Iluminamos: 20th Century Boys – Magnum Opus

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Para aqueles que não são versados no bom latim (ou não são hipsters), o termo Magnum Opus pode parecer um pouco estranho (embora seja praticamente autoexplicativo). Traduzido livremente para o português, o termo significa “grande obra”, mas na crítica musical (e demais sessões abaitoladas do Jornalismo) tem o sentido de “Obra Máxima”, ou melhor dizendo, “A Obra Máxima”.

No caso do mangaká Naoki Urasawa, 20th Century Boys é essa obra. Ganhador de inúmeros prêmios não só no Japão, mas também por aqui no Ocidente (como Prêmio de melhor série no tradicionalíssimo Angoulême, na França, e o Eisner Award, nos EUA), era de se estranhar que a qualidade praticamente indiscutível do mangá não o fizesse ter sido lançado antes no Brasil.

Mesmo com os problemas que todo mundo conhece no mercado editorial brasileiro, pode se dizer que, em termos de mangás, já estamos vivendo numa fase relativamente estável/boa há alguns anos (tanto que este ano todos os tankoubon aumentaram de preço. Na Panini, começou a Era do R$ 10,90 e, na JBC, escalafobéticos R$ 11,90. “Seus Careiros!”, como diria Blu da “Mansão Foster…”). Então, qual era desculpa para não publicar o (um dos) melhor (es) mangá (s) lançado (s) nos últimos 15 anos? Provavelmente a mesma que impede a compilação de Akira, o melhor mangá lançado nos últimos 30 (e de apenas SEIS volumes, FIKDIK, manolos!).

Aliás, os dois títulos possuem muito em comum, são dois seinen bastante complexos (e um tanto quanto herméticos) que embora sejam dotados de notória qualidade editorial, eram sistematicamente deixados de lado pela indústria de quadrinhos brasileira. Pelo menos, até agora…

Lançado pela Panini no mês passado, 20th Century Boys faz sua primeira aparição em terras tupiniquins sem muita pompa ou circunstância, poucos meses após a republicação de Monster, mangá de Urasawa mais conhecido por aqui através da  empreitada fracassada da Conrad. A meu ver, a capa da versão nacional é honesta, mas passa um pouco ao largo da estética da edição norte-americana, embora não possa ser considerada feia.

Made in Brasil

De maneira geral, é uma edição simples se pensarmos no conteúdo que se tem em mãos (e na espera dos fãs). Porém, tudo é justificado do ponto de vista comercial, afinal não se sabe como vai se comportar o público consumidor. Em sua grande maioria ávidos compradores dos shounen de batalha, via de regra eles cagam pra estes mangás mais alternativos. Ou seja, tudo pode ir por água abaixo (por isso, o motivo deste post é fazer a galera comprar o mangá para que eu possa ter a coleção completa – os 22 volumes – em casa).

Made in USA

Frescurites sobre acabamento à parte (é muita via(da)gem pedir por uma edição de luxo para a primeira aparição de um mangá?!), a narrativa e arte de Urasawa estão mais do que bem representados no encadernado brasileiro, prendendo o leitor já a partir das páginas iniciais. Na trama, um grupo de amigos de infância, já na casa dos 30, começa a rememorar os eventos de sua mocidade a procura de pistas sobre um misterioso grupo/culto, cuja figura central se chama “Amigo”, que utiliza um símbolo criado por eles na época de escola. Neste primeiro volume, somos apresentados aos típicos amigos de bairro, Kenji, o protagonista de facto, Masuo e Yushitsune – o núcleo duro do grupo – e os agregados Keroyon, o cara de sapo, Mon-chan, Otcho e Donki (grafia da versão brasileira para Donkey seguindo a pronúncia correta do nome em inglês).

Em sua narrativa não-linear, Urasawa intercala acontecimentos das décadas de 1960/1970, como a formação do clube e das novas amizades, como é o caso do ‘novato’ Donki, com os fatos do “presente”, já no final da década de 1990, na qual os meninos se tornaram homens e, precisam lidar com problemas cotidianos como casamento, profissão, criação dos filhos (mesmo postiços) etc. Em meio a esse cenário, os mistérios da trama começam a tomar forma: o surgimento de um culto secreto, assassinatos sem explicação, a inesperada morte de um deles e a aparente ligação de tudo isso com algo do passado dos amigos que ninguém se lembra ao certo o quê.

 Durante os 22 volumes que se seguem, Urasawa vai trabalhando o terreno para o conflito final e, a julgar por essa primeira edição, seu estilo de narrativa bastante detalhista – delineando muito delicadamente o caráter dos personagens e construindo precisamente o encadeamento dos acontecimentos de forma a cada capítulo ser mais interessante que o outro, fazendo com que o leitor fique em conflito entre ler avidamente a história ou “se deliciar” com os meandros da personalidade de cada um –, justifica o sucesso (e o reconhecimento) estrondoso de 20th Century Boys, principalmente fora da cena otaku.

A arte do mangá também não passa despercebida. Além dela casar perfeitamente com a narrativa, ela tem certo ar retro, se aproximando mais do traço de autores como Go Nagai, Takao Saito e do próprio Katsuhiro Otomo, de Akira, do que de outras obras do final da década 1990/anos 2000. Cabe ressaltar que Urasawa nasceu em 1960 e lançou seu primeiro trabalho, Return, em 1981, ou seja, ele, de fato, é contemporâneo de Otomo, nascido em 1954 e que publicou Akira a partir de 1982.

Euforia, espanto, perplexidade,curiosidade e embaraço, tudo num mesmo painel

Em 20th Century Boys, os desenhos de Urasawa conferem uma legitimidade muito acertada à trama, contribuindo para a criação do sentimento de nostalgia presente em toda obra (até eu, que não fui de brincar na rua e também nunca fiz parte de um grupo como este, fui afetado pela atmosfera do mangá). Além disso, como o texto se vale quase exclusivamente de diálogos como propulsores da ação, a forma que o mangaká encontrou para retratar seus personagens, trabalhando suas feições e caracterização, os dota de uma expressividade assombrosa, mesmo para uma arte mais figurativa, tornando-os bastante comunicativos e, acima de tudo, capazes de passar emoções diretamente para o leitor (só eu chorei umas três vezes em momentos distintos lendo esse primeiro volume. Especialmente o capitulo 4, Toalha de meleca, apesar do que o nome possa sugerir).

Urasawa-sensei

Com o iminente fim de Homunculus (talvez tema de um próximo Iluminamos) e Gantz, assim como o longo hiato de MPD Psycho, a Panini ficou sem um thriller psicológico de peso para concorrer com a JBC, que relançou Evangelion (e recentemente alcançou a versão japonesa). Sendo assim, a aposta tanto em 20th Century Boys quanto em Monster, ambos de Urasawa, veio em boa hora para suprir a demanda do público ávido por esse tipo de seinen (diga-se de passagem, eu). Só espero que o restante da Nação Otaku (apelidada carinhosamente de NOku) embarque nessa e faça com que, o gênero cresça em popularidade no país, revertendo esse prognóstico de apenas um ou dois títulos por ano. Dessa forma, só verei Akira de novo por aqui em 2014/15 (pela Panini) ou então se outra editora pegar antes. ALOOOU JBC!!! (só não vale traduzir tudo escrotamente com gírias e, PRINCIPALMENTE, BORDÕES  atuais. Pensando bem, é melhor esperar a Panini)

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 15 comentários

  1. Mawa

    Um dos dois melhores mangás hoje nas bancas brasileiras. O outro é Monster, que também é do Naoki Urasawa.

  2. Marianna Salles Falcão

    Fiquei positivamente surpresa com esse mangá, que comprei sem saber muito da história além do fato de que era um dos grandes clássicos modernos dos quadrinhos japoneses. É ótimo quando a gente percebe que nem sempre o que é colocado num pedestal está lá sem um motivo compreensível [/traumatizadaportervistorecentementeachaticequeéADoceVida]; a história extremamente bem construída que mesmo com suas idas e vindas no tempo não fica confusa (apesar de levantar vários questionamentos), os personagens carismáticos, tudo contribuiu pra fazer ler 20th Century Boys mais uma daquelas experiências em que sinto orgulho de ser fã de quadrinhos (porque ficar difícil dizer isso com algumas coisas que vemos nas bancas….). Que cheguem logo as 22 edições =)

    1. Churrumino

      É impressão minha ou o seu avatar é o Robin faxineiro? huahuahuhauhauhauhuahuhahau!!!!

        1. Churrumino

          Quem diria…BdE fazendo escola. huahuauhauhuahuhauha!!!

          1. JJota

            BdE fazendo escola? Dadá tá trabalhando de pedreiro pra alguma secretaria da educação de alguma pobre prefeitura?

          2. JJota

            HA!HA!HA!HA!HA!HA!HA!

          3. Rosinha

            huahauhauhauhauahauhua

  3. Vintersorg

    maneiro.
    Comprei a primeira edição e achei bem legal mesmo.
    Vou correr atrás de Monster para ler também.

    1. José Messias

      Homunculus é muito interessante por ser meio nonsense. É a história de cara, um mentiroso compulsivo, que vive como mendigo e aceita participar de uma experiência médica de trepanação, perfuração do crânio. A partir daí ele passa a ver os homunculus que seriam representações visuais do “interior”/inconsciente/whatever dessas pessoas e faz algumas “intervenções” (psicanaliticas mesmo) em pessoas especificas que teriam problemas.
      Depois disso a história se volta pra ele, pq ele vive como mendigo apesar de ter sido um executivo bem-sucedido e qual a história do passado dele e da cirurgia plástica que ele fez. Cara, é genial, é uma história bem introspectiva, mas muito forte. Fala de economia, psicanalise, medicina, culto a beleza, rejeição. Tudo de melhor e pior da cultura japonesa contemporanea

      1. Vintersorg

        legal. Eu quase comprei quando começou a sair por aqui mas deixei quieto.
        Gantz eu aguentei até o 10º volume e depois parei.
        Lenga lenga que não sai do lugar.
        Em que número termina?

        1. José Messias

          Pensei que tivesse acabado, mas ainda nada. Está no arco final, que atualmente tá no volume 35, ou seja, deve acabar perto do 40

          1. Churrumino

            Gantz já tá no arco final há 2 anos. hauauhauuahu!!! Já nem me importo mais. Eu quero estar vivo pra ver o fim de Berserk.

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