Iluminamos: Close to the Edge (Yes) – No reino da lisergia

Yes-closeAntes de curtir metal ou até antes mesmo de saber o que era rock’n’roll eu já conhecia Yes. O curioso é que eu não sabia que conhecia Yes. Aliás, esse deve ser o caso de muitos “novos rockeiros” que se criaram da década de 90 pra cá.  Acontece que a banda inglesa, que integra a Santíssima Trindade do progressivo ao lado de Pink Floyd e Genesis (embora isso não seja uma unanimidade, claro. Não precisam me xingar!), ficou conhecida comercialmente por Owner of a Lonely Heart, um single mela cueca dos anos 80 que provavelmente TODO O MUNDO OCIDENTAL já ouviu ao menos uma vez nas rádios, em algum comercial, na trilha de algum filme ou até NA P@%# DO GTA: VICE CITY!

http://www.youtube.com/watch?v=w9goxeGdxi8

                           Já atropelei muita gente ao som de Yes e não sabia...rs

No entanto, antes de serem os autores dessa canção (para mim) insuportável, os caras eram um dos maiores ícones do rock progressivo e criavam álbuns tão interessantes quanto viajantes. Embora, a priori, eu esteja ainda conhecendo o trabalho de mais de QUARENTA ANOS da banda, o referido Close to the Edge me marcou de tal forma que tive que escrever umas linhas sobre ele.

Composto de apenas três músicas, Close to the Edge atualmente é considerado um dos marcos do gênero, rivalizando com o Dark Side of the Moon (Pink Floyd), Scenes from a Memory (Dream Theater), 2112 (Rush), entre outros, pelo título de melhor álbum de progressivo de todos os tempos. Nele, o quinteto formado, na época, por Jon Anderson (vocal), Steve Howe (guitarra), Chris Squire (baixo), Rick Wakeman (teclado) e Bill Bruford (bateria) desenvolveu uma obra de arte auditiva dotada de uma expressividade singular capaz de tocar até o mais fissurado headbanger (como eu).

yes-band
Sinceramente, tanta gente já fez parte do Yes e essa foto é tão velha que nem sei se essa é a formação desse CD, nessa tá faltando o guitarrista Steve Howe. Esse baixinho da direita  é o Peter Banks.

Digo isso, pois, como trasheiro de coração, sempre torci o nariz para qualquer sonoridade que dependesse de ou utilizasse  um teclado. Simplesmente abomino o instrumento. Considero uma das coisas mais pau-no-cu enfadonhas de se ouvir misturado ao meu bom, velho e sujo rock’n’roll, “machando”, assim, a fina harmonia do Trio Supremo: guitarra, baixo e bateria. Dito isso, preciso dar o braço a torcer, pois Wakeman simplesmente destruiu todas as minhas idiossincrasias com esse álbum. Nunca vi (ou melhor, ouvi) um teclado tão bem executado e tão prazeroso de se escutar. É preciso ressaltar que o instrumento musical aqui não é um mero complemento, longe disso, está mais para um fio condutor que literalmente te carrega “através da canção”.

Basta ouvir essa apresentação ao vivo da canção Close to the Edge para ficar embasbacado com a habilidade dos caras e, principalmente, com o sentimento presente na música.

Não é algo do tipo, “olhe como somos bons”. Com o perdão da pieguice, é algo que sai do coração (ou das tripas, como gosto de dizer), é de cantar de olhinhos fechados. Eles botam pra fuder e ao mesmo tempo te levam para uma viagem espiritual. Essa introdução com o Howe e Patrick Moraz (substituto temporário do Wakeman), por exemplo, me dá arrepios (de verdade, não é força de expressão!) de tão épica, assim como o instrumental no meio da canção.

Fazendo jus ao movimento, as letras de Close to the Edge seguem bem a “cartilha” do estilo. A faixa-título é baseada num livro obscuro de um autor cabeçal, no caso, “Siddharta” de Herman Hesse, e lida com espiritualidade, autodescobrimento, e muitas, muitas, muitas metáforas e abstrações! “And You And I”, por sua vez, tem uma pegada mais romântica, embora esse “romance” seja temperado com os mesmos tons poéticos e psicodélicos do resto do disco. Por fim, Siberian Khatru é aquela faixa incompreensível em que os caras provavelmente não tinham nada pra dizer e começam a “chutar” improvisar palavras a esmo. Como pode ser visto por esse trecho:

Bluetail, tailfly, Luther, in time, Suntower, asking, Cover, lover, June cast, moon fast, As one changes, Heart gold, leaver, Soul mark, mover, Christian, changer, Called out, saviour, Moon gate, climber, Turn round, glider.

Perdoem-me se não traduzo a referida passagem, mas é simplesmente impossível para este humilde escritor passar o significado de termos escolhidos tão arbitrariamente e tão cheios de referências e que de certa maneira ainda possuem certa unidade. É aquela parada, mesmo colocando no Google Tradutor não vai fazer o menor sentido. Os caras do Yes deviam estar lokões de chouriço quando a escreveram (assim como o resto do CD).

Em pleno 2003, o Yes quebrando tudo antes da saída (aparentemente definitiva) de Jon Anderson – a voz mais fina do universo.

Enfim, o álbum é um prato cheio pra quem curte um progressivão, também conhecido como o lado mais gay do metal, e um trabalho obrigatório pra quem gosta de boa música e quer começar a curtir um gênero novo.

Para finalizar, fecho com esse clipe (fanmade, creio eu, mas não por isso menos lindo) da belíssima “And You And I”. As lágrimas começam a rolar já no violãozinho nos primeiros segundos.

A man conceived a moment’s answers to the dream

Staying the flowers daily sensing all the themes… (poesia pura!)

PS: Alguém mais com vontade de assistir Shurato?

Zé Messias

Jornalista não praticante, projeto de professor universitário, fraude e nerd em tempo integral cash advance online.

Este post tem 7 comentários

  1. toddy

    se eu gosto de yes? YES. e porra parece mesmo com o cenario de shurato! kra isso me fez lembrar quando eu estudava no colegio de freira em sao cristovão, no rio de janeiro! bons tempos

  2. Jonathan zzz

    Não que eu seja um grande conhecedor de metal, nem gosto do estiolo na verdade, mas não entendi a relação entre o rock progressivo e o lado gay do metal, ainda mais num gênero que temos coisas como o Power Metal uaheuhau

  3. Carlos Magno

    Cara aos 57 anos fico feliz em ver que ainda existe gente com conhecimento e gosto musical. Viajei e ainda viajo com o som do Yes. Música da melhor qualidade. A cada vez que ouço a Santíssima Trindade do progressivo tenho certeza de que eles não são do nosso planeta, ou são a reencarnação de algum gênio tipo Mozart.

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