Iluminamos: A Fundação

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Fala galera que já está em ritmo de fim de ano, hoje, para encerrar as resenhas literárias de 2013, escolhi especialmente o clássico dos clássicos da Ficção Científica. Não! Eu não escolhi O Guia do Mochileiro das Galáxias, seu herege, mas sim A Fundação, do mestre Asimov!

fundacao_asimovSinopse: O Império Galático possui 12 mil anos. Ele possui pujança, grandeza e estabilidade, ao menos em sua fachada. Na verdade, ele está em pleno declínio, mesmo que lento e gradual. Hari Seldom, um grande cientista em seu tempo, através da matemática, associada à psico-história, previu o declínio do Império Galático e a perda de todo conhecimento humano, o que culminaria numa regressão violenta da sociedade. Com o objetivo de criar uma Enciclopédia que guardasse a história da humanidade, Hari Seldom convoca cem mil cientistas para se mudarem para outro planeta e fundarem uma sociedade voltada ao conhecimento, e assim, controlar as crises de modo a reduzir os anos de barbárie à desolar a galáxia.

Vencedor do prêmio Hugo, como a melhor série de Ficção Científica de todos os tempos, este é o livro inicial da Trilogia da Fundação.

Antes de mais nada, a despeito de início ter lido-o apenas pelo fato do mesmo ser datado como a maior obra de ficção de todos os tempos, superando O Senhor dos Anéis no Hugo Awards, afirmo com toda a convicção que ler Asimov foi uma das experiências mais gratificantes que tive. Foi extremamente prazeroso ver pela primeira vez heróis reais, que, acima de homens de coragem, são políticos em vez de guerreiros, fazendo de seus lemas frases como:

“A violência é o último refúgio do incompetente”

“Nunca deixe seu senso moral impedir você de fazer o que é certo!”

Escrita entre 1942 e 1953, e um dos maiores clássicos da ficção científica até hoje, A Fundação se destaca pela humanidade de seus personagens, além, é claro, das diversas teorias científicas e sociológicas que permeiam a estória, em especial, a evolução histórico-social ou o próprio materialismo histórico. Nesta ficção chamada de psico-história, criada por Hari Seldom.

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E o que seria esta psico-história? Como representado na obra, trata-se de uma ciência formulada sobre os fenômenos sociais de um ponto de vista coletivo, adotando princípios filosóficos de indução e as ferramentas da estatística. Para aqueles que ainda não leram a obra, pode até parecer uma viagem ou mera ficção, contudo, nada mais é do que a apreensão dos fatos já ocorridos em eras passadas, que servem como um suporte metodológico para a indução do caminho de certa sociedade, assim como suas crises. Deste modo, quanto maior a população envolvida, e menor a quantidade de tempo da previsão, mais precisa ela se torna. Hoje em dia podemos ver algo parecido usado na economia, seria a teoria de suas crises cíclicas, vista na obra Economia Política de Netto/Braz. Deste modo, Asimov se utiliza do processo evolutivo das ciências naturais para as sociais, porém, o faz a partir de uma nova ciência que alia História e Matemática.

Tenho certeza que depois de ler esta parte, muitos de vocês se perguntaram: “-Beleza, mas por que eu leria uma merda dessas? Já cansei de estudar economia política e história, tanto na faculdade, como no decorrer da minha vida estudantil, então, por que no meu momento de lazer, ‘estudaria por tabela?'”

Porque, a partir desta premissa, podemos reparar o quanto a analogia a nossa própria história está presente e ainda ter o prazer de vivenciar a mentalidade de cada um dos heróis que, facilmente desintegrados por armas laser, em diversas épocas lutam como podem  trabalhando pela Fundação.

No mais, este primeiro volume da trilogia é a melhor maneira para que possamos exercitar o cérebro para os detalhes da história da própria humanidade. Em primeiro lugar, ao compararmos a queda do Império progenitor da Fundação com o Declínio e Queda do Império Romano rapidamente encontramos outras analogias, como a institucionalização da fé como mecanismo de dominação de massas,  e do próprio mercantilismo, além, é claro, de uma possível menção ao Nazismo, quanto a concepção de uma raça superior de humanos para governar a galáxia. Então, meu caro companheiro, para você que gosta de história e estórias, Asimov nos presenteia com um choque de realidade naquela que viria ser uma das principais inspirações para o clássico Star Wars!

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Dito isso, assumo que à primeira vista estes são temas bem paradoxais, no entanto, basta ver a ficção científica como mero pano de fundo – o que deu origem aos filmes-, e focar-se tão somente na principal característica deste primeiro livro, que nada mais é do que as relações sociais para com a relação de poder.

Para os que tem preguiça, é um livro pequeno (pouco mais de 200 páginas) e a cada capítulo podem ocorrer variações temporais de um relativamente longo período de tempo. Ou seja, cada evento é de certa forma independente e com personagens totalmente diferentes, o que, em certas ocasiões, além de criar expectativas, infelizmente, não nos deixa criar muita empatia com os personagens, o que expõe de maneira didática o quão o homem é ínfimo em comparação a seus feitos. Por fim, é correto afirmar que a obra é um estudo histórico-político-social da humanidade, ensinando, de maneira didática e repleta de ação, que a expansão religiosa e comercial pode ser mais letal do que qualquer exército já existente.

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Obs: Esta space opera inspirou Paul Krugman que, buscando ser um psico-historiador, seguiu a carreira mais próxima a seu ver, a de economista, que anos mais tarde o levaria a receber o Prêmio Nobel de Economia.

 

Don Vitto

Escritor, acadêmico e mafioso nas horas vagas... Nascido no Rio de Janeiro, desde novo tivera contato com a realidade das grandes metrópoles brasileiras, e pelo mesmo motivo, embrenhado no submundo carioca dedica boa parte de seu tempo a explanar tudo que acontece por debaixo dos panos.

Este post tem um comentário

  1. Asimov é rei. Apesar de não ter lido essa trilogia, já li Eu, Robô e a Série dos Robôs, e não tem como: o cara é um dos fundadores do que entendemos como Ficção Científica moderna. Ele foi um dos primeiros a entender, assim como Arthur Clarke, que a Ficção Científica é um meio para discutir a realidade social/cultural/científica, e não um fim em si mesmo. Por isso, escreveu coisas memoráveis.

    Excelente resenha. Vou ler essa série, assim que possível.

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