Assisti ao primeiro Anjos da Lei no Netflix sem expectativa nenhuma. Esperava mais uma refilmagem pasteurizada idiota de seriados dos anos 80 que fizeram sucesso. Terminei o filme surpreso, com o estômago doendo, de tanto rir, e aguardando uma já anunciada continuação.
Pois é, a continuação veio. E boa pra caramba, pessoal. Anjos da Lei 2 continua a premissa do primeiro filme (que era a mesma do seriado original): policiais com cara de novinhos que se infiltram em escolas e faculdades pra desbaratar gangues traficantes de drogas. Enquanto no primeiro filme eles se infiltraram em uma escola, nesta segunda edição nossos protagonistas vão se infiltrar numa faculdade, para tentar descobrir mais sobre um obscuro e misterioso traficante de uma nova droga experimental.
O que poderia seguir a tradição das continuações, que acabam fazendo um mais do mesmo chato (quando muito, que não envergonha seu antecessor) acaba sendo uma surpresa e tanto. O filme tem ainda mais ritmo que o primeiro; não se leva a sério; inclusive sacaneia a si mesmo em inúmeras ocasiões e os vários clichês dos filmes policiais de ação. É um filme despretensioso, engraçado e com ritmo, muito ritmo.
Conduzido pela mesma equipe do primeiro filme, esta segunda edição melhora ainda mais no tempo das piadas, e se aproveita do timing de comédia que os atores principais aprimoraram. Chaning Tatum e Jonah Hill realmente parecem grandes amigos, e não têm nenhum medo de se passar por ridículos, ou de rir de si mesmos. Não há nada mais engraçado que ver um grandalhão como o Chaning Tatum (que tem todo o porte do galã convencional), fazendo danças totalmente dessincronizadas ou caras e caretas. Além disso, o elenco de apoio é afinadíssimo.
Sem dar spoilers (se é que alguém ainda não viu esse filme), há duas grandes sequências nesse filme: a primeira é quando os dois policiais acabam usando (acidentalmente) a droga experimental. A experiência é ao mesmo tempo uma engraçada viagem de LSD e uma brincadeira intertextual com o formato do filme e com a sua própria linguagem, a edição. Simplesmente genial. A segunda sequência é justamente a final, dos créditos, que mostra “cartazes” e supostos “materiais promocionais” extremamente bem feitos, das possíveis 20 ou 30 sequências de Anjos da Lei 2, uma mais insólita que a outra.
O filme tem algumas falhas no roteiro. A principal delas: a descoberta de que o novo interesse amoroso do personagem de Jonah Hill é a filha do chefe (o negão ditador estereotipado ao extremo, interpretado por Ice Cube). Infelizmente, essa subtrama, que poderia render mais momentos desconfortáveis e extremamente engraçados, acaba não sendo levada a contento e é abandonada. Só volta a ser brevíssimamente mencionada nos minutos finais, tornando toda a subtrama dispensável e gratuita. No fim, fica a ideia de que os diretores e roteiristas deram mais espaço à ação e a outros elementos. Apesar disso, digo que sim, o filme é imperdível e engraçadíssimo! Cheio de referências à cultura pop, tirando sarro de tudo, até do conceito de bromance, cenas de ação engraçadas e exageradas sem serem idiotas. O grande barato desse filme é que ele é praticamente uma autocrítica elevada à enésima potência, sacaneando inclusive o próprio conceito de repetição.