e carioca de gostos exóticos, achei que era meu dever cívico avisar, noticiar e publicizar essa iniciativa mais do que bem-vinda para o cenário cultural da cidade, e, caso eles bombem e abram um escritório em Nova York, também não vou me importar de receber uns ingressos 0800…rs

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

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